Valor. O histórico é imensurável. É subjetivo. Mas existe. Que digam cidades turísticas como Ouro Preto, Congonhas, Sabará, Diamantina, Paracatu e até Estrela do Sul, por exemplo. Porém, Patrocínio, que tem 250 anos de fundação e 180 anos como município (completa em abril próximo), pouca coisa tem para demonstrar o seu rico e magistral passado. Ao longo dos anos, maravilhosas construções foram perdendo espaços para construções tidas como “modernas” ou até para lotes “vagos”. Total insensibilidade cultural. Total desprezo a terra natal.

PRIMEIROS ANOS DE VIDA NENHUM REGISTRO – A Fazenda Bromado do Pavões (a principal da Picada de Goiás), o Quilombo da Pernaíba, onde o poderoso Rei Ambrósio teria morrido (provável promotor/incentivador do dialeto Calunga), a primeira capela de Nossa Senhora do Patrocínio, enfim, tantos marcos do tempo da criação de Patrocínio em que não há nada, nada mesmo, sobre eles.

VÉSPERA DA EMANCIPAÇÃO, POUCA COISA HÁ – No tempo da Independência do Brasil, anos iniciais do Império, existem escritos de cientistas e naturalistas que visitaram à região. Tais como o francês Auguste Saint Hilaire, o médico de Praga Johann Emannuel Pohl e o engenheiro alemão Eschwege. O primeiro Censo de Patrocínio, ocorrido quando era distrito de Araxá, também chamado de “Mapa da População” encontra-se no Arquivo Público Mineiro. E neste está evidenciado a origem da família do Índio Afonso, o mais célebre personagem da história patrocinense. Sobre sua origem não há nenhuma pesquisa ou indicadores. Apenas o escritor Bernardo Guimarães, quarenta anos depois (1872), escreveu bem a respeito do Índio Afonso. Porém, focalizou apenas sua primeira fase de vida. Todavia, o livro, mesmo assim, tornou-se um dos mais lidos da literatura nacional. A saga cinematográfica de aventuras teve sequência.

AINDA NO ADVENTO DA EMANCIPAÇÃO – Esse Censo de 1832-1835 apresenta todos os moradores de Patrocínio, nome por nome. E todas as casas, uma a uma, e quem morava em cada. Eram 1.649 habitantes no distrito, entre livres (1060) e escravos (599). Eles residiam em 234 casas (casebres). Na casa “1”, residia o padre José Ferreira Estrella, o primeiro vigário da primeira paróquia, N. S. do Patrocínio. E na casa “206”, a lendária família Afonso. Infelizmente, a cidade não tem nenhum registro dessa época. Lamentável. Será que a Igreja tem algo sobre o sacerdote Estrella?

O TEMPO PASSANDO... A DESTRUIÇÃO SEGUINDO – Vieram as histórias dos dois Rangel, o mais poderoso e o folclórico. Veio o Cel. Rabelo, prefeito, deputado e único barão de Patrocínio. Veio o registro fotográfico de seu casarão no Largo da Matriz, por volta de 1880. É a foto mais antiga de Patrocínio, guardada na Biblioteca Nacional. Graças a Deus! Pois se estivesse, em Patrocínio já estaria de mãos em mãos. E não na Casa da Cultura. Veio o primeiro jornal patrocinense “O Patrocínio”. Vieram outros jornais históricos como o “Cidade de Patrocínio” (1910-1929). Nada registrado. Aliás, há anos, verdadeiras joias jornalísticas teriam desaparecido da Casa da Cultura (alguns exemplares, foram recuperados). Vieram os primeiros prefeitos chamados de agentes executivos. Pouca coisa se sabe desse tempo de ouro.

O CRESCIMENTO URBANO DE PATROCÍNIO – A hoje cidade surgiu à beira de um límpido córrego, bem depois chamado de “Corgo do Rangel” (na região do bairro Morada Nova), em um lindo verde campo. Foi expandindo até à Praça da Matriz, passando pelo Largo Tiradentes (praça da antiga Cadeia Pública). Essa expansão durou mais de 130 anos. Nesse período, apareceram a Fazenda Bromado dos Pavões, o lugarejo Catiguá, o povoado de Salitre, o arraial de N. S. do Patrocínio, a Vila e finalmente a cidade de Patrocínio (1874). Nessa época, o Largo da Matriz despontou como o centro comercial e político. Por isso, a prefeitura (casarão da Casa da Cultura) e a igreja Matriz de duas torres foram edificadas lá. Já no começo do século XX apareceram o Hotel Globo, clube social, Escola Honorato Borges e as melhores casas, inclusive o belo casarão do Cel. João Cândido de Aguiar. Muito pouco resta para contar documentalmente a história do Largo da Matriz.

PATROCÍNIO PODERIA TER DUAS LARGAS PRAÇAS – Como nas cidades mais evoluídas do mundo, a cidade teve chance de ter uma Praça Honorato Borges bem maior. No princípio do século XX assim o era. Teve uma segunda chance com a Praça Santa Luzia, que naquela época ocupava o espaço da (hoje) Rua Gov. Valadares à Rua Presidente Vargas. Lotearam-na. Cortaram as árvores. E a reduziu. Aliás, até a Praça da Matriz teve desejo de um prefeito em loteá-la no passado distante, segundo dizia Sebastião Elói.

E AS AGRESSÕES URBANAS CONTINUARAM – Reformas no Ginásio Dom Lustosa e Escola Honorato Borges tiraram parte de suas arquiteturas originais, há cerca de 40 anos. Maravilhosos casarões de figuras históricas tornaram-se retratos na parede e ou lotes. Isso é cultura? Isso é progresso?

DEFINITIVAMENTE... – A cultura, e a inteligência, não são contra o desenvolvimento. E sim, a favor. Sem, entretanto, sacrificar o patrimônio histórico. Há lugar para os dois. Um sustenta o outro. Os dois juntos (desenvolvimento e história) são, sim, evolução! Evolução rumo a um digno futuro.

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Na região do Triângulo e Alto Paranaíba, Patrocínio é a segunda melhor cidade, com melhor performance entre as grandes cidades.
Foto: reprodução VT Cássio Dias 

Confraternização. Mesmo se distanciando no tempo, algumas tornam-se inesquecíveis. Cada ano que se vai, a saudade aumenta. Pois, diversos participantes de outrora passam a ser flores no jardim celestial. A Associação dos Patrocinenses e Amigos de Patrocínio-APA, na primeira década deste século, promoveu mais de dez confraternizações na capital. A maioria foi denominada “Reencontros”. Ou seja, reencontros de patrocinenses que há muito não se viam ou não iam à terra natal. A “Reencontros” de 2005, aconteceu no dia 22 de outubro de 2005, um sábado. Portanto, há 16 anos exatamente. Observando as narrativas e fotos daquele mágico momento, hoje o destaque é o registro de muitos patrocinenses da festa que passaram para o plano superior, o popular andar de cima.

OS MÉDICOS – Enquanto o octogenário pediatra dr. Saul Faria Pereira saudava a todos na entrada do clube, o médico-cantor José Carlos Lassi Caldeira encantava e cantava. E o oncologista dr. Eduardo Brandão (filho do dr. José Garcia Brandão, ícone da medicina em Patrocínio, anos 40 a 80) narrava os livros, sobretudo “Caminhos do Cerrado” (família Brandão), que foi lançado em mês após (11/11/2005). Já o médico Francisco Silveira falava de seu saudoso pai, o prof. Hugo Machado (autor do livro “Chapéu de Palha”, editado em 1989). Dr. Saul faleceu um ano depois, em 21/8/2006. E a dra. Josi Faria, sua irmã, primeira advogada de Patrocínio, que o acompanhou, também está no Céu.

AS PROFESSORAS – Marcelina Othero Nunes (mestre nos anos 60 a 80) era só alegria. Sua cunhada Vera Nunes (filha do sr. Manoel Nunes) viera especialmente de Patrocínio para a solenidade. Laga Wadhy Farah (irmã do médico-poeta Michel Wadhy), professora de Inglês nas décadas de 60 a 80, marcava sua indispensável presença. Carlita Campos dançava divinamente com o seu par Álvaro. Nilda Caetano, ex-superintendente da Secretaria Estadual de Educação, distribuía sorrisos e abraços. E Belinha de Castro (irmã da referencial professora Aglair de Castro) vivificava aquele momento e no dia seguinte retornava a Patrocínio. Já deixaram essa vida a professora Laga Wadhy Farah (falecida há alguns anos, em BH) e a professora Belinha de Castro (falecida na cidade, há poucos anos). Vera Nunes também intregou à comitiva para o Céu (2009).

OS PROFESSORES – O escritor Ivan Gomes da Silveira (que faleceu nesta quinzena em em BH) via poesia em tudo. Israel Caldeira contava estórias da cidade que deixara nos anos 50 (hoje, frequenta as redes sociais rangelianas sobre história). E Haroldo Nunes se lembrava de fatos que o tempo levou.

O PODER JUDICIÁRIO – Patrocínio teve a honra de ver dois de seus filhos atuando como desembargador, em uma mesma época. O desembargador Unias Silva (e sra. Carmencita), irmão do ex-prefeito Amâncio Silva, conversava e falava de Patrocínio. Unias tinha o brilho da Santa Terrinha em seus olhos. Ele e o desembargador Maurício Barros promoveram diversos benefícios para a Comarca local. Hoje, Unias está na última morada. E Maurício, aposentado, dirige escritório de advocacia, junto com familiares, em Patos de Minas.

O PODER POLÍTICO – Expedito de Faria Tavares irradiava luzes de seu passado (vereador pela UDN nos anos dourados, renomado advogado, deputado, presidente da Assembleia Legislativa e secretário de Estado). Ao seu lado, o filho Rogério Tavares, chefe de comunicação do TRE e apresentador de TV. Glauce Caixeta, assessora do deputado Silas Brasileiro, ofertava charme e sabedoria política. Hoje, Expedito é morador celestial, desde 15/1/2006. Portanto, apenas três meses após essa mencionada “Reencontros”. E Glauce participa do Governo do Distrito Federal.

OS HISTÓRICOS – Roberto Cunha entrava no túnel do tempo comentando sobre o seu pai, o aviador Elias Alves da Cunha, o primeiro piloto do Município. Isso nos anos 40. Sônia Alves desfilava simpatia com o seu pai Baim, lenda musical e do futebol patrocinense nas décadas de 40 e 50. Já Maria José Ferreira Mendes (Zezinha) referenciava o espírito de seu pai, General Astolfo Ferreira Mendes, o primeiro general de Patrocínio e o criador da primeira Associação de Patrocinenses em outras cidades (no caso, BH). Anos 50 e 60. Hoje, Baim encanta a turma celestial.

O DIPLOMATA – Não faltava cobiça ao cônsul do Paraguai em Belo Horizonte, o patrocinense Marcos Cardoso (solteiro), acompanhado de sua mãe D. Dalma e o pai Sr. Galeno. Residiram na cidade nos anos 40 e 50 à Rua Presidente Vargas. Hoje, os três residem no infinito azul de Deus.

GENTE INESQUECÍVEL – Waldete Caldeira e o seu marido Aristóteles Nunes (gerente do Bemge, anos 60 e 70), Adriano e Marta Silva (única irmã de oito craques do futebol, nos anos 50 e 60), Maria Helena Brandão (alta executiva da Unimed), Erly Hooper (sobrinha da D. Anjinha da Biblioteca e descendente da família Pieruccetti), empresário Márcio Queiroz e sra. e tanta gente mais que abalou os corações dos presentes. Hoje, Maria Helena e Aristóteles Nunes são companhias do Senhor Deus.

OS DE CASA – Os anfitriões da APA foram representados pelo empresário Ivan Silva (irmão do Deley Despachante). Dulce Nunes Castro (família Manoel Nunes), professor de Farmácia/UFMG José Dias, professora Nely Nunes, advogada Imaculada Machado, empresária Heloisa Boaventura, auditor Belchior de Oliveira e este autor.

O CENÁRIO... O CLÍMAX – O Clube Amigos de JK, na Savassi (BH), recebeu mais de 120 patrocinenses. Sob histórica decoração com fotos de Juscelino e Alkmim, principalmente. E no final, professora e aluno, juntos outra vez. Cantaram em espanhol as maravilhosas “Granada” e “La Violetera”. Marcelina Othero (patrocinense-espanhola) e médico Zé Carlos Lassi. Cenas para jamais serem esquecidas!

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Inesquecíveis. As festas dos patrocinenses em BH assim as foram. Antológicas. É bom reviver. Como aconteceram, os antecedentes, a série intitulada “Reencontros” e alguns personagens dessas páginas históricas. Se não foi a maior, certamente se encontra entre as cinco maiores manifestações de uma comunidade interiorana, realizadas na capital de Minas. Pena que durou sete anos. Porém, quando realizadas, eram destaque em Belo Horizonte. Inclusive pela mídia.



O presidente Júlio Queiroz, vice-presidente Eustáquio Amaral, diretor financeiro Cândido Neto e conselheiro Durleno Resende, no microfone, abrindo solenidade no Minas 2.


OS ANTECEDENTES
– Nos anos 50, a Associação dos Patrocinenses Ausentes–APA foi criada sob a liderança do general Astolfo Ferreira Mendes. Patrocinense, nascido em Abadia dos Dourados em 1904 (quando o distrito pertencia a Patrocínio). Em 1920, ingressou no Exército e já em 1926 foi o primeiro instrutor do Tiro de Guerra, ainda como sargento. Em seus últimos anos de vida, residiu em BH, onde bacharelou-se em Direito, e, movimentou por demais os seus conterrâneos nas décadas de 50 e 60. Faleceu dia 24 de outubro de 1969, aos 65 anos de idade. 

AS PRIMEIRAS VIAGENS DA APA – Nesses anos de 50 e 60, a Associação, sob a presidência do General Astolfo, empreendia românticas “embaixadas” (viagens) à terra natal, por trem (Rede Mineira de Viação). Após quase 24 horas de duração da viagem (a composição ferroviária tinha leito, vagão-restaurante e vagão-poltronas de madeira), a comitiva era recepcionada na estação ferroviária (mesmo descaracterizada, ainda está lá) por multidão de amigos, familiares e curiosos. Inclusive, a Banda de Música e foguetes.



EXEMPLO DA PAIXÃO PELA TERRA
– Entre 1960 e 1962, o prefeito Enéas Aguiar e o vice-prefeito Benedito Romão de Melo realizaram diversas inaugurações na cidade. Tais como: a energia elétrica da Cemig, a iluminação da área central com luz “a mercúrio”, Estádio Júlio Aguiar e outros benefícios para o Município. A APA esteve presente. E participava solenemente dos atos de inauguração. Até o prefeito ia recepcionar a “embaixada” patrocinense de BH no bucólico bairro Alto da Estação.

O RESSURGIMENTO DA APA – Com o falecimento do General Astolfo, a Associação hibernou-se por 30 anos. No final da década de 90, no primeiro show do cantor patrocinense José Frazão (então, residente em Goiás) na capital mineira, diversos grupos de patrocinenses se aglomeraram em mesas na Gameleira (hoje, Expominas, em BH) para curtirem a voz de Frazão e lembranças de sua Patrocínio. Em uma dessas mesas, se encontravam o veterinário Júlio Queiroz, o diretor do BHShopping Durleno Resende e este economista, técnico do Governo Estadual, além de outros conterrâneos. Ao ver tantos patrocinenses reunidos, esses três rangelianos principalmente tiveram uma miragem: é hora de reativar, renascer, a Associação dos Patrocinenses.

... E AÍ TUDO COMEÇOU... – No dia 28/2/2000, no salão de reuniões da Epamig, oito patrocinenses residentes em BH se reuniram, quando foi definida a agenda de reimplantação da APA. Em 18 de maio de 2000, numa Assembleia Geral, foi eleita a primeira diretoria: Júlio Queiroz (presidente), Eustáquio Amaral (vice-presidente), Imaculada Machado (diretora administrativa), Cândido Neto (diretor de Finanças), Marilene Ávila e Berenice Pereira (diretoras de cultura) e Neli Nunes (diretora social). Além do Conselho Consultivo (Zé Carlos Lassi, Eduardo Brandão, Israel Caldeira, Lúcio Lemos e Durleno Resende) e do Conselho Fiscal (desembargador Maurício Barros, Antônio Cândido Borges e Adalberto Machado). Nessa época, foi calculado aproximadamente 4.000 patrocinenses e famílias residindo na Grande BH. Esse seria o público-alvo da nova APA.

PRIMEIRA GRANDE FESTA – Com o título de “Reencontros”, aconteceu em 15 de setembro de 2000, uma sexta-feira, no Minas Tênis Clube II, marcante noite com o cantor José Frazão (segunda vez, em BH), a dupla Breno e Bruno (filhos de patrocinenses), médico-cantor Zé Carlos Lassi, dupla Gustavo Tempone e Juliana Brandão, e com a lenda Baim e o seu saxofone.
 
REENCONTROS II – Novamente no Minas e em outubro (06/10/2001), ocorreu a segunda grande festa. Na festividade foi entregue o “Troféu General Astolfo Ferreira Mendes” a ilustres patrocinenses: prefeito Betinho, deputado Romeu Queiroz, deputado Silas Brasileiro, empresário Nenê Constantino, músico Geraldo Alves do Nascimento (Baim) e professora Geralda Pereira. Depois, baile com a Banda “Via Láctea”. O clube belorizontino recebeu quase 1 mil pessoas.





CARTÃO-CONVITE
– No bonito cartão distribuído aos patrocinenses e amigos de Patrocínio está escrito, sob a foto do casarão da Casa da Cultura:
“Aquele papo
Aquela saudade
De uma cidade... chamada Patrocínio,
Terra-mãe do coração!”

REENCONTROS III – Em 18 de outubro de 2002, jantar e baile com Somel & Banda. Ainda no Minas II. Aproximadamente, 400 pessoas entre patrocinenses e amigos de Patrocínio.

REENCONTROS IV – No dia 26 de setembro de 2003, uma sexta-feira, aconteceu a inesperada última festa da administração Júlio Queiroz. Também jantar e baile com Somel & Banda. No cartão-convite, parte do Hino a Patrocínio, de Augusto de Carvalho:
“... Salve, salve esta terra adorada,
Que em beleza não teme rival.
Patrocínio é um seio de fada;
Salve, salve este berço natal...”
 
MORTE DO PRESIDENTE, NOVA HIBERNAÇÃO – Seis meses após o “Reencontros”, ano 4, Júlio Queiroz faleceu no Hospital Biocor, em BH, acometido de doença cardíaca. Exatamente em 17 de março de 2004. Júlio um ser calmo, simples, idealista e grande amigo. A APA era a sua vida. E Júlio, a alma pura da Associação dos Patrocinenses e Amigos de Patrocínio. Fica bem reprisar trecho do cartão-comunicado de seu falecimento, produzido pela família:
Minh’alma era tu’alma
Repartida:
duas vidas ligadas numa vida.”

Assim, foi Júlio Queiroz e APA. Conviveram cinco anos memoráveis para o bem dos patrocinenses. Feliz época. E o sonho não acabou.

OUTRAS CONFRATERNIZAÇÕES – A APA, nesse período, promoveu outros eventos, como na Casa JK (“Maria das Tranças”), Minas I (o tradicional), horas-dançantes e três anos consecutivos participando da Feijoada da APAE na cidade, viajando em ônibus especial. E a APA já tinha até sede, à Avenida dos Andradas, na capital.

PÓS REENCONTROS – Nova Diretoria, sob a presidência do empresário Ivan Silva (Casa Mineira), reativou a APA, com três bons jantares e horas dançantes, com significativa presença. Todavia, o período se restringiu a dois anos. Hoje, a bela adormecida APA espera ser despertada por um novo amor, uma jovem diretoria.

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Carlos Lamarca em treinamento. Foto Wikipedia
Este é o título do livro de Oldack Miranda sobre a vida de Carlos Lamarca. No mês passado – dia 21 de setembro – completaram-se cinquenta anos da morte de Lamarca. A imprensa não deu a mínima atenção para esta data. Preferiu referir-se exaustivamente ao onze de setembro americano. Perdemos uma ótima oportunidade de uma revisão histórica e de explicitar semelhanças de governo desta e daquela época. Lamarca entrou para a Escola Preparatória em Porto Alegre em 1954. Foi promovido a capitão em 1967 e desertou já em  janeiro de 1969. Serviu no Canal de Suez e, lá como aqui, ficou impressionado com a pobreza. Sempre teve o pensamento voltado para o social. “Precisamos acabar com a fome e dar moradia para esta gente”, dizia para esposa. Foi um bom militar, com bom relacionamento no meio da tropa. Quem estava sob seu comando não queria sair. Quem não estava, queria estar com ele. Sua deserção deixou surpresos até seus comandantes.

Antes de desertar do exército, em janeiro de 1969, e fazer parte da VPR (Vanguarda Popular Revolucionárias) entrou com uma Kombi no quartel e levou sessenta e três fuzis FAL A ideia era levar 360, mas o plano de entrar com um caminhão falhou. Lamarca caiu na clandestinidade. Neste mesmo ano, mandou sua família para cuba, a mulher e os dois filhos. Viagem clandestina para não serem descobertas: passagem por Roma, Tchecolosvaquia, Canadá e Cuba, onde passaram a morar. Em carta de junho de 1969, pedia a esposa que não voltasse ao Brasil

Sua primeira ação armada foi o arrojado assalto a dois Bancos ao mesmo tempo:  Banco Mercantil de São Paulo e o Banco Itaú, próximos um do outro. Matou com um tiro na testa, a trinta metros de distância um guarda civil que tentou interferir no assalto. Lamarca era exímio atirador e estrategista. No Vale da Ribeira, os soldados morriam de medo de um confronto com ele.

Acreditava na guerrilha rural como forma de tomar o poder. Acreditava que em cinco anos a luta armada estaria vitoriosa, teria derrubado o governo. Tentou organizar a guerrilha no Vale da Ribeira, mas em três meses foram descobertos. O Exército montou um grande esquema para prendê-los. Aviões C47, bombardeio B25, caças T6. Dois mil e quinhentos soldados, a maioria recrutas, totalmente despreparados, ocuparam a mata. Segundo Lamarca, esta guerrilha envolveu vinte mil soldados. Acho um exagero. Acabaram com a guerrilha, mas não conseguiram prender Lamarca. Já no final da guerrilha, depois de quarenta dias na mata, cercados, sem alimento, sem calçado, já debilitados, teve uma fuga espetacular: conseguiram sair da mata, chegaram à margem de uma rodovia dispostos a pegar a primeira condução que aparecesse. Veio um caminhão do exército, que procurava prendê-lo, com cinco ocupantes. Lamarca e seu grupo, renderam os soldados, vestiram suas fardas, obrigaram a deitar no caminhão, passaram pela barreira do próprio exército e foram para São Paulo.

O governo estava disposto a acabar com os movimentos de esquerda, com as guerrilhas. A tortura corria nas prisões, com requintes de crueldade. Os prisioneiros sofriam toda forma de tortura: coroa de Cristo, Cadeira do Dragão e o mais comum: espancamentos e choques elétricos na boca, nas orelhas, olhos, ânus, vagina, pênis e nos seios.

Uma das formas de livrar os companheiros da prisão foi o sequestro de embaixadores:  Foram quatro sequestros. Lamarca participou de dois: o do cônsul japonês e o do embaixador suíço em dezembro de1970, o último sequestro. Lamarca comandou pessoalmente este último. Pedia a libertação de 70 prisioneiros. Durou quarenta e dois dias este sequestro. O governo procurava ganhar tempo para descobrir o esconderijo, recusou a libertação de alguns presos e isto obrigava os sequestradores a refazer a lista. Bacuri, por exemplo estava jogado em uma cela em um sítio, com os braços e pernas quebrados, dentes arrancados e um olho vazado, perfurado. Um mulambo sem nenhuma assistência médica. Depois de tanta tortura nem tinha condições de sair da prisão, morreu ali mesmo. Lamarca comandou o sequestro e o aparelho onde estava o embaixador suíço. Em um dado momento, devido à demora do governo, os sequestradores decidiram pela maioria, matar o cônsul. Lamarca não permitiu e disse “o comandante sou eu”.

 A polícia não deu trégua. Estavam próximos de prender Lamarca. Os companheiros queriam tirá-lo do país. Ele não aceitou. Em junho de 1971, decidiu fugir para a Bahia, para Brotas de Macaúba, em um caminhão velho. Em sua última noite no Rio, a polícia havia prendido um colega da casa onde estava escondido, os famosos aparelhos.  Avisado, Lamarca e Yara, sua amante, passaram a noite toda andando de ônibus coletivo para não serem descobertos.

No interior da Bahia, de junho a setembro de 1971, sonhava em organizar uma guerrilha, até que a polícia o descobriu. Foi perseguido, caçado. Em Buriti Cristalino, primeira parada de Lamarca, a polícia prendeu, torturou pessoas para revelarem o paradeiro o seu paradeiro. Fugiram ele e um companheiro para Brotas e dali entrou sertão a dentro. Percorreu trezentos quilômetros, a pé, sempre denunciado pela população local,  perseguido pelo Major Newton Cerqueira e seus soldados. Já faminto, estropiado, sem condições de andar, foi morto pela tropa do Major, depois de uma caçada de vinte dias. Ao todo foram utilizados 215 homens na caça a Lamarca.

O que fez Lamarca se destacar dentre tantos guerrilheiros? Suas ações ousadas como o assalto simultâneo a dois Bancos, o roubo dos fuzis do quartel de Quitaúna. Ter saído vivo e sem ser preso do Vale do Ribeira. Além disto, era grande estrategista e procurava aglutinar as esquerdas à medida que os grupos iam se enfraquecendo devido às prisões. O governo ficou quarenta dias procurando o aparelho onde estava o embaixador sequestrado e não conseguiu localizá-lo. Usou neste sequestro o codinome de Cláudio. Nem os próprios sequestradores incialmente sabiam que ele era o Lamarca.

Morreu próximo de completar trinta e quatro anos. Durou três anos e meio sua vida clandestina. Abandonou sua carreira militar por muito pouco.   Tornou-se um mito para a esquerda brasileira. A luta armada foi o grande equívoco da esquerda brasileira e Lamarca foi ator e também vítima deste equívoco.

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