Inesquecíveis. As festas dos patrocinenses em BH assim as foram. Antológicas. É bom reviver. Como aconteceram, os antecedentes, a série intitulada “Reencontros” e alguns personagens dessas páginas históricas. Se não foi a maior, certamente se encontra entre as cinco maiores manifestações de uma comunidade interiorana, realizadas na capital de Minas. Pena que durou sete anos. Porém, quando realizadas, eram destaque em Belo Horizonte. Inclusive pela mídia.



O presidente Júlio Queiroz, vice-presidente Eustáquio Amaral, diretor financeiro Cândido Neto e conselheiro Durleno Resende, no microfone, abrindo solenidade no Minas 2.


OS ANTECEDENTES
– Nos anos 50, a Associação dos Patrocinenses Ausentes–APA foi criada sob a liderança do general Astolfo Ferreira Mendes. Patrocinense, nascido em Abadia dos Dourados em 1904 (quando o distrito pertencia a Patrocínio). Em 1920, ingressou no Exército e já em 1926 foi o primeiro instrutor do Tiro de Guerra, ainda como sargento. Em seus últimos anos de vida, residiu em BH, onde bacharelou-se em Direito, e, movimentou por demais os seus conterrâneos nas décadas de 50 e 60. Faleceu dia 24 de outubro de 1969, aos 65 anos de idade. 

AS PRIMEIRAS VIAGENS DA APA – Nesses anos de 50 e 60, a Associação, sob a presidência do General Astolfo, empreendia românticas “embaixadas” (viagens) à terra natal, por trem (Rede Mineira de Viação). Após quase 24 horas de duração da viagem (a composição ferroviária tinha leito, vagão-restaurante e vagão-poltronas de madeira), a comitiva era recepcionada na estação ferroviária (mesmo descaracterizada, ainda está lá) por multidão de amigos, familiares e curiosos. Inclusive, a Banda de Música e foguetes.



EXEMPLO DA PAIXÃO PELA TERRA
– Entre 1960 e 1962, o prefeito Enéas Aguiar e o vice-prefeito Benedito Romão de Melo realizaram diversas inaugurações na cidade. Tais como: a energia elétrica da Cemig, a iluminação da área central com luz “a mercúrio”, Estádio Júlio Aguiar e outros benefícios para o Município. A APA esteve presente. E participava solenemente dos atos de inauguração. Até o prefeito ia recepcionar a “embaixada” patrocinense de BH no bucólico bairro Alto da Estação.

O RESSURGIMENTO DA APA – Com o falecimento do General Astolfo, a Associação hibernou-se por 30 anos. No final da década de 90, no primeiro show do cantor patrocinense José Frazão (então, residente em Goiás) na capital mineira, diversos grupos de patrocinenses se aglomeraram em mesas na Gameleira (hoje, Expominas, em BH) para curtirem a voz de Frazão e lembranças de sua Patrocínio. Em uma dessas mesas, se encontravam o veterinário Júlio Queiroz, o diretor do BHShopping Durleno Resende e este economista, técnico do Governo Estadual, além de outros conterrâneos. Ao ver tantos patrocinenses reunidos, esses três rangelianos principalmente tiveram uma miragem: é hora de reativar, renascer, a Associação dos Patrocinenses.

... E AÍ TUDO COMEÇOU... – No dia 28/2/2000, no salão de reuniões da Epamig, oito patrocinenses residentes em BH se reuniram, quando foi definida a agenda de reimplantação da APA. Em 18 de maio de 2000, numa Assembleia Geral, foi eleita a primeira diretoria: Júlio Queiroz (presidente), Eustáquio Amaral (vice-presidente), Imaculada Machado (diretora administrativa), Cândido Neto (diretor de Finanças), Marilene Ávila e Berenice Pereira (diretoras de cultura) e Neli Nunes (diretora social). Além do Conselho Consultivo (Zé Carlos Lassi, Eduardo Brandão, Israel Caldeira, Lúcio Lemos e Durleno Resende) e do Conselho Fiscal (desembargador Maurício Barros, Antônio Cândido Borges e Adalberto Machado). Nessa época, foi calculado aproximadamente 4.000 patrocinenses e famílias residindo na Grande BH. Esse seria o público-alvo da nova APA.

PRIMEIRA GRANDE FESTA – Com o título de “Reencontros”, aconteceu em 15 de setembro de 2000, uma sexta-feira, no Minas Tênis Clube II, marcante noite com o cantor José Frazão (segunda vez, em BH), a dupla Breno e Bruno (filhos de patrocinenses), médico-cantor Zé Carlos Lassi, dupla Gustavo Tempone e Juliana Brandão, e com a lenda Baim e o seu saxofone.
 
REENCONTROS II – Novamente no Minas e em outubro (06/10/2001), ocorreu a segunda grande festa. Na festividade foi entregue o “Troféu General Astolfo Ferreira Mendes” a ilustres patrocinenses: prefeito Betinho, deputado Romeu Queiroz, deputado Silas Brasileiro, empresário Nenê Constantino, músico Geraldo Alves do Nascimento (Baim) e professora Geralda Pereira. Depois, baile com a Banda “Via Láctea”. O clube belorizontino recebeu quase 1 mil pessoas.





CARTÃO-CONVITE
– No bonito cartão distribuído aos patrocinenses e amigos de Patrocínio está escrito, sob a foto do casarão da Casa da Cultura:
“Aquele papo
Aquela saudade
De uma cidade... chamada Patrocínio,
Terra-mãe do coração!”

REENCONTROS III – Em 18 de outubro de 2002, jantar e baile com Somel & Banda. Ainda no Minas II. Aproximadamente, 400 pessoas entre patrocinenses e amigos de Patrocínio.

REENCONTROS IV – No dia 26 de setembro de 2003, uma sexta-feira, aconteceu a inesperada última festa da administração Júlio Queiroz. Também jantar e baile com Somel & Banda. No cartão-convite, parte do Hino a Patrocínio, de Augusto de Carvalho:
“... Salve, salve esta terra adorada,
Que em beleza não teme rival.
Patrocínio é um seio de fada;
Salve, salve este berço natal...”
 
MORTE DO PRESIDENTE, NOVA HIBERNAÇÃO – Seis meses após o “Reencontros”, ano 4, Júlio Queiroz faleceu no Hospital Biocor, em BH, acometido de doença cardíaca. Exatamente em 17 de março de 2004. Júlio um ser calmo, simples, idealista e grande amigo. A APA era a sua vida. E Júlio, a alma pura da Associação dos Patrocinenses e Amigos de Patrocínio. Fica bem reprisar trecho do cartão-comunicado de seu falecimento, produzido pela família:
Minh’alma era tu’alma
Repartida:
duas vidas ligadas numa vida.”

Assim, foi Júlio Queiroz e APA. Conviveram cinco anos memoráveis para o bem dos patrocinenses. Feliz época. E o sonho não acabou.

OUTRAS CONFRATERNIZAÇÕES – A APA, nesse período, promoveu outros eventos, como na Casa JK (“Maria das Tranças”), Minas I (o tradicional), horas-dançantes e três anos consecutivos participando da Feijoada da APAE na cidade, viajando em ônibus especial. E a APA já tinha até sede, à Avenida dos Andradas, na capital.

PÓS REENCONTROS – Nova Diretoria, sob a presidência do empresário Ivan Silva (Casa Mineira), reativou a APA, com três bons jantares e horas dançantes, com significativa presença. Todavia, o período se restringiu a dois anos. Hoje, a bela adormecida APA espera ser despertada por um novo amor, uma jovem diretoria.

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Carlos Lamarca em treinamento. Foto Wikipedia
Este é o título do livro de Oldack Miranda sobre a vida de Carlos Lamarca. No mês passado – dia 21 de setembro – completaram-se cinquenta anos da morte de Lamarca. A imprensa não deu a mínima atenção para esta data. Preferiu referir-se exaustivamente ao onze de setembro americano. Perdemos uma ótima oportunidade de uma revisão histórica e de explicitar semelhanças de governo desta e daquela época. Lamarca entrou para a Escola Preparatória em Porto Alegre em 1954. Foi promovido a capitão em 1967 e desertou já em  janeiro de 1969. Serviu no Canal de Suez e, lá como aqui, ficou impressionado com a pobreza. Sempre teve o pensamento voltado para o social. “Precisamos acabar com a fome e dar moradia para esta gente”, dizia para esposa. Foi um bom militar, com bom relacionamento no meio da tropa. Quem estava sob seu comando não queria sair. Quem não estava, queria estar com ele. Sua deserção deixou surpresos até seus comandantes.

Antes de desertar do exército, em janeiro de 1969, e fazer parte da VPR (Vanguarda Popular Revolucionárias) entrou com uma Kombi no quartel e levou sessenta e três fuzis FAL A ideia era levar 360, mas o plano de entrar com um caminhão falhou. Lamarca caiu na clandestinidade. Neste mesmo ano, mandou sua família para cuba, a mulher e os dois filhos. Viagem clandestina para não serem descobertas: passagem por Roma, Tchecolosvaquia, Canadá e Cuba, onde passaram a morar. Em carta de junho de 1969, pedia a esposa que não voltasse ao Brasil

Sua primeira ação armada foi o arrojado assalto a dois Bancos ao mesmo tempo:  Banco Mercantil de São Paulo e o Banco Itaú, próximos um do outro. Matou com um tiro na testa, a trinta metros de distância um guarda civil que tentou interferir no assalto. Lamarca era exímio atirador e estrategista. No Vale da Ribeira, os soldados morriam de medo de um confronto com ele.

Acreditava na guerrilha rural como forma de tomar o poder. Acreditava que em cinco anos a luta armada estaria vitoriosa, teria derrubado o governo. Tentou organizar a guerrilha no Vale da Ribeira, mas em três meses foram descobertos. O Exército montou um grande esquema para prendê-los. Aviões C47, bombardeio B25, caças T6. Dois mil e quinhentos soldados, a maioria recrutas, totalmente despreparados, ocuparam a mata. Segundo Lamarca, esta guerrilha envolveu vinte mil soldados. Acho um exagero. Acabaram com a guerrilha, mas não conseguiram prender Lamarca. Já no final da guerrilha, depois de quarenta dias na mata, cercados, sem alimento, sem calçado, já debilitados, teve uma fuga espetacular: conseguiram sair da mata, chegaram à margem de uma rodovia dispostos a pegar a primeira condução que aparecesse. Veio um caminhão do exército, que procurava prendê-lo, com cinco ocupantes. Lamarca e seu grupo, renderam os soldados, vestiram suas fardas, obrigaram a deitar no caminhão, passaram pela barreira do próprio exército e foram para São Paulo.

O governo estava disposto a acabar com os movimentos de esquerda, com as guerrilhas. A tortura corria nas prisões, com requintes de crueldade. Os prisioneiros sofriam toda forma de tortura: coroa de Cristo, Cadeira do Dragão e o mais comum: espancamentos e choques elétricos na boca, nas orelhas, olhos, ânus, vagina, pênis e nos seios.

Uma das formas de livrar os companheiros da prisão foi o sequestro de embaixadores:  Foram quatro sequestros. Lamarca participou de dois: o do cônsul japonês e o do embaixador suíço em dezembro de1970, o último sequestro. Lamarca comandou pessoalmente este último. Pedia a libertação de 70 prisioneiros. Durou quarenta e dois dias este sequestro. O governo procurava ganhar tempo para descobrir o esconderijo, recusou a libertação de alguns presos e isto obrigava os sequestradores a refazer a lista. Bacuri, por exemplo estava jogado em uma cela em um sítio, com os braços e pernas quebrados, dentes arrancados e um olho vazado, perfurado. Um mulambo sem nenhuma assistência médica. Depois de tanta tortura nem tinha condições de sair da prisão, morreu ali mesmo. Lamarca comandou o sequestro e o aparelho onde estava o embaixador suíço. Em um dado momento, devido à demora do governo, os sequestradores decidiram pela maioria, matar o cônsul. Lamarca não permitiu e disse “o comandante sou eu”.

 A polícia não deu trégua. Estavam próximos de prender Lamarca. Os companheiros queriam tirá-lo do país. Ele não aceitou. Em junho de 1971, decidiu fugir para a Bahia, para Brotas de Macaúba, em um caminhão velho. Em sua última noite no Rio, a polícia havia prendido um colega da casa onde estava escondido, os famosos aparelhos.  Avisado, Lamarca e Yara, sua amante, passaram a noite toda andando de ônibus coletivo para não serem descobertos.

No interior da Bahia, de junho a setembro de 1971, sonhava em organizar uma guerrilha, até que a polícia o descobriu. Foi perseguido, caçado. Em Buriti Cristalino, primeira parada de Lamarca, a polícia prendeu, torturou pessoas para revelarem o paradeiro o seu paradeiro. Fugiram ele e um companheiro para Brotas e dali entrou sertão a dentro. Percorreu trezentos quilômetros, a pé, sempre denunciado pela população local,  perseguido pelo Major Newton Cerqueira e seus soldados. Já faminto, estropiado, sem condições de andar, foi morto pela tropa do Major, depois de uma caçada de vinte dias. Ao todo foram utilizados 215 homens na caça a Lamarca.

O que fez Lamarca se destacar dentre tantos guerrilheiros? Suas ações ousadas como o assalto simultâneo a dois Bancos, o roubo dos fuzis do quartel de Quitaúna. Ter saído vivo e sem ser preso do Vale do Ribeira. Além disto, era grande estrategista e procurava aglutinar as esquerdas à medida que os grupos iam se enfraquecendo devido às prisões. O governo ficou quarenta dias procurando o aparelho onde estava o embaixador sequestrado e não conseguiu localizá-lo. Usou neste sequestro o codinome de Cláudio. Nem os próprios sequestradores incialmente sabiam que ele era o Lamarca.

Morreu próximo de completar trinta e quatro anos. Durou três anos e meio sua vida clandestina. Abandonou sua carreira militar por muito pouco.   Tornou-se um mito para a esquerda brasileira. A luta armada foi o grande equívoco da esquerda brasileira e Lamarca foi ator e também vítima deste equívoco.

1872. Tempo do Império do “Brazil”. Tempo da Vila de Nossa Senhora do Patrocínio (a cidade é a partir de 1874). Surge o primeiro censo decenal, o “Recenseamento do Brasil”. Para tanto, D. Pedro II cria a Diretoria Geral de Estatística, a semente do IBGE. Em Minas Geraes (com “e” mesmo), há apenas 72 municípios (hoje, são 853). O Censo de 1872 é realizado por Freguezia (com “z”). E “freguezia” é como se fosse distrito. Patrocínio tem três “freguezias”: Vila Nossa Senhora do Patrocínio, São Sebastião da Serra do Salitre e Sant’Anna do Pouso Alegre do Coromandel. Já Santo Antônio dos Patos (Patos de Minas, hoje) conta com duas: a do próprio nome e Sant’Anna do Parnahyba (hoje, Santana de Patos). Araxá tem quatro “freguezias” e Bagagem (Estrela do Sul) cinco. Todavia, considerando todas as “freguezias”, o município de Patrocínio é o mais populoso do Triângulo no Império.

LIDERANÇA ESCRAVA – A “freguezia” São Sebastião da Serra do Salitre, pertencente a Patrocínio, conseguiu nesse Censo o triste título de maior número de escravos da região, com 3.830. Enquanto que na sede do município, “freguezia” de Nossa Senhora do Patrocínio tinha 1.699 escravos. As três “freguesias” patrocinenses possuíam 7.177 escravos. Simplesmente o maior número do Triângulo. Os maiores redutos de escravos de Minas eram Leopoldina e Juiz de Fora. Ambas com mais do que o dobro de Patrocínio.

VICE-CAMPEÃO NA POPULAÇÃO LIVRE – No município de Patrocínio havia 24.201 pessoas livres. Dentre os quais, na “freguezia” de N. S do Patrocínio quase 10 mil livres (9.943), distribuídos entre brancos, pardos, pretos e caboclos (termos do Censo). Bagagem (Estrela do Sul), o campeão em população livre, tinha quase 4 mil pessoas a mais do que Patrocínio (28.106 pessoas). Todavia, quando se reúnem a população livre mais a população escrava, Patrocínio tem quase 1.000 habitantes a mais do que Bagagem. Pois, Patrocínio tinha muito mais escravos.

A POPULAÇÃO POR “PAROCHIA” – “Freguezia” também era denominada “Parochia” (paróquia). As administrações do Império e da Igreja eram iguais territorialmente. A população da “Parochia” de N. S. do Patrocínio (futura cidade e município de Patrocínio) tinha 11.642 “almas” (termo do Censo de 1872). Dos quais, 9.943 “almas” livres e 1.699 escravas. A maioria da raça branca (a metade), e, solteira (tinha 3 mil casados). E a população toda católica. Não havia “acatholicos”.

OS ESTRANGEIROS – Patrocínio acolheu 84 pessoas de outros países. Da África, 60 escravos e 13 livres. Da Itália, uma pessoa. De Portugal, 10. Desses estrangeiros pouco mais da metade eram pessoas solteiras.

HAVIA CARIOCA NO PEDAÇO... – A quase totalidade da população era composta de mineiros. Naturalmente, a maioria do Município. Porém, foram registradas seis pessoas do Rio de Janeiro, uma de São Paulo, Pernambuco e Goyaz (Goiás). E dois baianos.

POPULAÇÃO ANALFABETA! – Na freguesia ou paróquia N. S. do Patrocínio, 94% da população não sabia escrever nem ler. Mais precisamente 10.946 pessoas analfabetas. Apenas 696 eram alfabetizadas. Incrível! Nenhum escravo sabia ler. Os pouquíssimos que sabiam, situavam-se entre a população livre. E mais, tão somente 96 crianças, filhos de pessoas livres, frequentavam escola. Isso contando a idade entre 6 a 15 anos.

CASAS E PESSOAS DEFICIENTES – Em 1872, a Vila de Patrocínio contava com 1.645 “fógos” (casas). Fogos sinalizavam casas com chaminé. Ou seja, autonomia de moradia. Havia fogão à lenha. Felizmente, dentre os quase 12 mil patrocinenses da gema, tinha somente 10 pessoas cegas, 12 surdos-mudos, 21 aleijados, 4 dementes e um alienado (expressões do Censo).

IDOSOS IMPERAVAM... – Na população de 11.609 pessoas, tinham 19 pessoas com mais de 100 anos de idade! Quatro homens brancos e pardos livres, cinco homens escravos, sete mulheres “brancas, pretas e pardas” livres e três mulheres escravas. Portanto, a raça negra era muito mais longeva, considerando o seu tamanho (20% do total), e que havia negros livres também.

UM PROFESSOR, NOVE “BARNABÉS” – Nas profissões liberais existiam dois padres, dois escrivães, dois “pharmacêuticos”, um professor, um médico, dez militares e nove funcionários públicos. Nenhum advogado, parteiro ou artista. Tudo isso se referindo somente a Vila N. S. do Patrocínio. No Município havia muito mais. Por causa de Coromandel e Serra do Salitre.

MULTIDÃO DE COSTUREIRAS, LAVRADORES E DOMÉSTICOS – Entre as profissões manuais ou mecânicas, o destaque é para o número de costureiras: 761, sendo que 35 eram costureiras escravas. Como também é relevante o registro, em 1872, de 3.299 lavradores e quase 2.400 pessoas com “serviço doméstico” (é provável, que sejam empregadas domésticas, capinadores, rachadores de lenha, quitandeiros e similares).

MUITO INTERESSANTE: JORNALEIROS? – Esse Censo registrou 1.146 pessoas como “criados e jornaleiros”. Mas, não havia jornal no Município. Então, deve ser só “criados”. Havia também operários em metais (22 ferreiros), de madeiras (38 carpinteiros e “carapinas”), de operários em tecidos (652 trabalhadores na fabricação de tecidos), em edificações (12 pedreiros e serventes), em couros (sete, inclusive seleiros) e 33 sapateiros. É muito importante destacar os 64 “commerciantes”, guarda-livros (hoje, contadores) e caixeiros (comerciantes “viajantes”).

POR FIM – Para completar o município de Patrocínio, além da “Parochia” de N. S. do Patrocínio, serão apresentadas, nas próximas edições, a “Parochia” de Sant’Anna do Pouso Alegre de Coromandel e a “Parochia” de São Sebastião da Serra do Salitre. As três paróquias (Igreja) ou as freguesias (Província) pertenciam ao Município, em 1872.

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Por Alexandre Costa*


O Brasil vai aos poucos perdendo sua identidade. Seja no esporte, na TV ou na música, o processo de internacionalização continua a passos largos. Antes considerado “país do futebol”, a nação já não liga tanto para jogos da seleção brasileira. Já os clubes veem dificuldade em aumentar o número de torcedores numa geração que não se interessa pelas partidas dos torneios nacionais e até internacionais.

O futebol brasileiro, por exemplo, está chato. As partidas são tecnicamente ruins, com uma arbitragem irritante, atletas mimados e mal intencionados (tentam burlar a arbitragem o tempo todos), sem falar na “cera” que cada time faz quando o resultado lhe interessa. Somado a isso, a geração que experimentou na infância um 7x1 contra Alemanha, acachapante e humilhante, prefere escolher um time de Free Fire para torcer, que conta hoje com vários squads famosos, transmissões ao vivo de suas partidas e ações de marketing voltadas ao seu público.

Na contramão do que é feito no futebol brasileiro, a NBA vem enxergando no Brasil um grande mercado. Em recente matéria do Correio Braziliense, fica evidente que o brasileiro está cada vez mais ligado aos esportes americanos. Por estar morando em Brasília posso dizer com propriedade: as quadras da cidade são muito utilizadas para a prática de basquete, talvez até mais do que para o futebol.

Nesta terça-feira, 19/10, a nova temporada da NBA teve início com um show de organização. A liga promove um grande evento, homenageando atletas e times que foram campeões no ano anterior. A partida de abertura é usada para mostrar aos amantes do esporte o que lhes espera no restante da temporada. E não para por aí. Cada jogo, a partir de agora, é uma atração diferente, um produto mercadológico rentável, que da ao espectador a sensação de querer mais e desejo de consumir os produtos.

Quando olhamos a final dos campeonatos Brasileiro e Copa do Brasil da até vergonha. Não há nada especial. O máximo que existe é uma chuva de papel picado, um inflável com a marca do evento e só. Os jogadores campeões recebem as tão batidas medalhas, entregues por políticos ou dirigentes futebolísticos pra lá de carimbados.

Já o futebol americano, outro bom exemplo de sucesso do marketing, tem no intervalo do Super Bowl (jogo final) os segundos mais caros da tv mundial. Isso porque não é apenas um intervalo, exibindo melhores momentos ou chamando informações inúteis, com comentários manjados (com exceção de alguns comentaristas que realmente sabem o que falam). O Super Bowl tem tantas atrações artísticas sensacionais que imagino a sensação de quem vive isso no estádio. Após o jogo, a festa do vestiário é transmitida ao vivo, tudo vira atração.

Amo o Brasil, acho esse país incrível, com um povo trabalhador. Mas esse mesmo povo é tão carente de lideranças sérias e competentes, em praticamente todas as áreas. Tivéssemos gestores sérios, com visão administrativa moderna, tenho certeza que nosso país seria muito mais destacado do que de fato é.

Precisamos deixar a xenofobia de lado, sermos humildes o suficiente para ver que deveríamos aprender com as ações de quem sabe fazer o melhor. Neste âmbito esportivo, se não agirmos rapidamente em busca de uma mudança drástica na forma como promovemos nossos eventos, estamos fadados a vermos uma geração que não terá nenhum interesse em consumir produtos de clubes de futebol ou da seleção brasileira. Já estamos vivendo uma transformação, pois por onde tenho passado, cada vez mais vejo jovens desfilando com camisas de Lakers, Golden State Warriors, Bulls, Falcons, Eagles, Patriots, e por aí vai!

Enquanto isso: chute fraco de fora da área, goleiro defende, cai no chão e lá se vão dois minutos da nossa preciosa vida com a imagem de um ser humano rolando no chão, sem (na maioria das vezes) estar sentindo absolutamente nada. E vida que segue...

* Publicitário e jornalista, assessor de comunicação do Conselho Nacional do Café.

Reencontros. Era o nome dado às grandes festas dos patrocinenses em Belo Horizonte. Isso nos dez primeiros anos sucessivos do século XXI. Cada confraternização, no mínimo anual (às vezes, tinha até três eventos em um mesmo ano), movimentava de 200 a 1.000 pessoas. A promoção cabia à atuante Associação dos Patrocinenses Ausentes-APA. Uma década fantástica vivida pelos rangelianos na capital mineira. Desses Reencontros, já há diversas celebridades antológicas residindo na eternidade. Nessa edição, mais dois são lembrados. A de um ex-prefeito que deixou saudade e uma ex-freira que revolucionou o seu tempo. O ilibado Olímpio Garcia Brandão e a irmã Maria Flávia.

QUEM FOI DR. OLÍMPIO – Prefeito de Patrocínio de 1971 a 1975, nomeado pelo governador Rondon Pacheco. No governo Militar não havia eleição direta nem para prefeito nem para governador. Sua administração à frente da Prefeitura primou, foi sustentada, pela sagrada palavra planejamento, sobretudo o urbano. Sob sua liderança, uma equipe de urbanistas, arquitetos e humanistas elaborou o Plano Diretor e o Código de Obras. O Centro Administrativo, um dos primeiros do Brasil, foi concebido e iniciado na sua gestão. Como também as intituladas avenidas sanitárias (Av. Dom José André Coimbra e Av. João Alves do Nascimento) dentre diversas obras, sob a égide de planejadas.


Assinatura da escritura de doacao do terreno p. instalacao da Minasilk na prefeitura - 04-06-1974 -  Foto: Museu Hugo Machado da silveira.


RESPONSÁVEL POR INDÚSTRIA NOBRE ESPECIAL – Olímpio Brandão promoveu a instalação da Minasilk, única indústria de seda de Minas Gerais, cuja produção correspondeu a 10% da produção brasileira da seda. Produto totalmente exportado. Sem poluição. Significativa geradora de empregos. Mas... há quase três décadas, essa singular indústria (Minasilk e Sericitêxtil) é tão somente um belo e amarelado retrato na parede! Imperdoável!

A EVOLUÇÃO NA EDUCAÇÃO – Na administração do Dr. Olímpio foi criada a Faculdade de Filosofia, englobando os primeiros cursos superiores da cidade, que se tornou o embrião do Unicerp. Também instalou o então Colégio Agrícola (hoje, Escola Agrotécnica Sérgio Pacheco). E o curso de Enfermagem da APAE.

A SEMENTE DO AGRONEGÓCIO – Como parceiro dos governos Federal e Estadual, lançou o Polocentro no Município. Esse revolucionário programa, composto de investimentos, é a razão maior da cafeicultura no Cerrado. O prefeito Olímpio Brandão ainda participou ativamente da implantação dos Silos e armazéns da Casemg, junto ao Governo de Minas.

A RODOVIA QUE VEIO PELAS SUAS MÃOS – A construção e pavimentação do trecho Patrocínio-Ibiá-BR 262 foi fruto de planejamento do Dr. Olímpio, quando ele se tornou gestor de Planejamento do DEER-MG, em BH, após deixar a Prefeitura. Com isso, a distância entre a região de Patrocínio e a capital reduziu em quase 100 km, definitivamente.

UM PREFEITO DE VISÃO – Criou o Serviço Municipal de Saúde, antevendo a chegada do SUS. Transferiu a rodoviária do centro para o eixo de avenidas (Rua Artur Botelho para a Av. Faria Pereira). Praticou e em ensinou o respeito total ao dinheiro público.

MODO DE SER INSUPERÁVEL – Católico fervoroso. Modesto. Austero. Sério. A cidade não tinha o seu deputado. Mas, isso não impediu a presença frequente de Patrocínio nos gabinetes do governo mineiro. Na maioria das vezes, o qualificado prefeito trazia benesses para o Município. Visando economia para os cofres municipais, viajava sempre solitário. Ia de carro da Prefeitura, pensaria alguém desavisado. Nada disso. Frequentou Belo Horizonte, viajando por estrada de poeira ou barro, duradouras, pelo Expresso União (não havia rodovia pavimentada na região nem a BR 262). Isso na maioria das vezes. E pela cidade sempre andava a pé no meio da comunidade (igreja, compras, etc.).

A VIDA DE OLÍMPIO – Um dos seis filhos de Marciano Brandão, nasceu em Iguatama (MG), em 11/3/1925. Vítima de câncer, faleceu em BH, onde residia, no centro da capital, em 05/4/2007, aos 82 anos. Aluno da Escola Horonato Borges, Ginásio Dom Lustosa (também foi diretor da Escola) e Engenharia de Ouro Preto. Em 1974, casou-se com Rita Faria Tavares (irmã de Expedito, Dario e José de Faria Tavares). Irmão do médico José Garcia Brandão, um dos ícones da medicina patrocinense nos anos dourados.

UMA FREIRA PRA FRENTE – Nos anos 50 e 60, o Dom Lustosa e a Escola Normal Nossa Senhora do Patrocínio, eram as mais brilhantes escolas do Alto Paranaíba. Havia internato (alunos de outras cidades residiam nas escolas). Nos dias que não havia aulas, as alunas da Escola Normal iam ao cinema ou em festas cívicas, desfilando pelas ruas centrais, em fila dupla e indiana, uniformizadas (camisa branca e saia plissada azul). Sempre comandada por uma freira. Por ter sido a mais amiga e a mais liberal, com as meninas-moças, Irmã Maria Flávia tornou-se a mais inesquecível.

À FRENTE DE SEU TEMPO – Maria Flávia foi a primeira e única freira a andar de bicicleta em Patrocínio até a década de 70 (bicicleta era considerado veículo masculino).

À FRENTE, MESMO! – Maria Flávia também revolucionou o comportamento feminino daquela geração. Por exemplo, nos anos 60, as irmãs adquiriram dos padres holandeses uma bela chácara, na região do bairro Santo Antônio, com piscina de água corrente (a outra piscina era somente no PTC). E lá aconteceu, sob a sua direção, uma inovação sem precedentes. Deu o que falar. As meninas-moças começaram a usar maiô. Espetáculo nunca visto na urbe.

QUEM FOI – Maria Flávia, em 1947, tornou-se freira da Congregação do Sagrado Coração de Maria. Professora de Matemática e Educação Física, residiu no Colégio, por nove anos. Por volta de 1970, deixou a Congregação e passou a residir em Montes Claros, para cuidar de sua mãe. E o seu nome civil, Ulícia Martins, a acompanhou até o seu falecimento nesse começo do século XXI, já quando residia em BH. Faleceu solteira.

REENCONTROS – Nessas festas típicas da APA, foi possível os patrocinenses reviverem os tempos áureos de Olímpio Brandão e Ulícia Martins (Maria Flávia), sempre presentes. Tal como na festa ocorrida no dia 06 de outubro de 2001, no luxuoso Minas Tênis Clube II. Show com cantores patrocinenses, homenagens à gente de Patrocínio de destaque, e, baile da meia-noite até as três horas da madrugada, com a Banda Via Láctea. Mais uma noite histórica para os patrocinenses que vivem além de Patrocínio. Indelével!

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