Jornalista patrocinense Odair de Oliveira. Foto: Academia Mineira de Letras

História
. A da terra natal é um encanto. Então, dizer quem foi o patrocinense que teve três poderes públicos, ao mesmo tempo, em suas mãos torna-se exercício cultural e cheio de curiosidade. E quando aparece o nome Rangel suscita frisson. Com o apoio de crônica de Odair de Oliveira, o mistério é desvendado. Odair, falecido, foi o maior jornalista nascido em Patrocínio (em 1917) de expressão nacional. Sebastião Elói foi o maior de expressão municipal.
 

A PRIMEIRA CARTA AO IMPERADOR – Pouco depois da Declaração de Independência do Brasil, dezembro de 1822, foi enviada a Dom Pedro I, carta de impressionante beleza literária. Ela solicitava ao Imperador a criação do julgado de Patrocínio. Segundo Odair, “uma obra-prima”. O provável autor foi o padre Manuel Luís da Silva Alcobaça, que era também sesmeiro (dono de terras). Possivelmente, deixou a Igreja, casou-se e deixou a Guarda Nacional em 1851 (morando em Patrocínio). 

POR VOLTA DE 1850, SURGE UM INTELECTUAL – Defensor do Direito e das leis, Francisco Alves de Souza, surgiu no cenário de Patrocínio. Autodidata de alto nível, combativo, esteve sempre envolvido com os “fogos” no Município e região. Como não havia escolas (Patrocínio), provavelmente a cultura de Francisco veio com da convivência com o padre Alcobaça, pois ambos pertenciam ao Partido Conservador. Mais tarde, Francisco Alves passou a ser o grande líder desse partido no Município. 

CONFUSÃO NA CÂMARA MUNICIPAL – Em 1853, houve renovação do Legislativo patrocinense. Entre os vereadores eleitos se encontrava um Rangel. Exatamente, Antônio Corrêa Rangel, delegado de Polícia na Comarca. Nessa ocasião, baseado na organização do Estado Democrático, surgido após a Revolução Francesa, o intelectual Francisco Alves defendia o princípio contrário à acumulação de cargos públicos. Nesse contexto, todos os vereadores tomaram posse, exceto Rangel. Pois, levantou-se dúvida sobre a possibilidade legal de um cidadão exercer duas funções públicas ao mesmo tempo.
 
A FÚRIA DE RANGEL – A reação do delegado foi violenta. Rangel alegou que a postura da Câmara Municipal era uma “desfeita”. Isso ele não aceitava. E com voz alta, ameaçou prender todos os vereadores. Todos, sem exceção. A Câmara tremeu. E isso seria fácil para Rangel. Porque a Câmara Municipal, juntamente com o Juizado Municipal (uma espécie de Fórum), funcionava no segundo andar do prédio da cadeia, que ficava no primeiro andar. Esse sobrado localizava-se no Largo do Rosário, atrás de onde é hoje a Escola Municipal Honorato Borges (o Largo era imenso, duas a três vezes maior do que a praça hoje).
 
A INTELIGÊNCIA ENTRA EM AÇÃO – O delegado cercou com a polícia e alguns “bate-paus” (cidadãos comuns a serviço da polícia), a sede do Legislativo, Judiciário e Cadeia. Francisco Alves de Souza explicou a Rangel que todos eram seus amigos. Não haveria nenhuma maldade. E que se deveria consultar o governo provincial em Ouro Preto. O governo reconheceu a irregularidade, porém apontou que a legislação, inclusive a Municipal, era omissa no assunto. E indicou que se desse posse a Antônio Corrêa Rangel, visando evitar distúrbios e batalhas.
 
O MEDO DOS VEREADORES – Os novos mandatários do povo reuniram-se, então, para a constituição da nova Câmara, escreveu Odair de Oliveira, e elegeram para presidente da Câmara e Agente Executivo (prefeito) Rangel. Assim, depois da reação do delegado e da consulta à Província, os vereadores deram posse ao vereador-delegado Rangel, e ainda o escolheram presidente da Câmara (naquele tempo o presidente da Câmara, frequentemente, era o Agente Executivo, ou seja, o prefeito também).
 
PODER TOTAL – Patrocínio teve assim um dirigente municipal (vereador, presidente da Câmara Municipal e prefeito), que simultaneamente, era delegado de Polícia, dizia o jornalista/pesquisador Odair de Oliveira. Quatro funções públicas em uma só pessoa. Insuperável. Rangel comandou Patrocínio.
 
POR FIM – O pensamento do patrocinense Francisco Alves de Souza, que conhecia muito o que os pensadores franceses Montesquieu, Turgot e Seyés escreveram, entrou em colisão com os legisladores do Império.
 
PARA NÃO CONFUNDIR – Há outro Rangel na história de Patrocínio. Trata-se de Antônio Rangel Galião, um paulista aventureiro. Como a Vila era o centro de abastecimento aos tropeiros, que vinham sobretudo de Vila Rica e São Paulo, em direção a Goiás, o Rancho do Rangel (na região do Bairro Morada Nova) transformou-se no maior ponto de mulheres, farras e jogos da Picada de Goiás. Breve, detalhes desse Rangel folclórico.
 
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