Celebridades. No começo desse século, a inesquecível Associação dos Patrocinenses Ausentes–APA promoveu o conhecimento de algumas, em suas emblemáticas festas realizadas na capital mineira. A maioria dessas confraternizações chamou-se, acertadamente, Reencontros. Nas ocorridas nos anos 2003 e 2005 foi possível conhecer, bem, Julieta Costa e Saul Faria Pereira, neto do juiz Faria Pereira (anos 10 e 20 do século XX). Duas grandes celebridades de Patrocínio. Hoje, eternos moradores do andar de cima.

Mãe amamentando bebê. Foto:  Guillermo López|Pixabay 

TRÊS MIL PARTOS!
– Nas décadas de 40, 50 e 60, a enfermeira Julieta, a dona Julieta, formada em Anápolis-GO, como parteira, deu assistência ao nascimento de aproximadamente 3.000 patrocinenses. Um recorde, quase impossível de ser batido. Segundo ela, atendia qualquer parturiente (mulher em trabalho de parto), rica ou pobre, branca ou negra. Naquela época, ia de casa em casa, pois os procedimentos de partos eram realizados nas próprias residências. Quando o parto era realizado no meio rural, a parturiente oferecia um quarto para D. Julieta para que ela permanecesse por alguns dias e dela recebesse a assistência maternal.

QUEM É (I) – Julieta Costa foi professora do Instituto Bíblico Eduardo Lane no início da década de 40. Em 1945, concluiu o curso de Enfermagem. Em seguida, trabalhou como assistente do dr. José Figueiredo. Por 26 anos, dedicou-se à sua Patrocínio, como enfermeira. Em 1969, mudou-se para Belo Horizonte, onde integrou a equipe do Hospital Júlia Kubitschek, onde se responsabilizou pelos cuidados aos portadores de tuberculose. Em 2003, aos 91 anos de idade, residia no bairro Jaraguá, na capital de Minas.

REPERCUSSÃO – Nas festas da APA, em BH, sempre foi uma das presenças que mais atraia a atenção e carinho. Pois, diversos empresários, advogados, engenheiros, médicos e tanta gente que eleva o nome de Patrocínio nasceram, vieram ao mundo, por suas sagradas mãos.

RENOMADO PEDIATRA – O médico Saul de Faria Pereira, patrocinense da gema, sempre participou das festas e solenidades da APA, em BH. A última que participou ocorreu em 2005. Nessa, aos 82 anos, muito efusivo, muito alegre, parecia que estava se despedindo de seus conterrâneos. No ano seguinte, após permanecer hospitalizado, faleceu em 21/8/2006. Deixou esposa e três filhos.

QUEM É (II) – Dr. Saul de Faria Pereira, católico fervoroso, era neto de João Nepomuceno de Faria Pereira, o juiz da Comarca que foi homenageado dando seu nome à mais importante e longa avenida da cidade (Av. Faria Pereira). Sétimo filho de Lício de Faria Pereira (esse filho do juiz), Dr. Saul teve dois irmãos muito conhecidos pelas gerações dos anos dourados. A diretora da Escola Honorato Borges, nos anos 50 e 60, Eufrosina de Faria Botelho, a Dona Folô. E o advogado João Faria Pereira Neto, bem mais conhecido como Dr. Faria, que exerceu a profissão em Patrocínio, nos anos 40, 50, 60 e 70. Faleceu também em Belo Horizonte. O advogado Arnaldo Faria é um dos filhos do conhecido Dr. Faria.

ALUNO DO DOM LUSTOSA E UFMG – Saul de Faria nasceu na região da Igreja Matriz Nossa Senhora do Patrocínio, em 11 de dezembro de 1923, onde passou a sua infância e adolescência. Estudou no Ginásio Dom Lustosa, comandado pelos padres holandeses. Pertenceu a uma das primeiras turmas nessa escola, referência maior no Triângulo Mineiro. No começo dos anos 40 foi (e sempre retornava) para a capital pela então Rede Mineira de Viação – RMV, o saudoso trem diário de passageiros Monte Carmelo-Patrocínio-Catiara-Ibiá-BH. Em 1948, concluiu, com êxito, o curso de Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais.

GRANDE PROFISSIONAL – Médico-residente do Hospital Militar de BH. Trabalhou no INSS, Sesi e Hospital da Baleia (referência na capital). Fundou o primeiro hospital infantil do Estado, o Pronto Socorro Infantil, situado na região central de BH. Era um pediatra padrão para as famílias belorizontinas.

ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE... – Embora já tenha de quinze a vinte anos a época áurea dessa Associação, muitos patrocinenses memoráveis desfilaram em suas indeléveis promoções. Gente como a enfermeira Julieta e o médico Dr. Saul. Há gente, felizmente na terra. Há gente, já no céu. Tal como o presidente da APA, o veterinário Júlio Queiroz, odontólogo Luiz Fernando Silva, Prefeito Olímpio Garcia Brandão, desembargador Unias Silva, Deputado Expedito de Faria Tavares, Antônio Cândido (criador do IMA) e os irmãos Brandão (Lúcio e Maria Helena). Gente como os craques Romeuzinho, Dizinho e o empresário-artista Wanderley Guarda. Porém, tudo é tema para breve. Ave Patrocínio! Ave patrocinenses!

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Bairrismo. É um lindo sentimento de quem ama demais à sua terra natal. Ou até à sua região, em um sentido mais macro, mais abrangente. E este autor escreveu para o “Jornal Presença”, edição de 25/8/1988, bom semanário editado na cidade naquele tempo, crônica sobre este tema. Dela é extraído a emoção de quase a totalidade da população com o seu torrão. Com o chão que habita.

À PRIMEIRA VISTA, UM BOBO – Muitas vezes, o bairrista é mal interpretado. É uma pessoa mal avaliada. Que vive no mundo da lua. Ledo engano. O bairrista é um bom filho apenas. Afinal, mãe é o melhor ser desse mundo. Merece ser sempre louvada. Com a terra-mãe não seria diferente. O bairrista também é excelente comerciante. Pois, entende que a sua terra tem produtos de qualidade. Para não dizer, os melhores “do mundo”.

PURA VERDADE – O bairrista é a alma da cidade. Cidade sem bairrista é cidade sem vida. É cidade sem coração. O bairrista é a energia de uma comunidade. É a soberana voz amada por todos.

LADAINHA DO BAIRRISTA RANGELIANO:

O subsolo patrocinense esconde em seu seio as maiores reservas do planeta do mineral anatásio, que é a origem do nobre titânio. Palavra do Anuário Mineral do Brasil e do Anuário Mineral de Minas Gerais (edições dos anos 80).

O café de Patrocínio é o de melhor sabor no mundo. Palavra de corretores de café em Santos-SP (anos 80). E o Município é o maior produtor do Brasil, disparado. Palavra recente do IBGE.

A água sulfurosa de Serra Negra é a mais forte do mundo em sais minerais, contendo seis gramas de sal por litro. Palavra de analistas, conforme publicações, inclusive o jornal “Minas Gerais” (década de 80). Hoje, abandonada, é quase apenas um retrato na parede!

A água magnesiana é a mais mineralizada do Brasil. Palavra das mesmas publicações. Também um retrato na parede! Sobretudo após o desastre ambiental (incêndio), ocorrido nas últimas semanas.

Patrocínio é um dos raros municípios brasileiros que possui uma cratera de vulcão extinto. Também na região de Serra Negra. Também palavra de técnicos nos anos 80. Também quase um retrato na parede! Pois a grande lagoa do Chapadão, acima da cratera do vulcão, hoje, é somente um laguinho.

Patrocínio tem a quarta maior reserva de fosfato do Brasil e a 3ª maior de Minas. Palavras do Anuário Mineral do Brasil e do Anuário Mineral de Minas Gerais (edições década de 80).

Patrocínio tem a maior reserva de mineral olivina-dunito de Minas. Palavras dos mesmos anuários.

Patrocínio é o 4º maior arrecadador de ICMS do Triângulo (isso nos anos 80). Palavra da Secretaria Estadual de Fazenda. Hoje, perdeu algumas posições.

Patrocínio é o maior polo armazenador do Alto Paranaíba. Palavra da (antiga) Casemg (anos 80). Como se diz no futebol, “segue o líder.”

É patrocinense o maior empresário de transportes do Brasil, Nenê Constantino. Palavras de algumas revistas especializadas (anos 80). E continua sendo (Grupos Expresso União, Comporte e Gol).

Patrocínio possui os maiores frigoríficos da região. Palavras de técnicos e empresários na década de 80. Hoje, mesmo com a renomada Pif Paf, nem tanto.

Patrocínio é o maior centro calçadista do Triângulo/Alto Paranaíba. Palavras de jornais de BH, anos 80. Hoje, somente um lindo retrato na parede! Que bela foto!

O queijo patrocinense é destaque nas principais capitais do Brasil. Palavras de técnicos nos anos 80. Hoje, mantém a presença, porém é superado por alguns vizinhos.

Patrocínio, maior produtor mineiro, produz 10% da seda brasileira. Palavras de jornais de BH, nos anos 80. Hoje, é tão somente um bem amarelado retrato na parede. Que maravilha de foto!

CARTILHA DO BAIRRISTA – Nos últimos vinte anos do século XX, a ladainha dos Mais Mais sempre era lida e falada. Cidade do mais puro ar; cidade da água mais cristalina; cidade das moças mais bonitas; cidade mais limpa; cidade das melhores escolas; enfim, a cidade melhor de se viver. Hoje, a resposta está com o... “senhor” cotidiano.

DIAS ATUAIS – O bom bairrista sempre tem vez e voz. Cidade do mais destacado futebol no Triângulo-Alto Paranaíba (CAP, SEP e craque Ademir). Cidade do supremo Pronto Socorro, no Triângulo. Mais importante município do Triângulo em produção agropecuária. Patrocínio é o 2º lugar de Minas em produção leiteira e o 4º lugar no Brasil (palavras do IBGE). E outras “coisitas”... que ficarão para depois.

POR FIM – Patrocínio é assim e muito mais, segundo os apaixonados bairristas. Seus olhos estão mais próximos do coração do que da razão, às vezes. Porém, pertence a eles a versão. Salve o bairrista. O anjo Gabriel do progresso!

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Economia. A sua história é importante. Como eram as primeiras indústrias, a energia debilitada, o constante desemprego. Tudo isso envolvendo Patrocínio e região. Isso consta do documento “Sinopse do Diagnóstico Sócio-Econômico do Triângulo e Alto Paranaíba”, da Universidade Federal de Uberlândia–UFU, período 1940 a 1980.

ANOS 40: POUCA ENERGIA – A expansão industrial do Triângulo esbarrava na falta de energia elétrica. Em 1942, havia 22 municípios com pequenas usinas geradoras de eletricidade. Inclusive Patrocínio. O Município, como Uberaba e Uberlândia, não conseguia a expansão do seu parque industrial. Embora a Cemig fora criada em 1952 pelo progressista governo Juscelino Kubitschek, ela começou a servir à região somente em 1960 (Uberlândia, por exemplo, teve a sua empresa de energia incorporada à Cemig apenas em 1973).


Aquí, na Cachoeira Zé Pedro, estava a hidrelética de Patrocínio. Foto: Fundação Casa da Cultura|Patrocínio-MG


PATROCÍNIO TINHA UMA DAS MAIORES USINAS
– Em 1942, com um capital empregado de Cr$ 1.100.000,00 (um milhão e cem mil cruzeiros), a empresa Força e Luz de Patrocínio era a segunda maior do Triângulo com sede na região (sua sede localizava-se à Av. Rui Barbosa, quase Av. Faria Pereira). Tinha 9 funcionários e a sua maior usina hidroelétrica denominada José Pedro, era no município de Coromandel. Potência de 152kw. Essa companhia de Força e Luz pertencia a Francisco Rocha Nunes. No município de Patrocínio, havia ainda a pequena empresa de Serra do Salitre (10kw) e Catiara (4kw). Nessa ocasião, Serra do Salitre não tinha se emancipado dos patrocinenses, porque ocorreu em 1953.

GRANDES” EMPRESAS DE ELETRICIDADE – Ituiutaba, com capital de Cr$ 1.009.812,00, era no padrão da companhia elétrica patrocinense. A mesma coisa com a de Araxá. Já Uberaba era bem maior em todos os aspectos. A de Patos de Minas, de propriedade da Prefeitura patense, era a metade da hidroelétrica patrocinense. Enquanto que as de Uberlândia e Araguari eram maiores que a usina de Patrocínio, porém as sedes das respectivas empresas eram em outro estado.

1955: NOMES DAS INDÚSTRIAS PATROCINENSES – Mesmo com a fraquíssima energia elétrica, Patrocínio possuía algum ramo industrial nos anos 50. A Cerâmica Patrocínio Ltda., localizada no bairro Vila Constantino, era uma das principais do Triângulo. Contudo, enquanto no Município só havia ela, Monte Carmelo tinha quatro cerâmicas. No ramo de calçados, o estudo da UFU indicava para a cidade Lauderico Pio de Souza (o inesquecível Bebém). No ramo de carnes, Patrocínio era destaque na região com a Charqueada Patrocínio Ltda. e a Indústria de Carnes e Derivados Ltda. (futuro Frigorífico Dourados).

E MAIS: ÁREAS DE CONSTRUÇÃO E PADARIA – Como indústria, na construção civil, em 1955, apareceu o nome do construtor Gastão Teixeira de Almeida. No ramo das panificadoras, de Patrocínio, constou a Padaria N. S. Auxiliadora, à Rua Marechal Floriano (em frente, ao futuro Mercado Municipal, que também já deixou de existir). O proprietário era Hélio Alves de Souza (filho do ícone dos padeiros, Sr. Polidoro Alves).

TRISTE! – Os meados da década de 50 mostravam que a industrialização patrocinense era um fracasso. Isso se comparada com o que acontecia em cidades do porte de Patrocínio, tais como: Monte Carmelo, Araxá, Sacramento, Patos de Minas, Araguari e outras. Laticínio é um exemplo histórico. Em 1955, Patrocínio era grande produtor de leite, todavia com nenhuma indústria láctea. Enquanto isso, treze municípios vizinhos abrigavam um ou mais laticínios. Só hoje, quase 80 anos depois, Patrocínio começa a acordar de seu profundo sono industrial, sobretudo quanto ao leite.

TEMPO PASSANDO, NADA MUDANDO – No começo da década de 80, Patrocínio, timidamente, ensaiou pequena industrialização com a indústria têxtil e de calçados. Com isso, criou 200 empregos, segundo o INDI. E criou também mais 60 empregos na agroindústria. Assim, 260 novos empregos localizados na Saiasi e Piter (ambas no ramo de calçados) e Minasilk/Sericitêxtil (seda). Nenhuma delas resistiu até o novo século. Lamentavelmente.

SINAIS DO DESEMPREGO – Em 1960, a população economicamente ativa (que trabalha) de Patrocínio tinha 19% na agropecuária, 3% na indústria e 10% em serviços. Ou seja, somente 32% da população total trabalhava para ganhar dinheiro. Muito pouco. Apenas em 1980, melhorou um pouquinho. Todavia, a falta de empregos continuou rondando a cidade.

ASSIM – Na primeira metade do século XX, Patrocínio teve sua pujança relativa (a aquele tempo). Dos anos 1950 a 1980 predominou o marasmo. Com a chegada do Polocentro e outras ações governamentais, a partir da década de 1980, o desenvolvimento, o progresso, voltou a sorrir no Município. Não atingiu o ápice. Contudo, a caminhada é louvável. E segue.

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Revelações. Sobre Patrocínio e Alto Paranaíba sempre é um deleite conhecê-las. Assim, um pouco de como eram o Município e a Região em um período de meio século, compreendido entre 1890 e 1940. Tais como: a população, o surgimento de bancos e de frigoríficos. Nesse tempo, Patrocínio tinha mais habitantes do que Uberaba e Uberlândia juntas. Monte Carmelo era maior do que Araguari e Uberlândia. Tudo isso encontra-se registrado no documento “Sinopse do Diagnóstico Sócio-Econômico do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba”, publicado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

A FAMOSA VIA – Segundo pesquisas da UFU, a expedição de Bartolomeu Bueno da Silva Filho, o antológico Anhanguera, construiu a Estrada Real ou Estrada do Anhanguera ou Picada de Goiás (nome mais conhecido pelos patrocinenses). Isso se deu 1722. A estrada partia de São Paulo, passava pelo Sul de Minas até São João Del Rei. E de lá, atravessava o Rio São Francisco, perto de Bambuí, e ia em direção a Araxá, Patrocínio, Coromandel, Paracatu e chegava a Goiás. Segundo alguns historiadores, nessa ocasião, havia também um “braço” da Picada partindo de Sabará em direção a Pitangui.

PROFECIA DE SAINT HILAIRE – Sobre a vocação agropecuária da região o naturalista/pesquisador/escritor francês Hilaire escreveu em 1819: “Quando o País não for mais tão deserto (sem população), os habitantes de outros distritos menos favorecidos (do Brasil) poderão vir aí (Triângulo/Alto Paranaíba) prover-se dos gêneros que atualmente encontram pouca saída, e pode-se crer que a feliz fertilidade dos arredores de Farinha Podre (Triângulo) lhe assegura, para o futuro, destinos brilhantes.” Dito e feito, aí está o desenvolvido Triângulo e Alto Paranaíba. Saint Hilaire esteve em Patrocínio em 1819. Um visionário.

O MUNICÍPIO MAIS ALTO – Serra do Salitre, que pertencia ao município de Patrocínio até 1953, é a segunda cidade de altitude mais elevada no Triângulo/Alto Paranaíba. São 1.200 metros de altura. Somente Pratinha, próximo à (também) alta Campos Altos (1.195m), é a de maior altitude, com 1.277m. Patrocínio tem 966m.

FANTÁSTICO! LIDERANÇA POPULACIONAL – No primeiro ano da República (1890), Patrocínio tinha 49.893 habitantes. Nesse tempo, Coromandel, Abadia dos Dourados, Serra do Salitre e Cruzeiro da Fortaleza integravam o município de Patrocínio. Os patrocinenses representavam 20% de toda a população do Triângulo e Alto Paranaíba. Disparadamente, o 1º lugar. Pois, o 2º lugar, Araxá, tinha 34.017 hab. Patos de Minas (3º) tinha 28.477 hab. E surpreendentemente, Carmo do Paranaíba quase empatava com Patos, com os 25.056 habitantes. Está aí uma das explicações da histórica rivalidade de Carmo com Patos.

A “TURMA DE BAIXO” – Uberaba, mais velha do que Patrocínio, só com 20.818 hab. A rica Estrela do Sul 18.071 hab., e as pequeninas Uberlândia e Araguari, com, respectivamente, 11.856 hab. e 10.633 hab. Ou seja, dentro de Patrocínio cabiam juntas Uberlândia, Araguari, Uberaba e Monte Carmelo (esse era habitado por 16.602 pessoas). A fonte dessa informação é em obra de Rodolph Jacobs.

MUITA POPULAÇÃO, POUCO COMÉRCIO – O mesmo autor procurou traçar perfil comercial da região com São Paulo. No Censo de 1890, Jacobs demonstrou que Patrocínio era a grande cidade com menos unidades comerciais em relação à sua população. Perdia para a dupla “U” (Uberaba e Uberlândia), Araguari, Patos, Sacramento até para cidades de outras regiões, como Montes Claros e São João Del Rei. Provavelmente, por causa de uma linha ferroviária ligando a capital paulista a Araguari (Estrada de Ferro Mogiana). O Triângulo era o maior produtor de arroz do País.

OS BANCOS EM PATROCÍNIO – Em 1946, a cidade contava com um escritório bancário do Banco do Brasil, agência do Banco do Comércio e Indústria de Minas Gerais (Praça Honorato Borges), escritórios do Banco Crédito Real de Minas Gerais, e Banco Hipotecário Agrícola de Minas Gerais e Banco da Lavoura de Minas Gerais. E mais, agências do Banco Mineiro da Produção (Bemge, futuro) à Rua Presidente Vargas, e, Banco de Minas Gerais. Portanto, três agências bancárias e quatro escritórios.

POPULAÇÃO DIMINUIU – Devido as emancipações de Coromandel e Abadia dos Dourados, há 75 anos (em 1946), Patrocínio tinha uma população de 21.714 hab. A de Araguari era quase a de Uberlândia, que era de 54.984 hab. Naquela década, a população de Uberaba era a maior (61.000 hab.) do Triângulo. E a de Araxá, menor do que a de Patrocínio.

INDÚSTRIA DE CARNES – Segundo o Departamento Estadual de Estatística, a industrialização de charque e produtos anexos, em 1939, posicionou Patrocínio em 3º lugar no Triângulo, com produção de 868 mil quilos. À frente, Uberlândia e, com surpresa, Ibiá. De acordo com a UFU, naquele ano, a Charqueada Ômega deu origem ao grupo Ômega. E em Patrocínio, a Charqueada ao grupo Dourados, à Rua São João (hoje, Avenida José Maria Alkmim).

POR FIM – A concorrência da produtividade da indústria paulista, o melhor transporte e o mercado mais poderoso naquele estado impediram muito a expansão industrial do Triângulo. E a energia elétrica também. Próximas edições, essa energia no Triângulo, inclusive Patrocínio, será apresentada. O cenário visualiza 1942. Muita curiosidade histórica nisso.

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Jornalista patrocinense Odair de Oliveira. Foto: Academia Mineira de Letras

História
. A da terra natal é um encanto. Então, dizer quem foi o patrocinense que teve três poderes públicos, ao mesmo tempo, em suas mãos torna-se exercício cultural e cheio de curiosidade. E quando aparece o nome Rangel suscita frisson. Com o apoio de crônica de Odair de Oliveira, o mistério é desvendado. Odair, falecido, foi o maior jornalista nascido em Patrocínio (em 1917) de expressão nacional. Sebastião Elói foi o maior de expressão municipal.
 

A PRIMEIRA CARTA AO IMPERADOR – Pouco depois da Declaração de Independência do Brasil, dezembro de 1822, foi enviada a Dom Pedro I, carta de impressionante beleza literária. Ela solicitava ao Imperador a criação do julgado de Patrocínio. Segundo Odair, “uma obra-prima”. O provável autor foi o padre Manuel Luís da Silva Alcobaça, que era também sesmeiro (dono de terras). Possivelmente, deixou a Igreja, casou-se e deixou a Guarda Nacional em 1851 (morando em Patrocínio). 

POR VOLTA DE 1850, SURGE UM INTELECTUAL – Defensor do Direito e das leis, Francisco Alves de Souza, surgiu no cenário de Patrocínio. Autodidata de alto nível, combativo, esteve sempre envolvido com os “fogos” no Município e região. Como não havia escolas (Patrocínio), provavelmente a cultura de Francisco veio com da convivência com o padre Alcobaça, pois ambos pertenciam ao Partido Conservador. Mais tarde, Francisco Alves passou a ser o grande líder desse partido no Município. 

CONFUSÃO NA CÂMARA MUNICIPAL – Em 1853, houve renovação do Legislativo patrocinense. Entre os vereadores eleitos se encontrava um Rangel. Exatamente, Antônio Corrêa Rangel, delegado de Polícia na Comarca. Nessa ocasião, baseado na organização do Estado Democrático, surgido após a Revolução Francesa, o intelectual Francisco Alves defendia o princípio contrário à acumulação de cargos públicos. Nesse contexto, todos os vereadores tomaram posse, exceto Rangel. Pois, levantou-se dúvida sobre a possibilidade legal de um cidadão exercer duas funções públicas ao mesmo tempo.
 
A FÚRIA DE RANGEL – A reação do delegado foi violenta. Rangel alegou que a postura da Câmara Municipal era uma “desfeita”. Isso ele não aceitava. E com voz alta, ameaçou prender todos os vereadores. Todos, sem exceção. A Câmara tremeu. E isso seria fácil para Rangel. Porque a Câmara Municipal, juntamente com o Juizado Municipal (uma espécie de Fórum), funcionava no segundo andar do prédio da cadeia, que ficava no primeiro andar. Esse sobrado localizava-se no Largo do Rosário, atrás de onde é hoje a Escola Municipal Honorato Borges (o Largo era imenso, duas a três vezes maior do que a praça hoje).
 
A INTELIGÊNCIA ENTRA EM AÇÃO – O delegado cercou com a polícia e alguns “bate-paus” (cidadãos comuns a serviço da polícia), a sede do Legislativo, Judiciário e Cadeia. Francisco Alves de Souza explicou a Rangel que todos eram seus amigos. Não haveria nenhuma maldade. E que se deveria consultar o governo provincial em Ouro Preto. O governo reconheceu a irregularidade, porém apontou que a legislação, inclusive a Municipal, era omissa no assunto. E indicou que se desse posse a Antônio Corrêa Rangel, visando evitar distúrbios e batalhas.
 
O MEDO DOS VEREADORES – Os novos mandatários do povo reuniram-se, então, para a constituição da nova Câmara, escreveu Odair de Oliveira, e elegeram para presidente da Câmara e Agente Executivo (prefeito) Rangel. Assim, depois da reação do delegado e da consulta à Província, os vereadores deram posse ao vereador-delegado Rangel, e ainda o escolheram presidente da Câmara (naquele tempo o presidente da Câmara, frequentemente, era o Agente Executivo, ou seja, o prefeito também).
 
PODER TOTAL – Patrocínio teve assim um dirigente municipal (vereador, presidente da Câmara Municipal e prefeito), que simultaneamente, era delegado de Polícia, dizia o jornalista/pesquisador Odair de Oliveira. Quatro funções públicas em uma só pessoa. Insuperável. Rangel comandou Patrocínio.
 
POR FIM – O pensamento do patrocinense Francisco Alves de Souza, que conhecia muito o que os pensadores franceses Montesquieu, Turgot e Seyés escreveram, entrou em colisão com os legisladores do Império.
 
PARA NÃO CONFUNDIR – Há outro Rangel na história de Patrocínio. Trata-se de Antônio Rangel Galião, um paulista aventureiro. Como a Vila era o centro de abastecimento aos tropeiros, que vinham sobretudo de Vila Rica e São Paulo, em direção a Goiás, o Rancho do Rangel (na região do Bairro Morada Nova) transformou-se no maior ponto de mulheres, farras e jogos da Picada de Goiás. Breve, detalhes desse Rangel folclórico.
 
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