Bairrismo. É um lindo sentimento de quem ama demais à sua terra natal. Ou até à sua região, em um sentido mais macro, mais abrangente. E este autor escreveu para o “Jornal Presença”, edição de 25/8/1988, bom semanário editado na cidade naquele tempo, crônica sobre este tema. Dela é extraído a emoção de quase a totalidade da população com o seu torrão. Com o chão que habita.
À PRIMEIRA VISTA, UM BOBO – Muitas vezes, o bairrista é mal interpretado. É uma pessoa mal avaliada. Que vive no mundo da lua. Ledo engano. O bairrista é um bom filho apenas. Afinal, mãe é o melhor ser desse mundo. Merece ser sempre louvada. Com a terra-mãe não seria diferente. O bairrista também é excelente comerciante. Pois, entende que a sua terra tem produtos de qualidade. Para não dizer, os melhores “do mundo”.
PURA VERDADE – O bairrista é a alma da cidade. Cidade sem bairrista é cidade sem vida. É cidade sem coração. O bairrista é a energia de uma comunidade. É a soberana voz amada por todos.
LADAINHA DO BAIRRISTA RANGELIANO:
• O subsolo patrocinense esconde em seu seio as maiores reservas do planeta do mineral anatásio, que é a origem do nobre titânio. Palavra do Anuário Mineral do Brasil e do Anuário Mineral de Minas Gerais (edições dos anos 80).
• O café de Patrocínio é o de melhor sabor no mundo. Palavra de corretores de café em Santos-SP (anos 80). E o Município é o maior produtor do Brasil, disparado. Palavra recente do IBGE.
• A água sulfurosa de Serra Negra é a mais forte do mundo em sais minerais, contendo seis gramas de sal por litro. Palavra de analistas, conforme publicações, inclusive o jornal “Minas Gerais” (década de 80). Hoje, abandonada, é quase apenas um retrato na parede!
• A água magnesiana é a mais mineralizada do Brasil. Palavra das mesmas publicações. Também um retrato na parede! Sobretudo após o desastre ambiental (incêndio), ocorrido nas últimas semanas.
• Patrocínio é um dos raros municípios brasileiros que possui uma cratera de vulcão extinto. Também na região de Serra Negra. Também palavra de técnicos nos anos 80. Também quase um retrato na parede! Pois a grande lagoa do Chapadão, acima da cratera do vulcão, hoje, é somente um laguinho.
• Patrocínio tem a quarta maior reserva de fosfato do Brasil e a 3ª maior de Minas. Palavras do Anuário Mineral do Brasil e do Anuário Mineral de Minas Gerais (edições década de 80).
• Patrocínio tem a maior reserva de mineral olivina-dunito de Minas. Palavras dos mesmos anuários.
• Patrocínio é o 4º maior arrecadador de ICMS do Triângulo (isso nos anos 80). Palavra da Secretaria Estadual de Fazenda. Hoje, perdeu algumas posições.
• Patrocínio é o maior polo armazenador do Alto Paranaíba. Palavra da (antiga) Casemg (anos 80). Como se diz no futebol, “segue o líder.”
• É patrocinense o maior empresário de transportes do Brasil, Nenê Constantino. Palavras de algumas revistas especializadas (anos 80). E continua sendo (Grupos Expresso União, Comporte e Gol).
• Patrocínio possui os maiores frigoríficos da região. Palavras de técnicos e empresários na década de 80. Hoje, mesmo com a renomada Pif Paf, nem tanto.
• Patrocínio é o maior centro calçadista do Triângulo/Alto Paranaíba. Palavras de jornais de BH, anos 80. Hoje, somente um lindo retrato na parede! Que bela foto!
• O queijo patrocinense é destaque nas principais capitais do Brasil. Palavras de técnicos nos anos 80. Hoje, mantém a presença, porém é superado por alguns vizinhos.
• Patrocínio, maior produtor mineiro, produz 10% da seda brasileira. Palavras de jornais de BH, nos anos 80. Hoje, é tão somente um bem amarelado retrato na parede. Que maravilha de foto!
CARTILHA DO BAIRRISTA – Nos últimos vinte anos do século XX, a ladainha dos Mais Mais sempre era lida e falada. Cidade do mais puro ar; cidade da água mais cristalina; cidade das moças mais bonitas; cidade mais limpa; cidade das melhores escolas; enfim, a cidade melhor de se viver. Hoje, a resposta está com o... “senhor” cotidiano.
DIAS ATUAIS – O bom bairrista sempre tem vez e voz. Cidade do mais destacado futebol no Triângulo-Alto Paranaíba (CAP, SEP e craque Ademir). Cidade do supremo Pronto Socorro, no Triângulo. Mais importante município do Triângulo em produção agropecuária. Patrocínio é o 2º lugar de Minas em produção leiteira e o 4º lugar no Brasil (palavras do IBGE). E outras “coisitas”... que ficarão para depois.
POR FIM – Patrocínio é assim e muito mais, segundo os apaixonados bairristas. Seus olhos estão mais próximos do coração do que da razão, às vezes. Porém, pertence a eles a versão. Salve o bairrista. O anjo Gabriel do progresso!
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Economia. A sua história é importante. Como eram as primeiras indústrias, a energia debilitada, o constante desemprego. Tudo isso envolvendo Patrocínio e região. Isso consta do documento “Sinopse do Diagnóstico Sócio-Econômico do Triângulo e Alto Paranaíba”, da Universidade Federal de Uberlândia–UFU, período 1940 a 1980.
ANOS 40: POUCA ENERGIA – A expansão industrial do Triângulo esbarrava na falta de energia elétrica. Em 1942, havia 22 municípios com pequenas usinas geradoras de eletricidade. Inclusive Patrocínio. O Município, como Uberaba e Uberlândia, não conseguia a expansão do seu parque industrial. Embora a Cemig fora criada em 1952 pelo progressista governo Juscelino Kubitschek, ela começou a servir à região somente em 1960 (Uberlândia, por exemplo, teve a sua empresa de energia incorporada à Cemig apenas em 1973).
Aquí, na Cachoeira Zé Pedro, estava a hidrelética de Patrocínio. Foto: Fundação Casa da Cultura|Patrocínio-MG
PATROCÍNIO TINHA UMA DAS MAIORES USINAS – Em 1942, com um capital empregado de Cr$ 1.100.000,00 (um milhão e cem mil cruzeiros), a empresa Força e Luz de Patrocínio era a segunda maior do Triângulo com sede na região (sua sede localizava-se à Av. Rui Barbosa, quase Av. Faria Pereira). Tinha 9 funcionários e a sua maior usina hidroelétrica denominada José Pedro, era no município de Coromandel. Potência de 152kw. Essa companhia de Força e Luz pertencia a Francisco Rocha Nunes. No município de Patrocínio, havia ainda a pequena empresa de Serra do Salitre (10kw) e Catiara (4kw). Nessa ocasião, Serra do Salitre não tinha se emancipado dos patrocinenses, porque ocorreu em 1953.
“GRANDES” EMPRESAS DE ELETRICIDADE – Ituiutaba, com capital de Cr$ 1.009.812,00, era no padrão da companhia elétrica patrocinense. A mesma coisa com a de Araxá. Já Uberaba era bem maior em todos os aspectos. A de Patos de Minas, de propriedade da Prefeitura patense, era a metade da hidroelétrica patrocinense. Enquanto que as de Uberlândia e Araguari eram maiores que a usina de Patrocínio, porém as sedes das respectivas empresas eram em outro estado.
1955: NOMES DAS INDÚSTRIAS PATROCINENSES – Mesmo com a fraquíssima energia elétrica, Patrocínio possuía algum ramo industrial nos anos 50. A Cerâmica Patrocínio Ltda., localizada no bairro Vila Constantino, era uma das principais do Triângulo. Contudo, enquanto no Município só havia ela, Monte Carmelo tinha quatro cerâmicas. No ramo de calçados, o estudo da UFU indicava para a cidade Lauderico Pio de Souza (o inesquecível Bebém). No ramo de carnes, Patrocínio era destaque na região com a Charqueada Patrocínio Ltda. e a Indústria de Carnes e Derivados Ltda. (futuro Frigorífico Dourados).
E MAIS: ÁREAS DE CONSTRUÇÃO E PADARIA – Como indústria, na construção civil, em 1955, apareceu o nome do construtor Gastão Teixeira de Almeida. No ramo das panificadoras, de Patrocínio, constou a Padaria N. S. Auxiliadora, à Rua Marechal Floriano (em frente, ao futuro Mercado Municipal, que também já deixou de existir). O proprietário era Hélio Alves de Souza (filho do ícone dos padeiros, Sr. Polidoro Alves).
TRISTE! – Os meados da década de 50 mostravam que a industrialização patrocinense era um fracasso. Isso se comparada com o que acontecia em cidades do porte de Patrocínio, tais como: Monte Carmelo, Araxá, Sacramento, Patos de Minas, Araguari e outras. Laticínio é um exemplo histórico. Em 1955, Patrocínio era grande produtor de leite, todavia com nenhuma indústria láctea. Enquanto isso, treze municípios vizinhos abrigavam um ou mais laticínios. Só hoje, quase 80 anos depois, Patrocínio começa a acordar de seu profundo sono industrial, sobretudo quanto ao leite.
TEMPO PASSANDO, NADA MUDANDO – No começo da década de 80, Patrocínio, timidamente, ensaiou pequena industrialização com a indústria têxtil e de calçados. Com isso, criou 200 empregos, segundo o INDI. E criou também mais 60 empregos na agroindústria. Assim, 260 novos empregos localizados na Saiasi e Piter (ambas no ramo de calçados) e Minasilk/Sericitêxtil (seda). Nenhuma delas resistiu até o novo século. Lamentavelmente.
SINAIS DO DESEMPREGO – Em 1960, a população economicamente ativa (que trabalha) de Patrocínio tinha 19% na agropecuária, 3% na indústria e 10% em serviços. Ou seja, somente 32% da população total trabalhava para ganhar dinheiro. Muito pouco. Apenas em 1980, melhorou um pouquinho. Todavia, a falta de empregos continuou rondando a cidade.
ASSIM – Na primeira metade do século XX, Patrocínio teve sua pujança relativa (a aquele tempo). Dos anos 1950 a 1980 predominou o marasmo. Com a chegada do Polocentro e outras ações governamentais, a partir da década de 1980, o desenvolvimento, o progresso, voltou a sorrir no Município. Não atingiu o ápice. Contudo, a caminhada é louvável. E segue.
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Revelações. Sobre Patrocínio e Alto Paranaíba sempre é um deleite conhecê-las. Assim, um pouco de como eram o Município e a Região em um período de meio século, compreendido entre 1890 e 1940. Tais como: a população, o surgimento de bancos e de frigoríficos. Nesse tempo, Patrocínio tinha mais habitantes do que Uberaba e Uberlândia juntas. Monte Carmelo era maior do que Araguari e Uberlândia. Tudo isso encontra-se registrado no documento “Sinopse do Diagnóstico Sócio-Econômico do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba”, publicado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
A FAMOSA VIA – Segundo pesquisas da UFU, a expedição de Bartolomeu Bueno da Silva Filho, o antológico Anhanguera, construiu a Estrada Real ou Estrada do Anhanguera ou Picada de Goiás (nome mais conhecido pelos patrocinenses). Isso se deu 1722. A estrada partia de São Paulo, passava pelo Sul de Minas até São João Del Rei. E de lá, atravessava o Rio São Francisco, perto de Bambuí, e ia em direção a Araxá, Patrocínio, Coromandel, Paracatu e chegava a Goiás. Segundo alguns historiadores, nessa ocasião, havia também um “braço” da Picada partindo de Sabará em direção a Pitangui.
PROFECIA DE SAINT HILAIRE – Sobre a vocação agropecuária da região o naturalista/pesquisador/escritor francês Hilaire escreveu em 1819: “Quando o País não for mais tão deserto (sem população), os habitantes de outros distritos menos favorecidos (do Brasil) poderão vir aí (Triângulo/Alto Paranaíba) prover-se dos gêneros que atualmente encontram pouca saída, e pode-se crer que a feliz fertilidade dos arredores de Farinha Podre (Triângulo) lhe assegura, para o futuro, destinos brilhantes.” Dito e feito, aí está o desenvolvido Triângulo e Alto Paranaíba. Saint Hilaire esteve em Patrocínio em 1819. Um visionário.
O MUNICÍPIO MAIS ALTO – Serra do Salitre, que pertencia ao município de Patrocínio até 1953, é a segunda cidade de altitude mais elevada no Triângulo/Alto Paranaíba. São 1.200 metros de altura. Somente Pratinha, próximo à (também) alta Campos Altos (1.195m), é a de maior altitude, com 1.277m. Patrocínio tem 966m.
FANTÁSTICO! LIDERANÇA POPULACIONAL – No primeiro ano da República (1890), Patrocínio tinha 49.893 habitantes. Nesse tempo, Coromandel, Abadia dos Dourados, Serra do Salitre e Cruzeiro da Fortaleza integravam o município de Patrocínio. Os patrocinenses representavam 20% de toda a população do Triângulo e Alto Paranaíba. Disparadamente, o 1º lugar. Pois, o 2º lugar, Araxá, tinha 34.017 hab. Patos de Minas (3º) tinha 28.477 hab. E surpreendentemente, Carmo do Paranaíba quase empatava com Patos, com os 25.056 habitantes. Está aí uma das explicações da histórica rivalidade de Carmo com Patos.
A “TURMA DE BAIXO” – Uberaba, mais velha do que Patrocínio, só com 20.818 hab. A rica Estrela do Sul 18.071 hab., e as pequeninas Uberlândia e Araguari, com, respectivamente, 11.856 hab. e 10.633 hab. Ou seja, dentro de Patrocínio cabiam juntas Uberlândia, Araguari, Uberaba e Monte Carmelo (esse era habitado por 16.602 pessoas). A fonte dessa informação é em obra de Rodolph Jacobs.
MUITA POPULAÇÃO, POUCO COMÉRCIO – O mesmo autor procurou traçar perfil comercial da região com São Paulo. No Censo de 1890, Jacobs demonstrou que Patrocínio era a grande cidade com menos unidades comerciais em relação à sua população. Perdia para a dupla “U” (Uberaba e Uberlândia), Araguari, Patos, Sacramento até para cidades de outras regiões, como Montes Claros e São João Del Rei. Provavelmente, por causa de uma linha ferroviária ligando a capital paulista a Araguari (Estrada de Ferro Mogiana). O Triângulo era o maior produtor de arroz do País.
OS BANCOS EM PATROCÍNIO – Em 1946, a cidade contava com um escritório bancário do Banco do Brasil, agência do Banco do Comércio e Indústria de Minas Gerais (Praça Honorato Borges), escritórios do Banco Crédito Real de Minas Gerais, e Banco Hipotecário Agrícola de Minas Gerais e Banco da Lavoura de Minas Gerais. E mais, agências do Banco Mineiro da Produção (Bemge, futuro) à Rua Presidente Vargas, e, Banco de Minas Gerais. Portanto, três agências bancárias e quatro escritórios.
POPULAÇÃO DIMINUIU – Devido as emancipações de Coromandel e Abadia dos Dourados, há 75 anos (em 1946), Patrocínio tinha uma população de 21.714 hab. A de Araguari era quase a de Uberlândia, que era de 54.984 hab. Naquela década, a população de Uberaba era a maior (61.000 hab.) do Triângulo. E a de Araxá, menor do que a de Patrocínio.
INDÚSTRIA DE CARNES – Segundo o Departamento Estadual de Estatística, a industrialização de charque e produtos anexos, em 1939, posicionou Patrocínio em 3º lugar no Triângulo, com produção de 868 mil quilos. À frente, Uberlândia e, com surpresa, Ibiá. De acordo com a UFU, naquele ano, a Charqueada Ômega deu origem ao grupo Ômega. E em Patrocínio, a Charqueada ao grupo Dourados, à Rua São João (hoje, Avenida José Maria Alkmim).
POR FIM – A concorrência da produtividade da indústria paulista, o melhor transporte e o mercado mais poderoso naquele estado impediram muito a expansão industrial do Triângulo. E a energia elétrica também. Próximas edições, essa energia no Triângulo, inclusive Patrocínio, será apresentada. O cenário visualiza 1942. Muita curiosidade histórica nisso.
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Jornalista patrocinense Odair de Oliveira. Foto: Academia Mineira de Letras
História. A da terra natal é um encanto. Então, dizer quem foi o patrocinense que teve três poderes públicos, ao mesmo tempo, em suas mãos torna-se exercício cultural e cheio de curiosidade. E quando aparece o nome Rangel suscita frisson. Com o apoio de crônica de Odair de Oliveira, o mistério é desvendado. Odair, falecido, foi o maior jornalista nascido em Patrocínio (em 1917) de expressão nacional. Sebastião Elói foi o maior de expressão municipal.
A PRIMEIRA CARTA AO IMPERADOR – Pouco depois da Declaração de Independência do Brasil, dezembro de 1822, foi enviada a Dom Pedro I, carta de impressionante beleza literária. Ela solicitava ao Imperador a criação do julgado de Patrocínio. Segundo Odair, “uma obra-prima”. O provável autor foi o padre Manuel Luís da Silva Alcobaça, que era também sesmeiro (dono de terras). Possivelmente, deixou a Igreja, casou-se e deixou a Guarda Nacional em 1851 (morando em Patrocínio).
POR VOLTA DE 1850, SURGE UM INTELECTUAL – Defensor do Direito e das leis, Francisco Alves de Souza, surgiu no cenário de Patrocínio. Autodidata de alto nível, combativo, esteve sempre envolvido com os “fogos” no Município e região. Como não havia escolas (Patrocínio), provavelmente a cultura de Francisco veio com da convivência com o padre Alcobaça, pois ambos pertenciam ao Partido Conservador. Mais tarde, Francisco Alves passou a ser o grande líder desse partido no Município.
Com o retorno das aulas presenciais na maioria dos estados brasileiros, a prioridade, além de manter os cuidados necessários à proteção da saúde dos alunos, professores e funcionários, é recuperar o tempo perdido e reparar, o mais rapidamente possível, a defasagem provocada pelo longo período no qual os estudantes ficaram distantes do ambiente escolar. Nesse sentido, cabe alertar as autoridades para relatório que acaba de ser divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), que contém informações relevantes sobre a questão.
A despeito do ensino virtual adotado por grande parte dos países ter contribuído para que se mantivessem minimamente as agendas dos anos letivos, o necessário fechamento de escolas na luta contra o contágio da Covid-19 representou a substituição de uma cultura escolar de "segurança, amigos e comida" por "ansiedade, violência e até aumento da gravidez na adolescência". Deve ser considerado, ainda, o fato de que o aprendizado remoto tem sido inacessível para cerca de um terço das crianças em idade escolar em todo o mundo. Dada a gravidade da situação, que atinge contingente expressivo de alunos brasileiros, é determinante que os governos federal, estaduais e municipais, conforme recomenda a Unicef, protejam o orçamento da educação.
Outra sugestão pertinente é que as matrículas sejam estendidas a crianças que já estavam fora da escola antes da pandemia. Segundo estudo anterior do organismo multilateral, divulgado em maio último e intitulado Cenário da Exclusão Escolar no Brasil - um Alerta sobre os Impactos da Pandemia da Covid-19 na Educação, tínhamos em nosso país, em 2019, 1,1 milhão de crianças e adolescentes de quatro a 17 anos sem acesso à educação. O número, já suficientemente preocupante, aumentou em 2020 para 5,1 milhões, dos quais 3,7 milhões estavam oficialmente matriculados, mas não tiveram como manter o aprendizado em casa.
Corroborando com os riscos para crianças e adolescentes fora da escola apontados pela Unicef, as Nações Unidas divulgaram informação grave sobre o tráfico humano, num cenário no qual a pandemia empurrou 124 milhões de pessoas para a pobreza extrema, agravando sua vulnerabilidade ante essa atividade criminosa. Na média global, um terço das vítimas é constituído por crianças e adolescentes, que, nas nações de baixa renda, representam metade dos atingidos por esse hediondo crime.
Não há dúvida de que a infância e a juventude, principalmente em nações emergentes e pobres, encontram-se entre os segmentos demográficos mais prejudicados pela pandemia. O novo coronavírus deixa uma lição definitiva e incontestável: a educação, além de garantir a independência, consciência, prerrogativas da cidadania, inclusão e oportunidades de ascensão socioeconômica, é decisiva para a proteção, sociabilização e alimentação adequada de milhões de crianças, no Brasil e no mundo.
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* Carlos Trindade é diretor pedagógico da Realvi English Immersion, Edtech especializada em ensino bilíngue.