Zé Carlos entrevistando Paulo Alan, do Patrocinense, em um jogo contra o Cruzeiro, no Mineirão em 1991. Foto: arquivo: Rede Hoje

Som da Memória | Luiz Antônio Costa

Não é meu sangue, mas é como se fosse. Busco na memória, momentos que nós e nossas famílias vivemos juntos. Meu amigo-irmão José Carlos Dias se prepara para completar 71 anos no próximo dia 30 de outubro. A celebração vem em um momento de luta: há pouco mais de três meses, descobriu um câncer, contra o qual já trava batalha com altivez e serenidade. 

Tudo começou com uma dor nas costas. No início, não parecia nada grave. Mas, com o tempo, o incômodo aumentou e, após exames sugeridos pelo médico da Santa Casa, Dr. Leandro, veio a confirmação do diagnóstico. Desde então, Zé Carlos se dedica ao tratamento em Uberlândia. Já passou por três sessões de quimioterapia e nesta semana completa a quarta. Sempre firme, diz com confiança: “já foram dois terços do tratamento, estou aqui de volta pra quarta sessão”. Graças a Deus, uma equipe de médicos e uma família dedicada, está melhorando a cada dia, e já prometeu voltar na nossa reunião quinzenal com Conselho de Administração da Santa Casa. 

Essa força não surpreende quem o conhece. Apoiado pelos filhos, netos, irmãos, sobrinhos e, especialmente, pela esposa companheira de todas as horas, Eloisa, José Carlos segura-se também na fé — uma fé que não nasceu agora. Há décadas, ele participa de movimentos da Igreja Católica, ajudou a reformar templos, participou da construção do Seminário Menor e sempre se colocou a serviço da comunidade.

No trabalho, a mesma energia. Fomos sócios por 34 anos na comercialização da programação das Rádios Difusora (95 e 98). Lembro com clareza do esforço coletivo para viabilizar a 98 FM em Patrocínio, fruto de muito empenho nosso. Mais tarde, junto a outros parceiros, Zé Carlos esteve à frente da criação da Monte FM, em Monte Carmelo. Muito dessa vitalidade fez do Grupo Difusora de Comunicação o que é hoje.

Paranaense de nascimento, como eu — que vim de Ibiá —, e como José Maria Campos, nascido em Coromandel, todos nós recebemos o título de Cidadania Honorária de Patrocínio, um reconhecimento pela vida dedicada à cidade que nos acolheu.

Minha mulher Márcia, nossos filhos, todos vivemos décadas de convivência próxima com o Zé Carlos, Eloisa e seus filhos. Nossas famílias cresceram lado a lado. Nossos filhos e filhas estudaram, brincaram juntos e hoje, homens e mulheres feitos, são grandes amigos. Por isso digo: ele não fez parte do meu sangue, mas é meu irmão de vida, e agora torço com toda força pela sua recuperação.

Filho de dona Triony e de Juca Baiano, o “Juca da Prefeitura”, José Carlos sempre mostrou garra. Venceu na vida com trabalho, dedicação e caráter, construindo com Eloisa a família com Júnior, Eliza e Bruno. Dificuldades? Claro que teve. Mas sempre as enfrentou com coragem.

O esporte também foi palco de sua história. Excelente lateral-esquerdo nos times amadores Santos e Santo Antônio (seu time do coração), vestiu ainda a camisa do Patrocínio Esporte, disputando a Copa Sul Triângulo. Mais tarde, através de sua loja Mundo dos Esportes, montou um time espetacular — cujo goleiro era Borrachinha, hoje cineasta e escritor, Alberto Araújo, residente em Goiânia.

Formamos por longos anos uma dupla de repórteres esportivos na Rádio Difusora. Ele, atleticano; eu, cruzeirense. Cobrimos finais de Campeonato Brasileiro por todo o país; Atlético e Cruzeiro, às quartas e domingos, em Belo Horizonte;  além das jornadas do Patrocinense, do futebol amador e do futsal. Foi um período intenso, de viagens, transmissões emocionantes e de muito aprendizado conjunto.

Depois, ainda nos anos 1980, com o crescimento do Patrocinense, segui definitivamente para a narração esportiva, enquanto Zé Carlos se alternava entre as funções de comentarista (que é até hoje) e repórter. A foto que ilustra esta crônica registra bem esse tempo: Zé Carlos entrevistando Paulo Alan, do Patrocinense, em um jogo contra o Cruzeiro, no Mineirão.

Como dirigente esportivo, ajudou a formar equipes memoráveis, foi tricampeão mineiro de futsal do interior pelo Patrocínio Tênis Clube e presidiu a Vila Olímpica Ninho da Águia.

Na filantropia e na fé, deixou marcas na Paróquia Nossa Senhora do Patrocínio e em São José, sempre presente em movimentos comunitários.

Profissionalmente, são 43 anos no Grupo Difusora de Rádio, além de sócio da Monte FM. Diretor comercial, produtor rural e sócio do Café Bica, Zé Carlos nunca deixou de multiplicar esforços em diferentes áreas.

No ano passado, ao comemorar 70 anos, em 2024, deu mais uma lição de solidariedade: abriu mão de presentes para arrecadar doações, repassadas a quatro instituições de Patrocínio — Hospital do Câncer, Santa Casa, APAE e Casa do Idoso. Andreia Ribeiro, superintendente do HC, resumiu bem o gesto: “a generosidade do amigo José Carlos é um exemplo inspirador para todos nós”.

Hoje, enquanto enfrenta a doença, ele inspira ainda mais. Mostra que a vida, mesmo em seus desafios mais duros, pode ser vivida com fé, esperança e dignidade.

Obrigado, amigo-irmão José Carlos. Sua história é um patrimônio de Patrocínio e de todos que têm a sorte de caminhar ao seu lado. boa recuperação, amigo!


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