Luiz Antônio Costa | Contos (e Cronicas) do Caminho

O rádio ainda está mais vivo do que nunca. Mesmo hoje, com toda a internet e as inúmeras formas de comunicação, ele continua fazendo parte das nossas vidas. Ao longo de sua existência, muitas histórias surgiram entre aqueles responsáveis por levar alegria, informação, música e afeto a quem ouve.

Sempre fazíamos jogos no Maracanã, Morumbi, Parque do Sabiá, Serra Dourada — enfim, nos grandes estádios. De vez em quando, um companheiro novo estreava. E sempre que alguém debutava na equipe de esportes da Difusora de Patrocínio, que eu comandava, era “batizado”, era praxe no meio. A gente brincava com o colega, pregando alguma peça.

Um operador de áudio, em sua primeira vez em Belo Horizonte, ficou admirado com o tamanho do Mineirão. Logo na chegada, ainda de fora, só falava disso. Quando voltamos, inventamos uma história “maldosa” de que ele teria dito:
— Nossa, Belo Horizonte é grande mesmo, hein? Olha o tamanho da caixa d’água!
Numa alusão ao estádio. Claro que ele nunca falou isso, só ficou impressionado. Mas a história pegou.

Numa viagem para Uberaba, para transmitir o jogo do Patrocinense contra o Uberaba, vimos uma placa logo depois de Nova Ponte, na entrada de uma fazenda. O companheiro José Maria Campos comentou sobre a “boa comunicação” do dono. A placa dizia: “Vende frango-se.”

Outra vez, estávamos no Maracanã, transmitindo Flamengo e Santos. Eu era repórter. Quando os times entravam em campo, fui direto ao zagueiro Luiz Pereira e perguntei:
— E aí, Luizão, e o jogo?
O Pereirão, sarcástico e literal, respondeu:
— Vai começar agora!

Certa vez, no Mineirão, num jogo entre Cruzeiro e Corinthians, entrevistei o atacante Edmar, eleito o melhor em campo. Parabenizei o jogador pela atuação e disse que ele merecia um prêmio. Ele, com uma medalhinha e um cordão de ouro na mão, respondeu:
— Eu não ganhei presente, não. Mas alguém perdeu este cordão. Quem tiver perdido, pode pegar comigo!
Foi uma coincidência, mas virou história.

Os repórteres de rádio ficavam “na vara” quando o narrador, lá da cabine, determinava o que perguntar e a quem. Em um jogo entre Uberlândia e Vasco, no Parque do Sabiá, o locutor da nossa equipe mandou o repórter entrevistar Geraldo Touro — grande nome, junto com Moacir, Zecão, Batata, Maurinho, Eduardo, Vivinho e Zé Carlos, todos comandados por Vicente Lage. O repórter, contrariado, respondeu:
— Não dá pra entrevistá-lo, o Geraldo Touro está do outro lado do gramado. O fio não chega lá.
E o narrador retrucou:
— Se tiver boa vontade, o cabo dá!
O repórter não deixou barato:
— Você é muito bom, desce aqui e faz a entrevista!
— Eu faço mesmo! — respondeu o narrador.
A discussão continuou na viagem de volta. O repórter, irritado, desceu do carro e foi com a torcida o resto do trajeto. Depois, ficou tudo bem. Os personagens: Assis Filho, narrador, e José Carlos Dias, repórter.

Outra história virou folclore. Um atleta — que prefiro não citar o nome — viajou com o Atlético para Belém, onde enfrentaria o Remo. O repórter perguntou o que ele sentia ao jogar “em Belém”. E ele respondeu, todo satisfeito:
— Ah, fico muito feliz de jogar na terra onde nasceu Nosso Senhor...
Mostrando desconhecimento de que Cristo nasceu em Belém, sim, mas na Palestina.

Uma vez, numa transmissão de Cruzeiro e Atlético, o Galo entrou em campo com um mascote inflável gigante. Era novidade na época — o boneco enchia o gramado de cor, chamava a atenção da torcida e dava um toque de espetáculo à entrada do time.
No meio da empolgação da transmissão, um dos repórteres de campo, maravilhado com o tamanho da figura, resolveu destacar o momento ao vivo:
“Luiz Antônio, veja o tamanho do Galo inflamável!”
Do outro lado, na cabine, ninguém segurou o riso. A intenção, claro, era dizer “inflável”, mas o deslize virou folclore instantâneo entre os colegas. Durante semanas, bastava alguém falar de mascote ou de Galo que o episódio voltava à tona.

Pra fechar, uma história da Rádio Globo de São Paulo. “O Capitão Gay” era um personagem do Jô Soares na televisão. Osmar Santos, grande locutor esportivo, chamou seu repórter de campo:
— Agora, o repórter Fausto Silva, o Capitão Gay!
Porque o Faustão, na época, era gordo como o personagem. Fausto não se fez de rogado e respondeu:
— Muito obrigado, general gay Osmar Santos!
O general é um posto superior ao de capitão. E o Faustão, com o humor que o caracterizava, devolveu na mesma altura.

Eram tempos fantásticos do rádio, cheios de improviso, talento e histórias que deixaram saudade. Hoje, por ser outro tempo e outra linguagem, muitas dessas cenas não seriam mais permitidas — mas continuam vivas na memória de quem viveu aquele rádio de ouro.


Esta obra é baseada em dados reais. Este conto/crônica fará parte do livro "Contos do Caminho", do autor. A imagem é gerada por AI (Intelgência Artificial)

Todas as notícias