
Lula e o presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, após assinatura de acordos em Jacarta. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Da Redação da Rede Hoje
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Prabowo Subianto assinaram, nesta quinta-feira (23), uma série de acordos bilaterais entre Brasil e Indonésia, marcando um novo ciclo de cooperação nas áreas de agricultura, energia, comércio, educação, defesa, ciência e tecnologia. O encontro ocorreu na capital Jacarta, durante visita oficial de Lula ao país asiático.
Em declaração conjunta, ambos os líderes destacaram o alinhamento político e econômico entre as duas nações, especialmente em temas como a reforma do Conselho de Segurança da ONU, o fortalecimento do Brics e a situação humanitária em Gaza.
Lula destacou que a aproximação entre Brasil e Indonésia tem o potencial de criar uma aliança estratégica entre economias emergentes, baseadas no diálogo e na cooperação tecnológica. O presidente também confirmou publicamente que disputará as eleições presidenciais de 2026.
Segundo ele, a continuidade política permitirá aprofundar a parceria com o governo indonésio, com novos encontros programados para os próximos meses, voltados a ampliar o intercâmbio comercial e científico.
O cenário econômico
De acordo com o Planalto, o comércio bilateral cresceu mais de três vezes nas últimas duas décadas, passando de US$ 2 bilhões para US$ 6,5 bilhões. Ainda assim, Lula considerou o número “insuficiente” diante do potencial de mercado dos dois países, que somam quase meio bilhão de habitantes.
“É quase inexplicável que Brasil e Indonésia, com tamanha importância global, mantenham um volume comercial tão modesto”, afirmou o presidente brasileiro. Ele ressaltou que a meta é tornar os países parceiros centrais “na geografia econômica do mundo”.
Prabowo Subianto, por sua vez, classificou o encontro como um “marco diplomático”, defendendo a ampliação dos fluxos de comércio e investimentos. O líder indonésio disse que pretende ver o comércio bilateral alcançar US$ 20 bilhões nos próximos anos.
Entre as medidas anunciadas, Prabowo revelou que o português será incluído entre as línguas prioritárias do sistema educacional indonésio, como gesto de aproximação cultural.
Parceria estratégica
Durante o evento, Lula e Prabowo enfatizaram que o fortalecimento do eixo Sul-Sul é essencial para equilibrar as relações internacionais. Ambos afirmaram que seus governos rejeitam políticas protecionistas e buscam novas formas de cooperação multilateral.
O presidente brasileiro destacou que o diálogo entre os dois países deve servir de exemplo para outras nações em desenvolvimento, mostrando que é possível avançar sem dependência econômica.
Além do comércio, os acordos contemplam investimentos conjuntos em inovação e em energias renováveis. As delegações ministeriais também discutiram a integração de políticas agrícolas e de pesquisa científica.
Segundo o Itamaraty, a Indonésia foi o quinto maior destino das exportações do agronegócio brasileiro em 2024, com destaque para soja, carnes e milho.
Temas internacionais
Os dois presidentes também abordaram questões globais como o conflito em Gaza e a guerra na Ucrânia. Lula e Prabowo reiteraram a defesa da solução de dois Estados para o Oriente Médio e condenaram o que chamaram de “genocídio contra o povo palestino”.
Lula reforçou a necessidade de uma reforma profunda no Conselho de Segurança da ONU, argumentando que o órgão está paralisado e não reflete a atual realidade geopolítica mundial.
Ambos os países concordaram sobre o papel crescente do Brics como plataforma de defesa dos interesses das nações em desenvolvimento. “O Brics é hoje um instrumento essencial para equilibrar a voz do Sul Global”, declarou o presidente brasileiro.
Ele também mencionou a “Aliança Global contra a Fome e a Pobreza”, iniciativa lançada pelo Brasil durante sua presidência no G20, que conta com apoio da Indonésia.
Comércio e moedas nacionais
Lula defendeu uma maior independência econômica entre países emergentes, propondo que Brasil e Indonésia realizem transações comerciais utilizando suas próprias moedas. Segundo ele, a iniciativa reduziria a dependência de moedas estrangeiras e fortaleceria as economias locais.
“Queremos comércio livre, justo e multilateral. O século XXI exige que tenhamos coragem para mudar práticas ultrapassadas”, afirmou o presidente.
O líder brasileiro reiterou que a prioridade de seu governo é gerar empregos de qualidade e ampliar a renda. “Fomos eleitos para garantir crescimento com justiça social e soberania econômica”, disse.
Prabowo concordou com a proposta e destacou que a Indonésia vê o Brasil como um “parceiro estratégico e confiável” no processo de reestruturação da economia global.
Defesa e energia
Outro ponto de destaque da reunião foi o fortalecimento da cooperação militar e energética. Lula afirmou que o Brasil tem uma sólida base industrial de defesa e está disposto a contribuir com equipamentos e tecnologia para as Forças Armadas indonésias.
Na área energética, os dois países concordaram em promover o intercâmbio técnico sobre a exploração de minerais estratégicos e fontes renováveis. Um memorando de entendimento entre os ministérios de Minas e Energia foi assinado durante o encontro.
As nações também planejam colaborar em pesquisas sobre transição energética e gestão de recursos naturais, com foco na sustentabilidade.
Lula destacou que o Brasil e a Indonésia podem se tornar líderes globais em energia limpa e agricultura de baixo carbono, fortalecendo suas economias e reduzindo desigualdades regionais.
Eleições e continuidade
Ao final do discurso, Lula confirmou que será candidato a um quarto mandato presidencial em 2026. Ele afirmou que a decisão se baseia no desejo de continuar projetos iniciados em seu atual governo.
“Meu mandato termina no final de 2026, mas estou preparado para disputar as próximas eleições. Pretendo consolidar o que começamos e ampliar nossa parceria com países como a Indonésia”, declarou.
O anúncio foi recebido com aplausos por membros das delegações presentes, reforçando a expectativa de continuidade da política externa voltada à integração entre nações emergentes.
Lula encerrou a coletiva reafirmando que o Brasil buscará “crescimento sustentável, inclusão social e cooperação internacional” como pilares de sua próxima gestão.
A visita presidencial a Jacarta integra a agenda diplomática do governo brasileiro na Ásia, que também inclui compromissos em Singapura e na China nas próximas semanas.