O Dia do Professor, celebrado em 15 de outubro, é mais do que uma data de homenagens — é um lembrete da dívida que o Brasil tem com quem sustenta a base da sociedade. Por trás das flores e das mensagens de agradecimento, há uma realidade que envergonha um país que se diz comprometido com o futuro: a desvalorização estrutural e histórica do magistério. Os dados revelados em reportagem do Brasil de Fato escancaram a crise da formação docente e a precarização das condições de trabalho que atingem, com força especial, o estado de Minas Gerais.
O problema começa na formação. Apenas 15% das vagas em cursos de licenciatura são preenchidas, e menos da metade dos alunos conclui a graduação. Ao fim, somente 2,3% dessas vagas resultam em profissionais realmente atuando em sala de aula. O resultado é um círculo vicioso: quanto mais precárias as condições de trabalho, menos pessoas escolhem ser professores — e quanto menos profissionais qualificados, mais se deteriora a qualidade da educação.
A chamada “desprofissionalização do magistério”, identificada por pesquisadores da UFMG, é um sintoma claro de um modelo que trata o professor como peça descartável. Salários baixos, carga horária excessiva, contratos temporários e salas superlotadas se tornaram rotina. Em Minas Gerais, cerca de 60% dos docentes da rede estadual trabalham sob vínculos temporários — um número que revela a dependência de contratações precárias e a falta de concursos públicos.O sistema de formação inicial de professores no país exibe uma baixa eficiência alarmante. - Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Essa realidade se soma a outro fenômeno alarmante: o avanço do ensino a distância (EAD) nas licenciaturas. Em 2021, 61% das matrículas nessa área já eram feitas em cursos remotos, em sua maioria oferecidos por instituições privadas com fins lucrativos. O problema é que esses cursos, embora ampliem o acesso, nem sempre garantem a qualidade necessária para formar educadores preparados para os desafios da sala de aula.
A desigualdade entre as redes pública e privada também evidencia o abismo educacional brasileiro. Escolas de elite contam com infraestrutura moderna e professores bem remunerados; enquanto isso, nas periferias e zonas rurais, falta tudo — do giz ao ventilador. E o piso salarial nacional, instituído por lei em 2008, é tratado por muitos governos como teto, e não como base mínima.
Minas Gerais é um exemplo amargo dessa contradição. Sob o governo de Romeu Zema, o Estado vive um processo contínuo de precarização da educação pública. A terceirização de serviços escolares, o avanço das escolas cívico-militares e as tentativas de reduzir a presença do Estado na gestão educacional revelam um projeto que, na prática, esvazia a função social da escola pública.
Não há futuro sem professores. Valorizar a educação não pode se limitar a campanhas publicitárias ou discursos de ocasião. É preciso garantir salários dignos, condições de trabalho decentes e reconhecimento social. Um país que paga mal a quem ensina, investe pouco em infraestrutura e ignora o sofrimento diário de seus educadores está condenando suas próximas gerações à mediocridade.
Ainda destacando o Dia do Professor, o que se celebra é a resistência. A resistência de quem, mesmo diante de tantas dificuldades, segue acreditando que o conhecimento é a maior ferramenta de transformação. Mas é também o momento de exigir que o poder público transforme essa resistência em respeito — com políticas reais, e não promessas vazias.
Base deste editorial: “Formação docente em crise: apenas 2,3% das vagas ofertadas se convertem em professores em exercício”, publicada pelo site Brasil de Fato, em 15 de outubro de 2024.