
Para o jornalista, a avenida perdeu o valor estético dos antigos canteiros centrais e as obras não tiveram respaldo em projetos técnicos de urbanismo. Foto: Rede Hoje
O jornalista Cézar Felix, fotógrafo e editor da Revista Sagarana, especializada em meio ambiente e turismo, enviou à Rede Hoje uma crítica às obras de revitalização realizadas em avenidas de Patrocínio, em especial na Rui Barbosa. Para ele, as intervenções não acompanharam conceitos modernos de urbanismo e mobilidade urbana.
Segundo Cézar, as mudanças priorizaram os veículos e não os pedestres. Ele afirma que o ideal seria revitalizar os canteiros centrais, antes considerados um diferencial estético da avenida. “Hoje é preciso priorizar as pessoas e não os carros. Essa é uma tendência irreversível em cidades de diferentes portes no Brasil e no mundo”, avaliou.
Na mensagem, o jornalista destacou que projetos urbanos inovadores têm transformado espaços em várias cidades brasileiras, citando exemplos de Belo Horizonte. Entre eles, a Rua Sapucaí, que passou de um corredor degradado para um polo gastronômico e cultural; além da Av. Bernardo Monteiro e da praça no Edifício Sulacap, na Av. Afonso Pena.
Ele ressaltou ainda que, na sua opinião, a falta de estudos técnicos e de acompanhamento por profissionais de arquitetura e urbanismo comprometeu os resultados em Patrocínio. “O que se vê é um retrocesso urbano quase irreversível. A atividade econômica também pode ser prejudicada quando se prioriza somente os carros e não as pessoas”, completou.
Leia a íntegra da crítica de Cézar Felix enviada à Rede Hoje:
"Meu querido, sobre a matéria a 'revitalização' da Av. Rui Barbosa e das avenidas de Patrocínio: que equívoco monumental. O que deveria ser feito é exatamente o contrário, ou seja, revitalizar os canteiros centrais com projetos urbanísticos e, sobretudo, paisagísticos. Hoje é preciso priorizar as pessoas e não os carros. Essa é uma tendência irreversível para as cidades, e isso acontece em diferentes cidades no mundo inteiro. Por isso, projetos urbanos inovadores são realizados em várias cidades brasileiras, grandes e médias.
Tais projetos, cujas propostas cuidam de viabilizar variadas alternativas para o trânsito, pensam de acordo com conceitos estruturais relacionados à mobilidade urbana e às atividades econômicas — não só das vias principais como também nas ruas secundárias e até mesmo de todo o contexto do município. Isso inclui ainda, obviamente, a requalificação das propostas de transporte público. Há ainda a questão estética, ligada aos projetos urbanísticos e arquitetônicos. Pelo que vi nas imagens, a antes tão bela Rui Barbosa — outrora vanguardista, inclusive, em razão dos lindos canteiros centrais que possuía, alguns com bonitos jardins — se torna agora uma avenida feia e triste.
Lamentavelmente, o que ocorre aí em Patrocínio é um imenso retrocesso, a vanguarda do atraso. Fica claro, na minha modesta opinião, que não houve nenhum tipo de critério relacionado ao que se possa considerar como projeto urbanístico real e efetivo nessas obras. Para que isso ocorresse, seria necessário realizar amplos estudos e contar com consultorias por parte de profissionais especializados e por acadêmicos ligados sobretudo às áreas de arquitetura e urbanismo. Pelo o que foi executado na Rui Barbosa, isso não aconteceu, é algo óbvio.
Creio eu — isso é a opinião de um modesto observador e apaixonado por sua terra natal e não de um especialista — que a atividade econômica será prejudicada, pois quando se prioriza somente os carros e não as pessoas, a mobilidade torna-se muito pior. É algo que qualquer estudo competente comprova. Pelo que o traz a sua matéria, os empresários locais começam a perceber os primeiros transtornos.
No caso de obras urbanas, que seguem à risca projetos urbanísticos estruturantes, eu cito alguns exemplos sensacionais aqui em BH. Os projetos da Rua Sapucaí no bairro Floresta: antes a rua era um corredor degradado e muito perigoso (entre os viadutos de Santa Teresa e da Floresta), com um trânsito caótico e horroroso; hoje é um lindo calçadão, dono de vários equipamentos públicos, com uma vista cinematográfica para o centro da capital, que atraiu inúmeros bares, restaurantes, centros culturais e galerias de arte, além de incontáveis eventos culturais. É atualmente um dos principais atrativos turísticos de Belo Horizonte por ter se transformado em um polo gastronômico e cultural, agora um dos mais importantes do Brasil. Nos finais de semana, o lugar também é frequentado por várias famílias, que ganharam uma ótima opção de lazer, inclusive para crianças e idosos. Da mesma forma, ocorreram projetos inovadores na Av. Bernardo Monteiro e na nova praça no Edifício Sulacap, na Afonso Pena.
Portanto, com todo respeito, essa é a minha modesta opinião a respeito dessas obras realizadas em Patrocínio. Houve aí de um retrocesso urbano quase que irreversível".