Estados Unidos anunciaram a revogação dos vistos de funcionários do governo brasileiro, ex-integrantes da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e seus familiares: alegam cumplicidade com trabalho forçado de médicos cubanos no Brasil


Detalhe do uniforme de um médico durante anúncio do ministro da Saúde Alexandre Padilha sobre a expansão do Mais Médicos, com novas vagas abertas no primeiro edital de 2025Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O programa Mais Médicos, criado em 2013 para suprir a carência de profissionais de saúde em áreas remotas e comunidades vulneráveis, voltou ao centro de uma disputa política internacional. Nesta quarta-feira (13), os Estados Unidos anunciaram a revogação dos vistos de funcionários do governo brasileiro, ex-integrantes da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e seus familiares, alegando cumplicidade com trabalho forçado de médicos cubanos no Brasil.

Apesar da crítica externa, a avaliação interna continua altamente positiva. Segundo dados do Ministério da Saúde, o Mais Médicos já beneficiou mais de 66,6 milhões de pessoas em mais de 4 mil municípios. Pesquisas indicam satisfação geral de 95% dos usuários, com notas médias de 8,4 e, entre comunidades indígenas, 8,7.

Papel de Cuba no programa

Até 2018, os médicos cubanos representaram a maioria dos profissionais no Mais Médicos. Em 2014, eram 11,3 mil dos 17,5 mil médicos (64%). No encerramento da cooperação com a Opas, em 2018, ainda somavam 8,5 mil dos 16,8 mil (50%). Atualmente, cerca de 2,6 mil cubanos permanecem no programa, equivalendo a 10% do total, mas via participação direta em editais abertos a estrangeiros, sem mediação da Opas.

O presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Rômulo Paes, ressalta que a presença cubana foi determinante nos primeiros anos:

“Houve redução de 56% no déficit de acesso à atenção primária em vários municípios. Melhorou a relação médico-paciente, aumentou a continuidade dos tratamentos e diminuiu a hospitalização por causas evitáveis.”

No primeiro ano, a cobertura de atenção básica subiu de 10,8% para 24,6% da população. A atenção básica é responsável por até 80% da resolução dos problemas de saúde.

Contexto político e histórico

A decisão dos EUA ocorre no contexto de mais de 60 anos de embargo econômico contra Cuba, intensificado para pressionar países que mantêm parcerias médicas com a ilha. A exportação de serviços de saúde é uma das principais fontes de receita cubana desde a década de 1960. Até hoje, 605 mil médicos cubanos já atuaram em 165 países, incluindo Portugal, Espanha, Rússia, Ucrânia, Argélia e Chile.

Para Rômulo Paes, o ataque norte-americano não tem relação com questões sanitárias:

“É mentira que o Brasil tenha sido uma exceção. Cuba já tinha cooperação desse tipo com 103 países. Eles vão punir todos? Punir Espanha, Portugal e Ucrânia? Não vão.”

O especialista aponta ainda que, em vários indicadores de saúde, Cuba apresenta resultados superiores aos dos próprios EUA, mesmo sendo um país de renda baixa.

Impacto social e avaliação dos usuários

O Mais Médicos foi projetado para atender áreas carentes, como aldeias indígenas na Amazônia, periferias urbanas e municípios com histórico de baixa fixação de profissionais. Estudo da Opas destacou que a presença constante dos médicos nas Unidades Básicas de Saúde diminuiu o tempo de espera para consultas e aumentou a humanização do atendimento — mesmo com eventuais barreiras linguísticas, superadas por estratégias de comunicação adaptadas.

A experiência é apontada por gestores e usuários como um divisor de águas na democratização do acesso à saúde no Brasil.


Fonte: Agência Brasil


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