Medida provisória prevê crédito de R$ 30 bilhões, incentivos fiscais, prorrogação de prazos e ações para preservar empregos e ampliar mercados

Foto: Ricardo Stuckert/PR

O plano é estruturado em três eixos: fortalecimento do setor produtivo, proteção aos trabalhadores e diplomacia comercial e multilateralismo.

Da Redação da Rede Hoje

O governo federal anunciou nesta quarta-feira (13) a Medida Provisória (MP) que institui o Plano Brasil Soberano, voltado ao apoio de empresas, exportadores e trabalhadores impactados pelas sobretaxas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. A MP foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União.

Segundo a Presidência da República, o plano é estruturado em três eixos: fortalecimento do setor produtivo, proteção aos trabalhadores e diplomacia comercial e multilateralismo.

Linhas de crédito e incentivos fiscais

Entre as medidas anunciadas, o Fundo Garantidor de Exportações terá R$ 30 bilhões para concessão de crédito com taxas acessíveis e ampliação das linhas de financiamento às exportações. Empresas mais afetadas terão prioridade, considerando o peso das vendas aos EUA no faturamento, o tipo de produto e o porte da empresa. Pequenas e médias poderão acessar o crédito por meio de fundos garantidores.

Estão previstos aportes de R$ 4,5 bilhões em fundos garantidores — sendo R$ 1,5 bilhão no Fundo Garantidor do Comércio Exterior (FGCE), R$ 2 bilhões no Fundo Garantidor para Investimentos (FGI), do BNDES, e R$ 1 bilhão no Fundo de Garantia de Operações (FGO), do Banco do Brasil.

O Novo Reintegra terá impacto estimado em até R$ 5 bilhões até dezembro de 2026, aumentando em até 3 pontos percentuais o benefício fiscal para empresas cujas exportações de produtos industrializados foram prejudicadas. Grandes e médias empresas terão alíquota de até 3,1% e micro e pequenas, até 6%.


Resumo das principais medidas do Plano Brasil Soberano

Medida Descrição Valor/Benefício Público-alvo Prazo/Observações
Linhas de crédito – Fundo Garantidor de Exportações (FGE) Concessão de crédito com taxas acessíveis R$ 30 bilhões Empresas exportadoras afetadas pelas sobretaxas Prioridade para empresas mais dependentes do mercado dos EUA
Fundos garantidores adicionais Aporte em fundos para ampliar acesso ao crédito FGCE: R$ 1,5 bi; FGI (BNDES): R$ 2 bi; FGO (Banco do Brasil): R$ 1 bi Pequenos e médios exportadores Recursos voltados prioritariamente para micro, pequenas e médias empresas
Novo Reintegra Aumento do percentual de restituição de tributos federais Até 3,1% (grandes/médias); até 6% (micro/pequenas) Exportadores de produtos industrializados prejudicados Impacto estimado: até R$ 5 bilhões até dez/2026
Suspensão de tributos Adiamento de cobrança de impostos federais 2 meses de prorrogação Empresas mais impactadas Aplicável apenas a empresas afetadas pelas sobretaxas dos EUA
Prorrogação do drawback Extensão do prazo para exportação de produtos com insumos importados isentos Exportadores que utilizam drawback Inclui vendas para destinos alternativos aos EUA; sem multa ou juros
Compras públicas simplificadas Aquisição de alimentos para programas sociais e institucionais Produtores rurais e agroindústrias afetadas Procedimento simplificado; válido apenas para produtos afetados
Ampliação da garantia à exportação Proteção contra inadimplência e cancelamento de contratos Exportadores de média/alta tecnologia e economia verde Bancos e seguradoras poderão usar em mais operações
Câmara Nacional de Acompanhamento do Emprego Monitorar níveis de emprego e fiscalizar acordos Trabalhadores de empresas afetadas Atuação nacional e regional; câmaras nas Superintendências Regionais do Trabalho
Diplomacia comercial Acordos para ampliar mercados e reduzir dependência dos EUA Setor exportador nacional Acordos com UE e EFTA concluídos; negociações com Emirados, Canadá, Índia e Vietnã

Suspensão de tributos e drawback

A MP autoriza a Receita Federal a adiar por dois meses a cobrança de impostos para empresas mais impactadas. Também prorroga prazos do regime de drawback, que isenta tributos sobre insumos importados destinados à produção para exportação. Com a mudança, produtos que não puderem ser enviados aos EUA poderão ser vendidos a outros destinos, sem multas ou juros.

Em 2024, dos US$ 40 bilhões exportados aos EUA, US$ 10,5 bilhões utilizaram o drawback. A prorrogação, segundo o governo, não tem impacto fiscal, apenas estende prazos.

Compras públicas

Órgãos públicos poderão adquirir alimentos de produtores rurais e agroindústrias afetadas pelas sobretaxas para abastecer programas como merenda escolar e hospitais. As compras serão feitas por procedimento simplificado e com preço médio de mercado. A medida vale exclusivamente para produtos impactados pelas tarifas.

Garantia à exportação e economia verde

O plano amplia as regras de garantia à exportação, que protege empresas contra inadimplência ou cancelamento de contratos. O foco é apoiar exportadores de média e alta intensidade tecnológica e projetos de economia verde. Bancos e seguradoras poderão usar o instrumento em mais operações, com compartilhamento de riscos entre governo e setor privado, utilizando o FGCE como mecanismo de primeiras perdas.

Proteção ao trabalhador

Será criada a Câmara Nacional de Acompanhamento do Emprego, com atuação nacional e regional, para monitorar níveis de ocupação, fiscalizar benefícios e acordos trabalhistas, e propor medidas para evitar demissões. As câmaras regionais funcionarão nas Superintendências Regionais do Trabalho, promovendo mediação de conflitos e negociações coletivas.

Diplomacia comercial

O governo busca ampliar mercados e reduzir a dependência das exportações para os EUA. Entre os acordos já concluídos estão os firmados com a União Europeia e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA). Há negociações com Emirados Árabes Unidos e Canadá, e diálogos avançados com Índia e Vietnã.

Elaboração do plano

O Plano Brasil Soberano foi elaborado a partir de 39 reuniões que reuniram cerca de 400 representantes de empresas, entidades privadas, federações de indústrias, governadores e setores como manufatura, agro, tecnologia, mineração, big techs, saúde, alimentação, calçadista e moveleiro, além de empresas norte-americanas com operações no Brasil.


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