Governo cria grupo técnico para avaliar viabilidade de alternativa nacional ao GPS; relatório será entregue em 180 dias

Aplicativos de localização dependem de sistemas estrangeiros como o GPS. (Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)

Da Redação da Rede Hoje

O governo federal iniciou estudos para avaliar a viabilidade de o Brasil desenvolver seu próprio sistema de geolocalização por satélite. A medida busca reduzir a dependência de sistemas estrangeiros como o GPS, operado pelos Estados Unidos, e foi oficializada pela Resolução nº 33 do Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro, publicada em julho.

O grupo técnico responsável pelo estudo é formado por representantes de ministérios, da Aeronáutica, de agências e institutos federais e da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil. O prazo para a entrega do relatório com conclusões e recomendações é de 180 dias, contados a partir de 14 de julho.

Segundo Rodrigo Leonardi, diretor de Gestão de Portfólio da Agência Espacial Brasileira (AEB), o objetivo é avaliar gargalos, custos e implicações de um sistema nacional. "Vamos discutir se o país precisa de um sistema global ou regional e o investimento necessário. Qualquer que seja o caminho, será um projeto muito mais caro do que o atual programa espacial brasileiro", afirmou.

Leonardi destacou que, embora o GPS seja amplamente utilizado, existem outros sistemas globais, como o Glonass (Rússia), Galileo (União Europeia) e BeiDou (China), além de sistemas regionais como o NavIC (Índia) e QZSS (Japão). “Mesmo que os EUA restringissem o sinal, o que seria improvável, há alternativas”, explicou.

O debate sobre a soberania tecnológica ganhou força após discussões nas redes sociais sobre um possível desligamento do GPS para o Brasil, em meio a tensões comerciais com os Estados Unidos. Leonardi, no entanto, nega relação entre esse debate e a criação do grupo, classificando os rumores como "ruído".

Especialistas apontam que a maioria dos dispositivos modernos já opera em "multiconstelação", ou seja, é capaz de captar sinais de diferentes sistemas de navegação, o que reduz riscos de interrupção total do serviço.

Geovany Araújo Borges, professor da Universidade de Brasília (UnB), afirma que o Brasil possui mão de obra qualificada, mas esbarra na falta de recursos e em barreiras de acesso a componentes estratégicos. “Nosso problema não é falta de profissionais, é falta de investimento. Além disso, precisaríamos desenvolver a indústria de microeletrônica e garantir que o projeto tenha continuidade como política de Estado”, disse.

A proposta ainda está em fase de estudo, e qualquer implementação prática exigiria prazos longos e investimentos elevados. O relatório técnico deve orientar os próximos passos do governo federal sobre o tema.


Fonte: Agência Brasil


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