Considerado o pai do rock nacional, cantor é lembrado por letras sobre liberdade, questionamento e por inspirar gerações com sua obra e postura de vida

Vinil do cantor gravado em 1974 no Cine Patrocínio. Foto: Rede Hoje
Da Redação da Rede Hoje

Neste sábado, 28 de junho, Raul Seixas completaria 80 anos. Nascido em Salvador (BA), em 1945, o cantor, compositor e produtor deixou um legado musical de 26 anos que ainda movimenta fãs, eventos e homenagens em todo o país. Raul é lembrado como um dos principais nomes do rock brasileiro e por sua abordagem singular de temas como liberdade individual, filosofia, crítica social e contracultura.

Raul Seixas foi autor ou coautor de 324 obras musicais e teve mais de 400 gravações registradas, segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad). Entre suas músicas mais executadas estão “Cowboy Fora-da-Lei”, “Maluco Beleza”, “Metamorfose Ambulante” e “Ouro de Tolo”.

Seu primeiro grande sucesso veio em 1973, com o disco Krig-ha, Bandolo!, após anos de tentativas com bandas como Os Panteras e projetos como Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10. A música Ouro de Tolo projetou Raul nacionalmente. Ao longo da carreira, firmou parcerias marcantes com Paulo Coelho, Cláudio Roberto e, mais tarde, Marcelo Nova.

Sylvio Passos, amigo pessoal de Raul e fundador do fã clube oficial Raul Seixas Oficial Fã Clube, explica que a atualidade das mensagens do artista é o que garante a renovação constante de admiradores. “Raul fala para várias gerações. Os temas que ele aborda continuam de interesse dos jovens: liberdade, identidade, contestação”, diz.

O envolvimento de Raul com a chamada Sociedade Alternativa — conceito criado com Paulo Coelho — e a proposta de viver segundo o lema “Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei” levaram à criação de um movimento, que teve até sede e papel timbrado. A ideia, no entanto, provocou reações da ditadura militar. Raul chegou a ser preso e foi forçado a deixar o Brasil, indo para os Estados Unidos.

Segundo Sylvio, Raul não era ocultista, mas se interessava por temas filosóficos e esotéricos, sempre com uma abordagem crítica. “Ele era anarquista, materialista dialético. Um pensador que usava a música para provocar reflexão”, descreve.

CD gravado em Patrocínio.
A filha do cantor, a DJ e produtora Vivi Seixas, também atua na preservação da memória do pai. “Cada homenagem é pensada com cuidado. Não é só manter o nome Raul Seixas vivo, mas o que ele representava: liberdade, questionamento, autenticidade”, disse à Agência Brasil. Ela afirma que mesmo pessoas que não viveram a época do artista se conectam às letras e ao espírito de sua obra.

Com shows comemorativos e passeatas organizadas por fãs, como a tradicional Passeata Raulseixista no centro de São Paulo, a data é marcada anualmente por manifestações culturais e tributos. No Rio de Janeiro, o Circo Voador recebe neste sábado mais uma edição do show Baú do Raul, com artistas como Frejat, Paulinho Moska, Arnaldo Brandão, Ana Cañas, BNegão, Vivi Seixas e outros nomes que representam diferentes gerações influenciadas pelo artista.

Segundo o pesquisador Herom Vargas, Raul Seixas passou por dificuldades até alcançar sucesso nacional. Após experiências frustradas com bandas e como produtor, ele se firmou como artista solo no início dos anos 1970. “Só em 1973, com Krig-ha, Bandolo!, Raul ficou conhecido em todo o país. Foi um processo longo, cheio de idas e vindas”, afirma o pesquisador.

Raul Seixas morreu em 1989, aos 44 anos, vítima de uma parada cardíaca. Lutava contra o alcoolismo e os problemas de saúde provocados por anos de excessos. Mesmo após sua morte, permanece como símbolo de resistência artística, com uma obra marcada por pluralidade de temas e sonoridades.

A assessora de imprensa Mayara Grosso, 30 anos, frequenta a Passeata Raulseixista desde os 8, levada pelos pais. Em seu trabalho de conclusão de curso, escreveu um livro-reportagem sobre o evento e a figura de Raul. “Além de homenagem, a passeata é um encontro de amigos, um culto coletivo. Para mim, Raul representa família e memória”, contou.

Album histórico gravado em Patrocínio

Patrocínio, Minas Gerais, guarda uma memória especial do cantor, pois em maio de 1974 ele realizou um show marcante que foi posteriormente lançado em disco. O show, que aconteceu no Cine Patrocínio, é considerado um marco para o rock nacional e a cultura local.

A Rede Hoje inclusive produziu um documentário sobre esse show histórico, destacando a importância do evento para a cidade e para a história da música brasileira. O documentário mostra depoimentos de pessoas que participaram do show, assistiram ou tentaram assistir, e também aborda a história do registro do show em vinil remasterizado na Alemanha.

Portanto, embora não haja shows de Raul Seixas acontecendo hoje em Patrocínio, a cidade mantém viva a lembrança do artista, especialmente por meio do show de 1974 e do material produzido sobre ele.

Veja a reportagem da Rede Hoje:



Reportagem produzida com Agência Brasil | Brasília


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