“A criação do Atuação (grupo teatral) partiu da necessidade do aspecto cultural em nossa sociedade, que nem sempre entende e percebe, que esse mesmo trabalho realizado pelo grupo é dirigido a ela própria.” Osmildo J. Silva
Osmildo José da Silva não recebeu o reconhecimento que merecia. Foto: acervo de família
Da Redação da Rede Hoje
Faleceu neste domingo (04/05), aos 70 anos, Osmildo José da Silva, um nome fundamental para a história do teatro em Patrocínio (MG). Bancário de profissão, foi nos palcos e bastidores do teatro amador que encontrou seu verdadeiro palco de expressão. Fundador do grupo Atuação e ex-presidente da Fundação Casa da Cultura, Osmildo foi um dos maiores entusiastas e construtores da cena teatral patrocinense e não recebeu o reconhecimento que merecia.
A cerimônia de despedida ocorreu no Memorial Jardim dos Ipês, com presença de familiares, amigos e representantes da cultura local. Deixa a esposa Cleidina Maria de Souza, as filhas Angélica e Eugênia, genros, neta, irmãos e um legado que se perpetua nas cortinas e luzes da arte cênica local.
Flávio Arvelos, teatrologo, diretor e ator que conviveu com Osmildo durante cerca de cinco anos, lembra com carinho e admiração do amigo:
“Ele foi presidente da Fundação Casa da Cultura. Representando o teatro, foi também presidente do Polo Cultural do Triângulo Paranaíba. A gente tinha uma federação de teatro em Minas, e aqui reunia nomes como Élida, Zélia Marta, eu, e tantos outros. Osmildo gostava muito, muito, muito! Um verdadeiro apaixonado.”
O envolvimento com o teatro foi interrompido por um grave acidente que o afastou fisicamente dos palcos, mas nunca diminuiu sua paixão nem seu impacto. Em 1985, fundou o Grupo Atuação, uma semente cultural que gerou frutos expressivos, como a participação no FESTIMINAS (Festival Estadual de Teatro de Minas Gerais), levando o nome de Patrocínio a eventos em cidades como Poços de Caldas, Governador Valadares, Ituiutaba e Araxá.
A professora, artesã e integrante do coletivo Okayofu, Élia Amparo, expressou sua tristeza com a partida:
“A cultura de Patrocínio perdeu um percursor do teatro patrocinense. Osmildo acreditava que nossa cidade precisava de um verdadeiro teatro. O Céu das Artes existe, mas ainda não é o ideal. Que os habitantes entendam a importância e que as autoridades se atentem para isso.”
Osmildo em ação. Acervo de Élida Amparo
Um exemplo claro do impacto de Osmildo foi destacado na edição de junho/julho de 1986 do jornal Presença, que noticiava o sucesso da peça “Os inimigos não mandam flores”, encenada pelo Grupo Atuação na antiga FAFI. Emocionante, a montagem levou o público às lágrimas e consolidou o grupo como um pilar da cultura local.
Ainda naquele ano, o grupo se apresentou no FESTIMINAS com a peça infantil A Onça de Asas, de Walmi Ayalla. O diretor Osmildo José da Silva, comentou na “Coluna do Cabral”, assinada pelo jornalista Luiz Silva Cabral, na época:
“A criação do Atuação partiu da necessidade desse aspecto cultural em nossa sociedade, que nem sempre entende e percebe, que esse mesmo trabalho realizado pelo grupo é dirigido à ela própria.”
Osmildo acreditava no poder transformador do teatro e na construção de uma identidade cultural coletiva. Seu esforço incansável em formar atores, criar oportunidades e levantar debates sobre a cultura local será lembrado por todos que vivenciaram a arte em Patrocínio.
Seu legado permanece como um convite: "Tem que dar certo." Uma frase que se tornou palavra de ordem entre os integrantes do Atuação, e que ecoa agora como homenagem à sua vida. Que a cultura de Patrocínio continue a florescer, honrando quem tanto fez por ela.