Fotos: Rede Hoje | Acervo de Patrocínio e Edson Bragança
Edson Bragança e seus projetores iguais ao do Cine Patrocínio.
Foto: reprodução Rede Hoje

Luiz Antônio Costa | O Som da Memória

Valorizar Edson Bragança em vida é um reconhecimento. O que ele faz pela cultura de Patrocínio e da região, muitas autoridades não conseguiram realizar. Ao longo da vida, Bragança esteve presente em diferentes áreas culturais: fundou a Associação de Aeromodelistas de Patrocínio, hoje referência nacional; foi músico em alguns dos principais conjuntos musicais das décadas de 1960 e 1970; transitou pelas artes plásticas; e mergulhou no cinema. Tudo isso sem abandonar a família, que cresceu envolvida pela mesma energia cultural.

Os Bragança têm uma história rica na cidade. O irmão, Luiz Bragança, conhecido como Pindoba, é professor no Diretório Municipal de Música e considerado por muitos como o melhor baterista que Patrocínio já viu e ainda vê em ação. Mas hoje o foco é Edson, e uma de suas paixões mais fortes: o cinema.

Ele guarda as maiores relíquias cinematográficas da cidade. Filmes raros que retratam Patrocínio em diferentes épocas, muitos gravados em acetato. Parte desse acervo se perdeu com o tempo, porque nunca houve interesse real do poder público em digitalizar esse material. Edson me contou, nesta semana, sobre a frustração de ver obras se deteriorarem. Talvez agora, no governo de Gustavo Brasileiro, mais atento à cultura, exista a chance de preservar o que resta.


Ele guarda as maiores relíquias cinematográficas da cidade. Arquivo da Braganças Filmes
Enquanto isso, Bragança segue por conta própria. Mantém em casa uma sala de cinema com 12 poltronas. Não cobra ingresso nem exige nada de quem participa das sessões. O faz pela cultura. Conserva máquinas antigas, projetores que um dia deram vida ao Cine Patrocínio, e sustenta sozinho a chama de uma memória que poderia já ter se apagado.

A trajetória pessoal com o cinema começou em 1986, quando ganhou de presente um projetor de um amigo em Patos de Minas. Desde então, não parou mais. Hoje, possui duas cabines profissionais de exibição com projetores em película 35mm, além de fitas originais. Há também uma tela ao ar livre, no estilo drive-in, e uma sala fechada, equipada com as já citadas 12 cadeiras.

O acervo é formado a partir de uma rede de colecionadores espalhados pelo Brasil. Eles trocam, compram e vendem filmes, como se fazia com revistas em quadrinhos nos anos 1960. E a coleção impressiona: títulos como Planeta dos Macacos, Força Aérea 01, Jurassic World, A Máscara do Zorro, Mr. Bean, animações variadas e clássicos com Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone fazem parte desse repertório.

Edson Bragança é memória viva da cultura. Sua casa é um museu do cinema, um espaço de resistência, uma prova de que a paixão pode preservar o que o tempo e o descaso insistem em apagar.

Homenagear Edson Bragança é reconhecer a importância de quem nunca se afastou das raízes da cidade. Ele é daqueles personagens que carregam nos ombros a responsabilidade de não deixar a história desaparecer. Em cada fita que resgata, em cada projeção que oferece gratuitamente, em cada detalhe preservado de antigos projetores, está também um gesto de generosidade com as futuras gerações.

Cine Patrocínio em maio de 1962. reprodução Rede Hoje 
Edson não fez isso por vaidade nem por desejo de reconhecimento: não é político, mas um defensor da arte. Fez porque acreditou na força da memória, porque entendeu que a cultura é o alicerce que sustenta uma comunidade. Sua trajetória mostra que, mesmo quando faltam políticas públicas, é possível resistir e manter acesa a chama da arte. Por isso, lembrar e valorizar Edson Bragança hoje é mais do que justo: é um ato de gratidão de toda a cidade a um homem que fez do cinema, da música, das artes e da vida, um patrimônio coletivo.


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