
Luiz Antônio Costa | Contos (e Crônicas) do Caminho
Sempre gostei muito de música. Sou um baterista mediano, mas, por força da profissão de radialista, acabei entendendo um pouco do assunto. No rádio, precisei conviver com diversos estilos musicais e, embora goste de todos, o rock sempre foi o meu preferido, especialmente o das décadas de 1970 e 1980 — e também alguns do final dos anos 1960.
Não me lembro exatamente o ano, apenas que faz tempo, lá no século passado. Eu estava casado havia uns três ou quatro anos e morava na Praça Honorato Borges, em Patrocínio — se não me falha a memória, era o local onde mais tarde funcionou a sorveteria Tarumã. A janela da sala de casa dava para a praça. Trabalhava durante o dia no rádio e, aos sábados à noite, fazia um “bico” como DJ na Churrascaria Alvorada.
Naquele período, as músicas nacionais que mais tocavam eram O Bêbado e a Equilibrista (Elis Regina), Pai (Fábio Jr.), Sonhos (Peninha), Juventude Transviada (Luiz Melodia), Moça (Wando) e Meu Mundo e Nada Mais (Guilherme Arantes). Mas o público, em geral, preferia as internacionais. Entre as românticas de maior sucesso estavam Imagine (John Lennon), Skyline Pigeon (Elton John), Alone Again (Gilbert O’Sullivan), Rock and Roll Lullaby (B.J. Thomas) e Loving You (Minnie Riperton).
No final dos anos 1970 e início dos 1980, a “década da discoteca”, a Disco Music dominava as pistas. O gênero, impulsionado pelo filme Os Embalos de Sábado à Noite, se tornou febre entre os jovens. Em Patrocínio, a Churrascaria Alvorada vivia seu auge, embalada por sucessos como Hot Stuff (Donna Summer), That’s the Way (KC and The Sunshine Band), Sexual Healing (Marvin Gaye), Night Fever e Stayin’ Alive (Bee Gees), Don’t Let Me Be Misunderstood (Santa Esmeralda), I Will Survive (Gloria Gaynor), Why Can’t We Live Together (Timmy Thomas) e Woman (Barrabás).
Como passava o dia cercado por música, às vezes, depois do almoço ou no fim da tarde, gostava de ouvir meus discos com calma. Um dos que eu mais apreciava era Wild Life, de Paul McCartney e sua banda Wings. O grupo havia sido formado após o fim dos Beatles e reunia Denny Laine (ex-Moody Blues), o baterista Denny Seiwell e Linda McCartney, esposa de Paul. O disco era excelente, mas minhas faixas favoritas eram Bip Bop, Love Is Strange, Some People Never Know e a inesquecível Tomorrow.
Naquela época, a família era pequena: minha esposa Márcia, meu filho mais velho, André, e eu. Todos jovens, curtíamos aquele som no último volume, sem pensar se estávamos ou não incomodando os vizinhos. Tínhamos uma radiola de madeira de mogno, grande e imponente, com toca-discos, rádio e enormes caixas de som. Parecia um piano e o som tomava conta da Praça Honorato Borges.
Certa tarde, resolvi brincar de músico e me sentei diante da radiola, como se estivesse ao piano. Coloquei para tocar Lady Jane, dos Rolling Stones, numa versão instrumental de The Plastic Cow. Como o aparelho ficava bem em frente à janela, quem passava podia imaginar que eu estava realmente tocando.
Algum tempo depois, encontrei meu amigo Tacão — Eustáquio José dos Reis — e um grupo de diretores do CAP durante uma viagem do Patrocinense a Manhuaçu, na Zona da Mata, para jogo Campeonato Mineiro. No meio da conversa, ele contou, entusiasmado, para a turma:
— Gente, vocês precisavam ver o Luiz Antônio tocando piano! Eu passava pela Praça Honorato Borges e vi ele dedilhando um piano. Impressionante! Onde você aprendeu a tocar?
Tive que interromper o entusiasmo:
— Tacão, sinto decepcioná-lo, meu caro.
E contei toda a história. Eu não tocava piano — e não toco até hoje.
De maneira divertida entendi, de uma vez por todas, que as aparências realmente enganam. E aquela foi, talvez, a vez em que mais me custou desmentir alguém.
PS.: Dedico esta crônica ao meu neto Luiz Fellipe Dias Costa, o maior admirador da obra de Paul McCartney que já conheci — talvez com um pouco da minha influência nisso. É um excelente baixista, violista, tecladista e baterista, e está concluindo os cursos de Jornalismo (a comunicação é um vício de família) e Teologia.
Esta obra é baseada em fatos reais. Este conto/crônica fará parte do livro "Contos — e crônicas — do Caminho", do autor. A imagem é gerada por AI (Intelgência Artificial)