O SOM DA MEMÓRIA
Luiz Antônio Costa

Ontem foi o Dia do Escritor, e não posso deixar de usar essa data para refletir sobre a caminhada da nossa Academia Patrocinense de Letras (APL) e o papel fundamental que ela desempenha na cultura de Patrocínio. Ser membro dessa instituição é carregar uma responsabilidade grande, mas também uma esperança constante — a esperança de manter viva a chama da literatura local, da nossa memória intelectual, da identidade que nos define como cidade.

A APL é, sem dúvida, um dos pilares culturais de Patrocínio. Desde sua fundação, teve como missão preservar a produção literária local e reconhecer os nomes que ajudaram a moldar a alma intelectual da nossa comunidade. Mas, como tudo que é valioso, essa missão não se sustenta sozinha. Ela precisa, urgentemente, do apoio do setor público — políticas culturais sérias, investimentos reais e parcerias que ultrapassem discursos e se convertam em ações concretas. Sem isso, "corre-se o risco de deixar escapar um patrimônio imaterial que é de todos nós", como diz o acadêmico Eustáquio Amaral.

A história da Academia é marcada por ciclos — ora momentos de intensa atividade, ora fases de silêncio e espera. Fundada no início dos anos 80 pelo médico, poeta e escritor Michel Wadhy, com o poeta Massilon Machado como patrono, a APL viveu sob diferentes lideranças que ajudaram a manter acesa essa tocha. Passou pelo comando de grandes nomes como o pesquisador e advogado Gerson de Oliveira, o poeta Ivan Gomes da Silveira, o professor Paulo de Lima e a escritora e artista plástica Maria Helena de Rezende Malagoli, entre outros. Eu mesmo tive a honra de presidir a Academia por dois mandatos, e hoje atuo como vice-presidente, ao lado do atual presidente, o escritor e jornalista José Elói Neto. Todos empenhados, mesmo com as dificuldades, em manter a APL viva e atuante.

Mesmo nos momentos mais complicados, a Academia nunca desapareceu. Estivemos sempre presentes, seja por meio de saraus, lançamentos, concursos, homenagens e parcerias com a Biblioteca Pública Municipal. Atividades que mantêm o espírito literário pulsando em Patrocínio, ainda que a estrutura formal e os recursos sejam escassos.

Nos últimos meses, um movimento renovador ganhou força. Um encontro entre membros da APL e a secretária municipal de Cultura, Ana Valéria Rezende Cunha, abriu caminho para a regularização fiscal da entidade, convocação de novos acadêmicos, elaboração de novo estatuto e busca por espaço físico adequado. Estavam presentes, entre outros, os acadêmicos Cecílio de Souza, Hedmar de Oliveira Ferreira (Dininha), Maria José Magalhães Ferreira (Lalá), Maria Helena Malagoli, e as futuras acadêmicas Leida Reis e Eliane Nunes. Essa reunião foi um sopro de esperança, com a secretária demonstrando entusiasmo e reafirmando o compromisso da Prefeitura de apoiar a APL, por meio da Secretaria de Cultura e do prefeito, reconhecendo a importância dessa entidade para a história e identidade cultural de Patrocínio.
A Academia Patrocinense de Letras produziu e lançou “Patrocínio – Terra Minha”, uma coletânea de textos dos acadêmicos que homenageia a história e a identidade da cidade.
Essa ligação entre poder público e a Academia, na verdade, já vem de algum tempo. Em 2019, sob a gestão da então secretária de Cultura Eliane Nunes, a APL lançou o livro “Patrocínio – Terra Minha”, uma coletânea de textos dos acadêmicos que celebrou a história da cidade em evento apoiado pela Secretaria de Cultura e Turismo, que contou com apresentações artísticas e muita participação popular (veja o vídeo da Rede Hoje sobre o evento). Esse foi um marco que mostrou a força da Academia quando bem apoiada. 

A presidente da APL naquele período, Maria Helena de Resende Malagoli, resumiu com precisão o sentimento que nos move: “Dentro da singeleza dessa obra está a grandeza de Patrocínio”. A professora Maria José de Magalhães, Lalá, destacou o cuidado com a pesquisa e a pluralidade do conteúdo, enquanto a secretária Eliane Nunes ressaltou o papel da literatura em plantar sementes para o futuro, especialmente para os jovens.

E, mais ao passado, em 2011, a parceria com a Secretaria de Cultura — dirigida pelo então secretario, Flávio Arvelos — já havia viabilizado o lançamento do livro “
Antologia dos Escritores Patrocinenses”, obra que resgatou o valor da nossa produção literária local.

Hoje, olhando para frente, fica claro que a sobrevivência da Academia Patrocinense de Letras depende do reconhecimento público e do compromisso real com a cultura. A iniciativa e a sensibilidade da atual secretária de Cultura, Ana Valéria,  reacendem uma esperança que parecia distante, mostrando que é possível, sim, dar à literatura local o lugar que merece.

A APL, com sua trajetória repleta de desafios e vitórias, continua a ser o guardião da memória literária de Patrocínio. E, como em outras fases de sua história, a mobilização e a parceria com o poder público são a chave para que essa história não seja apenas contada, mas vivida, celebrada e expandida.

Que a chama da literatura patrocinense nunca se apague. Que, mais do que um dia, possamos ter uma cultura viva e pulsante todos os dias do ano. Afinal, um povo que lê e que valoriza sua própria história, constrói seu futuro com raízes firmes e alma inspirada.


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