
Operação Carbono Oculto 86 revela infiltração do PCC no setor de combustíveis no Piauí. SSP-PI/Divulgação
Da Redação da Rede Hoje
Policiais civis deflagraram nesta quarta-feira (5) a Operação Carbono Oculto 86, com foco na infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) no setor de combustíveis. As ações ocorreram de forma simultânea nos estados do Piauí, Maranhão e Tocantins. O objetivo é desarticular um esquema de lavagem de dinheiro e fraude fiscal em postos de combustíveis.
A Secretaria de Segurança Pública do Piauí (SSP-PI) informou que o grupo investigado usava empresas de fachada, fundos de investimento e fintechs para movimentar recursos ilícitos. A estrutura financeira permitia ao grupo ocultar patrimônio e dificultar o rastreamento de transações. A operação contou com apoio de órgãos estaduais e federais.
Foram interditados 49 postos de combustíveis distribuídos pelos três estados. A investigação identificou que os estabelecimentos eram controlados por empresários ligados ao crime organizado. A apuração apontou ainda que os lucros obtidos com a venda de combustíveis eram utilizados para financiar atividades ilegais do PCC.
A SSP-PI explicou que a ação faz parte de um conjunto de medidas integradas de combate à lavagem de dinheiro e evasão de divisas. As autoridades buscam identificar o fluxo de capitais desviados e a origem dos recursos empregados na compra e operação dos postos.
A atuação no Piauí
No Piauí, as ações se concentraram em 11 municípios. Entre eles, estão Teresina, Lagoa do Piauí, Demerval Lobão, Miguel Leão, Altos, Picos, Canto do Buriti, Dom Inocêncio, Uruçuí, Parnaíba e São João da Fronteira. Em todos, os estabelecimentos foram interditados por suspeita de ligação direta com o grupo criminoso.
De acordo com a SSP-PI, as investigações começaram a partir de movimentações financeiras incompatíveis com o faturamento declarado das empresas. O cruzamento de dados fiscais revelou a criação de companhias fictícias para ocultar a real origem dos recursos. O material apreendido inclui documentos, planilhas contábeis e registros bancários.
As operações envolveram equipes especializadas em crimes financeiros, tecnologia da informação e análise contábil. Foram executados mandados de busca e apreensão em residências e escritórios vinculados aos investigados. O objetivo foi recolher provas para confirmar a ligação entre empresários e integrantes do PCC.
O secretário de Segurança Pública do Piauí, Chico Lucas, informou que a ação teve caráter preventivo e repressivo. Segundo ele, o bloqueio das atividades dos postos busca impedir que o dinheiro continue sendo reciclado por meio das vendas de combustíveis.
Conexões interestaduais
No Maranhão, os estabelecimentos investigados ficam nas cidades de Peritoró, Caxias, Alto Alegre e São Raimundo das Mangabeiras. As autoridades locais identificaram que parte das empresas funcionava como intermediária nas transações financeiras do grupo. A suspeita é que os lucros eram transferidos para contas de terceiros em outros estados.
As investigações também alcançaram São Miguel do Tocantins, onde um posto foi interditado. De acordo com as equipes da operação, a estrutura administrativa era semelhante à encontrada no Piauí e no Maranhão. Essa uniformidade sugere um mesmo núcleo de comando e gestão financeira entre as empresas envolvidas.
Fontes ligadas à operação informaram que a rede de postos era utilizada para dissimular receitas provenientes de tráfico de drogas e extorsão. A triangulação de contas bancárias e o uso de fintechs ajudavam a mascarar o volume de recursos movimentados. A análise dos extratos financeiros revelou operações suspeitas no exterior.
A Operação Carbono Oculto 86 também investiga a atuação de operadores financeiros responsáveis por criar fundos de investimento falsos. Esses fundos seriam usados para justificar aportes de capital nas empresas controladas pelo grupo criminoso. A meta é rastrear o caminho do dinheiro até as origens ilícitas.
Histórico da investigação
A Operação Carbono Oculto teve início em São Paulo, em 2022, com foco em empresas suspeitas de lavar dinheiro para o PCC. A ação envolveu a Receita Federal, a Polícia Federal, o Ministério Público de São Paulo e a Polícia Militar paulista. Desde então, os desdobramentos levaram à descoberta de ramificações em outros estados.
No caso atual, a SSP-PI deu continuidade à investigação em parceria com forças policiais regionais. Os resultados preliminares indicam que os investigados repetiram o mesmo modelo de ocultação de capitais já identificado em fases anteriores da operação. O trabalho de inteligência apontou a participação de contadores e consultores financeiros.
Os agentes encontraram indícios de superfaturamento em notas fiscais e simulação de compra e venda de combustíveis entre as empresas envolvidas. Também foram identificados indícios de uso de documentos falsos para abertura de contas bancárias. Os valores movimentados podem ultrapassar R$ 500 milhões, segundo estimativas iniciais.
As investigações devem continuar nos próximos meses, com análise de dados bancários e comunicações telefônicas. As autoridades não descartam novas prisões e apreensões. O material recolhido será encaminhado à perícia para determinar a autenticidade das transações e o envolvimento de pessoas físicas e jurídicas.
Repercussão e próximos passos
O Ministério Público Estadual informou que acompanha a operação e deve oferecer denúncia assim que a análise das provas for concluída. Os promotores destacaram a importância da integração entre os órgãos para enfrentar o crime organizado. A previsão é de que novos relatórios sejam entregues até o fim do mês.
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) foi acionado para auxiliar na identificação de transações suspeitas. O órgão deve fornecer dados sobre movimentações atípicas e transferências internacionais. A expectativa é cruzar informações com investigações em andamento em outros estados.
A SSP-PI informou que a prioridade é a responsabilização dos empresários envolvidos e o bloqueio dos bens obtidos de forma irregular. A medida visa evitar que o capital seja reinserido no sistema financeiro por meio de terceiros ou novas empresas de fachada.
Os órgãos participantes da operação destacaram que as ações contra o crime organizado no setor de combustíveis devem continuar em 2026. O objetivo é ampliar o monitoramento sobre empresas do ramo e fortalecer os mecanismos de controle tributário.
O impacto no setor de combustíveis
A interdição dos 49 postos gera impacto direto no abastecimento de algumas regiões, especialmente em cidades pequenas. As autoridades locais garantiram que os consumidores não ficarão sem atendimento, pois há outros estabelecimentos regulares em operação. O monitoramento do mercado será feito em conjunto com a Agência Nacional do Petróleo.
Segundo especialistas ouvidos pela SSP-PI, o uso do setor de combustíveis para lavagem de dinheiro tem se tornado uma prática recorrente no país. O alto volume de transações diárias e a facilidade de movimentar recursos tornam o ramo vulnerável a fraudes. O combate a essas práticas depende de fiscalização integrada e auditorias permanentes.
A Operação Carbono Oculto 86 é considerada uma das maiores investigações financeiras em andamento no Nordeste. O resultado das apreensões e o bloqueio de bens podem gerar novas ações judiciais. A SSP-PI reiterou que as apurações prosseguem sob sigilo judicial para preservar o andamento das diligências.
O relatório final será encaminhado ao Ministério Público e à Justiça Estadual. A expectativa é de que as informações ajudem a estruturar futuras operações conjuntas em outros estados. As autoridades acreditam que a desarticulação dessa rede enfraquece o financiamento do crime organizado no país.