Confraternização. Mesmo se distanciando no tempo, algumas tornam-se inesquecíveis. Cada ano que se vai, a saudade aumenta. Pois, diversos participantes de outrora passam a ser flores no jardim celestial. A Associação dos Patrocinenses e Amigos de Patrocínio-APA, na primeira década deste século, promoveu mais de dez confraternizações na capital. A maioria foi denominada “Reencontros”. Ou seja, reencontros de patrocinenses que há muito não se viam ou não iam à terra natal. A “Reencontros” de 2005, aconteceu no dia 22 de outubro de 2005, um sábado. Portanto, há 16 anos exatamente. Observando as narrativas e fotos daquele mágico momento, hoje o destaque é o registro de muitos patrocinenses da festa que passaram para o plano superior, o popular andar de cima.

OS MÉDICOS – Enquanto o octogenário pediatra dr. Saul Faria Pereira saudava a todos na entrada do clube, o médico-cantor José Carlos Lassi Caldeira encantava e cantava. E o oncologista dr. Eduardo Brandão (filho do dr. José Garcia Brandão, ícone da medicina em Patrocínio, anos 40 a 80) narrava os livros, sobretudo “Caminhos do Cerrado” (família Brandão), que foi lançado em mês após (11/11/2005). Já o médico Francisco Silveira falava de seu saudoso pai, o prof. Hugo Machado (autor do livro “Chapéu de Palha”, editado em 1989). Dr. Saul faleceu um ano depois, em 21/8/2006. E a dra. Josi Faria, sua irmã, primeira advogada de Patrocínio, que o acompanhou, também está no Céu.

AS PROFESSORAS – Marcelina Othero Nunes (mestre nos anos 60 a 80) era só alegria. Sua cunhada Vera Nunes (filha do sr. Manoel Nunes) viera especialmente de Patrocínio para a solenidade. Laga Wadhy Farah (irmã do médico-poeta Michel Wadhy), professora de Inglês nas décadas de 60 a 80, marcava sua indispensável presença. Carlita Campos dançava divinamente com o seu par Álvaro. Nilda Caetano, ex-superintendente da Secretaria Estadual de Educação, distribuía sorrisos e abraços. E Belinha de Castro (irmã da referencial professora Aglair de Castro) vivificava aquele momento e no dia seguinte retornava a Patrocínio. Já deixaram essa vida a professora Laga Wadhy Farah (falecida há alguns anos, em BH) e a professora Belinha de Castro (falecida na cidade, há poucos anos). Vera Nunes também intregou à comitiva para o Céu (2009).

OS PROFESSORES – O escritor Ivan Gomes da Silveira (que faleceu nesta quinzena em em BH) via poesia em tudo. Israel Caldeira contava estórias da cidade que deixara nos anos 50 (hoje, frequenta as redes sociais rangelianas sobre história). E Haroldo Nunes se lembrava de fatos que o tempo levou.

O PODER JUDICIÁRIO – Patrocínio teve a honra de ver dois de seus filhos atuando como desembargador, em uma mesma época. O desembargador Unias Silva (e sra. Carmencita), irmão do ex-prefeito Amâncio Silva, conversava e falava de Patrocínio. Unias tinha o brilho da Santa Terrinha em seus olhos. Ele e o desembargador Maurício Barros promoveram diversos benefícios para a Comarca local. Hoje, Unias está na última morada. E Maurício, aposentado, dirige escritório de advocacia, junto com familiares, em Patos de Minas.

O PODER POLÍTICO – Expedito de Faria Tavares irradiava luzes de seu passado (vereador pela UDN nos anos dourados, renomado advogado, deputado, presidente da Assembleia Legislativa e secretário de Estado). Ao seu lado, o filho Rogério Tavares, chefe de comunicação do TRE e apresentador de TV. Glauce Caixeta, assessora do deputado Silas Brasileiro, ofertava charme e sabedoria política. Hoje, Expedito é morador celestial, desde 15/1/2006. Portanto, apenas três meses após essa mencionada “Reencontros”. E Glauce participa do Governo do Distrito Federal.

OS HISTÓRICOS – Roberto Cunha entrava no túnel do tempo comentando sobre o seu pai, o aviador Elias Alves da Cunha, o primeiro piloto do Município. Isso nos anos 40. Sônia Alves desfilava simpatia com o seu pai Baim, lenda musical e do futebol patrocinense nas décadas de 40 e 50. Já Maria José Ferreira Mendes (Zezinha) referenciava o espírito de seu pai, General Astolfo Ferreira Mendes, o primeiro general de Patrocínio e o criador da primeira Associação de Patrocinenses em outras cidades (no caso, BH). Anos 50 e 60. Hoje, Baim encanta a turma celestial.

O DIPLOMATA – Não faltava cobiça ao cônsul do Paraguai em Belo Horizonte, o patrocinense Marcos Cardoso (solteiro), acompanhado de sua mãe D. Dalma e o pai Sr. Galeno. Residiram na cidade nos anos 40 e 50 à Rua Presidente Vargas. Hoje, os três residem no infinito azul de Deus.

GENTE INESQUECÍVEL – Waldete Caldeira e o seu marido Aristóteles Nunes (gerente do Bemge, anos 60 e 70), Adriano e Marta Silva (única irmã de oito craques do futebol, nos anos 50 e 60), Maria Helena Brandão (alta executiva da Unimed), Erly Hooper (sobrinha da D. Anjinha da Biblioteca e descendente da família Pieruccetti), empresário Márcio Queiroz e sra. e tanta gente mais que abalou os corações dos presentes. Hoje, Maria Helena e Aristóteles Nunes são companhias do Senhor Deus.

OS DE CASA – Os anfitriões da APA foram representados pelo empresário Ivan Silva (irmão do Deley Despachante). Dulce Nunes Castro (família Manoel Nunes), professor de Farmácia/UFMG José Dias, professora Nely Nunes, advogada Imaculada Machado, empresária Heloisa Boaventura, auditor Belchior de Oliveira e este autor.

O CENÁRIO... O CLÍMAX – O Clube Amigos de JK, na Savassi (BH), recebeu mais de 120 patrocinenses. Sob histórica decoração com fotos de Juscelino e Alkmim, principalmente. E no final, professora e aluno, juntos outra vez. Cantaram em espanhol as maravilhosas “Granada” e “La Violetera”. Marcelina Othero (patrocinense-espanhola) e médico Zé Carlos Lassi. Cenas para jamais serem esquecidas!

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Inesquecíveis. As festas dos patrocinenses em BH assim as foram. Antológicas. É bom reviver. Como aconteceram, os antecedentes, a série intitulada “Reencontros” e alguns personagens dessas páginas históricas. Se não foi a maior, certamente se encontra entre as cinco maiores manifestações de uma comunidade interiorana, realizadas na capital de Minas. Pena que durou sete anos. Porém, quando realizadas, eram destaque em Belo Horizonte. Inclusive pela mídia.



O presidente Júlio Queiroz, vice-presidente Eustáquio Amaral, diretor financeiro Cândido Neto e conselheiro Durleno Resende, no microfone, abrindo solenidade no Minas 2.


OS ANTECEDENTES
– Nos anos 50, a Associação dos Patrocinenses Ausentes–APA foi criada sob a liderança do general Astolfo Ferreira Mendes. Patrocinense, nascido em Abadia dos Dourados em 1904 (quando o distrito pertencia a Patrocínio). Em 1920, ingressou no Exército e já em 1926 foi o primeiro instrutor do Tiro de Guerra, ainda como sargento. Em seus últimos anos de vida, residiu em BH, onde bacharelou-se em Direito, e, movimentou por demais os seus conterrâneos nas décadas de 50 e 60. Faleceu dia 24 de outubro de 1969, aos 65 anos de idade. 

AS PRIMEIRAS VIAGENS DA APA – Nesses anos de 50 e 60, a Associação, sob a presidência do General Astolfo, empreendia românticas “embaixadas” (viagens) à terra natal, por trem (Rede Mineira de Viação). Após quase 24 horas de duração da viagem (a composição ferroviária tinha leito, vagão-restaurante e vagão-poltronas de madeira), a comitiva era recepcionada na estação ferroviária (mesmo descaracterizada, ainda está lá) por multidão de amigos, familiares e curiosos. Inclusive, a Banda de Música e foguetes.



EXEMPLO DA PAIXÃO PELA TERRA
– Entre 1960 e 1962, o prefeito Enéas Aguiar e o vice-prefeito Benedito Romão de Melo realizaram diversas inaugurações na cidade. Tais como: a energia elétrica da Cemig, a iluminação da área central com luz “a mercúrio”, Estádio Júlio Aguiar e outros benefícios para o Município. A APA esteve presente. E participava solenemente dos atos de inauguração. Até o prefeito ia recepcionar a “embaixada” patrocinense de BH no bucólico bairro Alto da Estação.

O RESSURGIMENTO DA APA – Com o falecimento do General Astolfo, a Associação hibernou-se por 30 anos. No final da década de 90, no primeiro show do cantor patrocinense José Frazão (então, residente em Goiás) na capital mineira, diversos grupos de patrocinenses se aglomeraram em mesas na Gameleira (hoje, Expominas, em BH) para curtirem a voz de Frazão e lembranças de sua Patrocínio. Em uma dessas mesas, se encontravam o veterinário Júlio Queiroz, o diretor do BHShopping Durleno Resende e este economista, técnico do Governo Estadual, além de outros conterrâneos. Ao ver tantos patrocinenses reunidos, esses três rangelianos principalmente tiveram uma miragem: é hora de reativar, renascer, a Associação dos Patrocinenses.

... E AÍ TUDO COMEÇOU... – No dia 28/2/2000, no salão de reuniões da Epamig, oito patrocinenses residentes em BH se reuniram, quando foi definida a agenda de reimplantação da APA. Em 18 de maio de 2000, numa Assembleia Geral, foi eleita a primeira diretoria: Júlio Queiroz (presidente), Eustáquio Amaral (vice-presidente), Imaculada Machado (diretora administrativa), Cândido Neto (diretor de Finanças), Marilene Ávila e Berenice Pereira (diretoras de cultura) e Neli Nunes (diretora social). Além do Conselho Consultivo (Zé Carlos Lassi, Eduardo Brandão, Israel Caldeira, Lúcio Lemos e Durleno Resende) e do Conselho Fiscal (desembargador Maurício Barros, Antônio Cândido Borges e Adalberto Machado). Nessa época, foi calculado aproximadamente 4.000 patrocinenses e famílias residindo na Grande BH. Esse seria o público-alvo da nova APA.

PRIMEIRA GRANDE FESTA – Com o título de “Reencontros”, aconteceu em 15 de setembro de 2000, uma sexta-feira, no Minas Tênis Clube II, marcante noite com o cantor José Frazão (segunda vez, em BH), a dupla Breno e Bruno (filhos de patrocinenses), médico-cantor Zé Carlos Lassi, dupla Gustavo Tempone e Juliana Brandão, e com a lenda Baim e o seu saxofone.
 
REENCONTROS II – Novamente no Minas e em outubro (06/10/2001), ocorreu a segunda grande festa. Na festividade foi entregue o “Troféu General Astolfo Ferreira Mendes” a ilustres patrocinenses: prefeito Betinho, deputado Romeu Queiroz, deputado Silas Brasileiro, empresário Nenê Constantino, músico Geraldo Alves do Nascimento (Baim) e professora Geralda Pereira. Depois, baile com a Banda “Via Láctea”. O clube belorizontino recebeu quase 1 mil pessoas.





CARTÃO-CONVITE
– No bonito cartão distribuído aos patrocinenses e amigos de Patrocínio está escrito, sob a foto do casarão da Casa da Cultura:
“Aquele papo
Aquela saudade
De uma cidade... chamada Patrocínio,
Terra-mãe do coração!”

REENCONTROS III – Em 18 de outubro de 2002, jantar e baile com Somel & Banda. Ainda no Minas II. Aproximadamente, 400 pessoas entre patrocinenses e amigos de Patrocínio.

REENCONTROS IV – No dia 26 de setembro de 2003, uma sexta-feira, aconteceu a inesperada última festa da administração Júlio Queiroz. Também jantar e baile com Somel & Banda. No cartão-convite, parte do Hino a Patrocínio, de Augusto de Carvalho:
“... Salve, salve esta terra adorada,
Que em beleza não teme rival.
Patrocínio é um seio de fada;
Salve, salve este berço natal...”
 
MORTE DO PRESIDENTE, NOVA HIBERNAÇÃO – Seis meses após o “Reencontros”, ano 4, Júlio Queiroz faleceu no Hospital Biocor, em BH, acometido de doença cardíaca. Exatamente em 17 de março de 2004. Júlio um ser calmo, simples, idealista e grande amigo. A APA era a sua vida. E Júlio, a alma pura da Associação dos Patrocinenses e Amigos de Patrocínio. Fica bem reprisar trecho do cartão-comunicado de seu falecimento, produzido pela família:
Minh’alma era tu’alma
Repartida:
duas vidas ligadas numa vida.”

Assim, foi Júlio Queiroz e APA. Conviveram cinco anos memoráveis para o bem dos patrocinenses. Feliz época. E o sonho não acabou.

OUTRAS CONFRATERNIZAÇÕES – A APA, nesse período, promoveu outros eventos, como na Casa JK (“Maria das Tranças”), Minas I (o tradicional), horas-dançantes e três anos consecutivos participando da Feijoada da APAE na cidade, viajando em ônibus especial. E a APA já tinha até sede, à Avenida dos Andradas, na capital.

PÓS REENCONTROS – Nova Diretoria, sob a presidência do empresário Ivan Silva (Casa Mineira), reativou a APA, com três bons jantares e horas dançantes, com significativa presença. Todavia, o período se restringiu a dois anos. Hoje, a bela adormecida APA espera ser despertada por um novo amor, uma jovem diretoria.

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Carlos Lamarca em treinamento. Foto Wikipedia
Este é o título do livro de Oldack Miranda sobre a vida de Carlos Lamarca. No mês passado – dia 21 de setembro – completaram-se cinquenta anos da morte de Lamarca. A imprensa não deu a mínima atenção para esta data. Preferiu referir-se exaustivamente ao onze de setembro americano. Perdemos uma ótima oportunidade de uma revisão histórica e de explicitar semelhanças de governo desta e daquela época. Lamarca entrou para a Escola Preparatória em Porto Alegre em 1954. Foi promovido a capitão em 1967 e desertou já em  janeiro de 1969. Serviu no Canal de Suez e, lá como aqui, ficou impressionado com a pobreza. Sempre teve o pensamento voltado para o social. “Precisamos acabar com a fome e dar moradia para esta gente”, dizia para esposa. Foi um bom militar, com bom relacionamento no meio da tropa. Quem estava sob seu comando não queria sair. Quem não estava, queria estar com ele. Sua deserção deixou surpresos até seus comandantes.

Antes de desertar do exército, em janeiro de 1969, e fazer parte da VPR (Vanguarda Popular Revolucionárias) entrou com uma Kombi no quartel e levou sessenta e três fuzis FAL A ideia era levar 360, mas o plano de entrar com um caminhão falhou. Lamarca caiu na clandestinidade. Neste mesmo ano, mandou sua família para cuba, a mulher e os dois filhos. Viagem clandestina para não serem descobertas: passagem por Roma, Tchecolosvaquia, Canadá e Cuba, onde passaram a morar. Em carta de junho de 1969, pedia a esposa que não voltasse ao Brasil

Sua primeira ação armada foi o arrojado assalto a dois Bancos ao mesmo tempo:  Banco Mercantil de São Paulo e o Banco Itaú, próximos um do outro. Matou com um tiro na testa, a trinta metros de distância um guarda civil que tentou interferir no assalto. Lamarca era exímio atirador e estrategista. No Vale da Ribeira, os soldados morriam de medo de um confronto com ele.

Acreditava na guerrilha rural como forma de tomar o poder. Acreditava que em cinco anos a luta armada estaria vitoriosa, teria derrubado o governo. Tentou organizar a guerrilha no Vale da Ribeira, mas em três meses foram descobertos. O Exército montou um grande esquema para prendê-los. Aviões C47, bombardeio B25, caças T6. Dois mil e quinhentos soldados, a maioria recrutas, totalmente despreparados, ocuparam a mata. Segundo Lamarca, esta guerrilha envolveu vinte mil soldados. Acho um exagero. Acabaram com a guerrilha, mas não conseguiram prender Lamarca. Já no final da guerrilha, depois de quarenta dias na mata, cercados, sem alimento, sem calçado, já debilitados, teve uma fuga espetacular: conseguiram sair da mata, chegaram à margem de uma rodovia dispostos a pegar a primeira condução que aparecesse. Veio um caminhão do exército, que procurava prendê-lo, com cinco ocupantes. Lamarca e seu grupo, renderam os soldados, vestiram suas fardas, obrigaram a deitar no caminhão, passaram pela barreira do próprio exército e foram para São Paulo.

O governo estava disposto a acabar com os movimentos de esquerda, com as guerrilhas. A tortura corria nas prisões, com requintes de crueldade. Os prisioneiros sofriam toda forma de tortura: coroa de Cristo, Cadeira do Dragão e o mais comum: espancamentos e choques elétricos na boca, nas orelhas, olhos, ânus, vagina, pênis e nos seios.

Uma das formas de livrar os companheiros da prisão foi o sequestro de embaixadores:  Foram quatro sequestros. Lamarca participou de dois: o do cônsul japonês e o do embaixador suíço em dezembro de1970, o último sequestro. Lamarca comandou pessoalmente este último. Pedia a libertação de 70 prisioneiros. Durou quarenta e dois dias este sequestro. O governo procurava ganhar tempo para descobrir o esconderijo, recusou a libertação de alguns presos e isto obrigava os sequestradores a refazer a lista. Bacuri, por exemplo estava jogado em uma cela em um sítio, com os braços e pernas quebrados, dentes arrancados e um olho vazado, perfurado. Um mulambo sem nenhuma assistência médica. Depois de tanta tortura nem tinha condições de sair da prisão, morreu ali mesmo. Lamarca comandou o sequestro e o aparelho onde estava o embaixador suíço. Em um dado momento, devido à demora do governo, os sequestradores decidiram pela maioria, matar o cônsul. Lamarca não permitiu e disse “o comandante sou eu”.

 A polícia não deu trégua. Estavam próximos de prender Lamarca. Os companheiros queriam tirá-lo do país. Ele não aceitou. Em junho de 1971, decidiu fugir para a Bahia, para Brotas de Macaúba, em um caminhão velho. Em sua última noite no Rio, a polícia havia prendido um colega da casa onde estava escondido, os famosos aparelhos.  Avisado, Lamarca e Yara, sua amante, passaram a noite toda andando de ônibus coletivo para não serem descobertos.

No interior da Bahia, de junho a setembro de 1971, sonhava em organizar uma guerrilha, até que a polícia o descobriu. Foi perseguido, caçado. Em Buriti Cristalino, primeira parada de Lamarca, a polícia prendeu, torturou pessoas para revelarem o paradeiro o seu paradeiro. Fugiram ele e um companheiro para Brotas e dali entrou sertão a dentro. Percorreu trezentos quilômetros, a pé, sempre denunciado pela população local,  perseguido pelo Major Newton Cerqueira e seus soldados. Já faminto, estropiado, sem condições de andar, foi morto pela tropa do Major, depois de uma caçada de vinte dias. Ao todo foram utilizados 215 homens na caça a Lamarca.

O que fez Lamarca se destacar dentre tantos guerrilheiros? Suas ações ousadas como o assalto simultâneo a dois Bancos, o roubo dos fuzis do quartel de Quitaúna. Ter saído vivo e sem ser preso do Vale do Ribeira. Além disto, era grande estrategista e procurava aglutinar as esquerdas à medida que os grupos iam se enfraquecendo devido às prisões. O governo ficou quarenta dias procurando o aparelho onde estava o embaixador sequestrado e não conseguiu localizá-lo. Usou neste sequestro o codinome de Cláudio. Nem os próprios sequestradores incialmente sabiam que ele era o Lamarca.

Morreu próximo de completar trinta e quatro anos. Durou três anos e meio sua vida clandestina. Abandonou sua carreira militar por muito pouco.   Tornou-se um mito para a esquerda brasileira. A luta armada foi o grande equívoco da esquerda brasileira e Lamarca foi ator e também vítima deste equívoco.

1872. Tempo do Império do “Brazil”. Tempo da Vila de Nossa Senhora do Patrocínio (a cidade é a partir de 1874). Surge o primeiro censo decenal, o “Recenseamento do Brasil”. Para tanto, D. Pedro II cria a Diretoria Geral de Estatística, a semente do IBGE. Em Minas Geraes (com “e” mesmo), há apenas 72 municípios (hoje, são 853). O Censo de 1872 é realizado por Freguezia (com “z”). E “freguezia” é como se fosse distrito. Patrocínio tem três “freguezias”: Vila Nossa Senhora do Patrocínio, São Sebastião da Serra do Salitre e Sant’Anna do Pouso Alegre do Coromandel. Já Santo Antônio dos Patos (Patos de Minas, hoje) conta com duas: a do próprio nome e Sant’Anna do Parnahyba (hoje, Santana de Patos). Araxá tem quatro “freguezias” e Bagagem (Estrela do Sul) cinco. Todavia, considerando todas as “freguezias”, o município de Patrocínio é o mais populoso do Triângulo no Império.

LIDERANÇA ESCRAVA – A “freguezia” São Sebastião da Serra do Salitre, pertencente a Patrocínio, conseguiu nesse Censo o triste título de maior número de escravos da região, com 3.830. Enquanto que na sede do município, “freguezia” de Nossa Senhora do Patrocínio tinha 1.699 escravos. As três “freguesias” patrocinenses possuíam 7.177 escravos. Simplesmente o maior número do Triângulo. Os maiores redutos de escravos de Minas eram Leopoldina e Juiz de Fora. Ambas com mais do que o dobro de Patrocínio.

VICE-CAMPEÃO NA POPULAÇÃO LIVRE – No município de Patrocínio havia 24.201 pessoas livres. Dentre os quais, na “freguezia” de N. S do Patrocínio quase 10 mil livres (9.943), distribuídos entre brancos, pardos, pretos e caboclos (termos do Censo). Bagagem (Estrela do Sul), o campeão em população livre, tinha quase 4 mil pessoas a mais do que Patrocínio (28.106 pessoas). Todavia, quando se reúnem a população livre mais a população escrava, Patrocínio tem quase 1.000 habitantes a mais do que Bagagem. Pois, Patrocínio tinha muito mais escravos.

A POPULAÇÃO POR “PAROCHIA” – “Freguezia” também era denominada “Parochia” (paróquia). As administrações do Império e da Igreja eram iguais territorialmente. A população da “Parochia” de N. S. do Patrocínio (futura cidade e município de Patrocínio) tinha 11.642 “almas” (termo do Censo de 1872). Dos quais, 9.943 “almas” livres e 1.699 escravas. A maioria da raça branca (a metade), e, solteira (tinha 3 mil casados). E a população toda católica. Não havia “acatholicos”.

OS ESTRANGEIROS – Patrocínio acolheu 84 pessoas de outros países. Da África, 60 escravos e 13 livres. Da Itália, uma pessoa. De Portugal, 10. Desses estrangeiros pouco mais da metade eram pessoas solteiras.

HAVIA CARIOCA NO PEDAÇO... – A quase totalidade da população era composta de mineiros. Naturalmente, a maioria do Município. Porém, foram registradas seis pessoas do Rio de Janeiro, uma de São Paulo, Pernambuco e Goyaz (Goiás). E dois baianos.

POPULAÇÃO ANALFABETA! – Na freguesia ou paróquia N. S. do Patrocínio, 94% da população não sabia escrever nem ler. Mais precisamente 10.946 pessoas analfabetas. Apenas 696 eram alfabetizadas. Incrível! Nenhum escravo sabia ler. Os pouquíssimos que sabiam, situavam-se entre a população livre. E mais, tão somente 96 crianças, filhos de pessoas livres, frequentavam escola. Isso contando a idade entre 6 a 15 anos.

CASAS E PESSOAS DEFICIENTES – Em 1872, a Vila de Patrocínio contava com 1.645 “fógos” (casas). Fogos sinalizavam casas com chaminé. Ou seja, autonomia de moradia. Havia fogão à lenha. Felizmente, dentre os quase 12 mil patrocinenses da gema, tinha somente 10 pessoas cegas, 12 surdos-mudos, 21 aleijados, 4 dementes e um alienado (expressões do Censo).

IDOSOS IMPERAVAM... – Na população de 11.609 pessoas, tinham 19 pessoas com mais de 100 anos de idade! Quatro homens brancos e pardos livres, cinco homens escravos, sete mulheres “brancas, pretas e pardas” livres e três mulheres escravas. Portanto, a raça negra era muito mais longeva, considerando o seu tamanho (20% do total), e que havia negros livres também.

UM PROFESSOR, NOVE “BARNABÉS” – Nas profissões liberais existiam dois padres, dois escrivães, dois “pharmacêuticos”, um professor, um médico, dez militares e nove funcionários públicos. Nenhum advogado, parteiro ou artista. Tudo isso se referindo somente a Vila N. S. do Patrocínio. No Município havia muito mais. Por causa de Coromandel e Serra do Salitre.

MULTIDÃO DE COSTUREIRAS, LAVRADORES E DOMÉSTICOS – Entre as profissões manuais ou mecânicas, o destaque é para o número de costureiras: 761, sendo que 35 eram costureiras escravas. Como também é relevante o registro, em 1872, de 3.299 lavradores e quase 2.400 pessoas com “serviço doméstico” (é provável, que sejam empregadas domésticas, capinadores, rachadores de lenha, quitandeiros e similares).

MUITO INTERESSANTE: JORNALEIROS? – Esse Censo registrou 1.146 pessoas como “criados e jornaleiros”. Mas, não havia jornal no Município. Então, deve ser só “criados”. Havia também operários em metais (22 ferreiros), de madeiras (38 carpinteiros e “carapinas”), de operários em tecidos (652 trabalhadores na fabricação de tecidos), em edificações (12 pedreiros e serventes), em couros (sete, inclusive seleiros) e 33 sapateiros. É muito importante destacar os 64 “commerciantes”, guarda-livros (hoje, contadores) e caixeiros (comerciantes “viajantes”).

POR FIM – Para completar o município de Patrocínio, além da “Parochia” de N. S. do Patrocínio, serão apresentadas, nas próximas edições, a “Parochia” de Sant’Anna do Pouso Alegre de Coromandel e a “Parochia” de São Sebastião da Serra do Salitre. As três paróquias (Igreja) ou as freguesias (Província) pertenciam ao Município, em 1872.

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Por Alexandre Costa*


O Brasil vai aos poucos perdendo sua identidade. Seja no esporte, na TV ou na música, o processo de internacionalização continua a passos largos. Antes considerado “país do futebol”, a nação já não liga tanto para jogos da seleção brasileira. Já os clubes veem dificuldade em aumentar o número de torcedores numa geração que não se interessa pelas partidas dos torneios nacionais e até internacionais.

O futebol brasileiro, por exemplo, está chato. As partidas são tecnicamente ruins, com uma arbitragem irritante, atletas mimados e mal intencionados (tentam burlar a arbitragem o tempo todos), sem falar na “cera” que cada time faz quando o resultado lhe interessa. Somado a isso, a geração que experimentou na infância um 7x1 contra Alemanha, acachapante e humilhante, prefere escolher um time de Free Fire para torcer, que conta hoje com vários squads famosos, transmissões ao vivo de suas partidas e ações de marketing voltadas ao seu público.

Na contramão do que é feito no futebol brasileiro, a NBA vem enxergando no Brasil um grande mercado. Em recente matéria do Correio Braziliense, fica evidente que o brasileiro está cada vez mais ligado aos esportes americanos. Por estar morando em Brasília posso dizer com propriedade: as quadras da cidade são muito utilizadas para a prática de basquete, talvez até mais do que para o futebol.

Nesta terça-feira, 19/10, a nova temporada da NBA teve início com um show de organização. A liga promove um grande evento, homenageando atletas e times que foram campeões no ano anterior. A partida de abertura é usada para mostrar aos amantes do esporte o que lhes espera no restante da temporada. E não para por aí. Cada jogo, a partir de agora, é uma atração diferente, um produto mercadológico rentável, que da ao espectador a sensação de querer mais e desejo de consumir os produtos.

Quando olhamos a final dos campeonatos Brasileiro e Copa do Brasil da até vergonha. Não há nada especial. O máximo que existe é uma chuva de papel picado, um inflável com a marca do evento e só. Os jogadores campeões recebem as tão batidas medalhas, entregues por políticos ou dirigentes futebolísticos pra lá de carimbados.

Já o futebol americano, outro bom exemplo de sucesso do marketing, tem no intervalo do Super Bowl (jogo final) os segundos mais caros da tv mundial. Isso porque não é apenas um intervalo, exibindo melhores momentos ou chamando informações inúteis, com comentários manjados (com exceção de alguns comentaristas que realmente sabem o que falam). O Super Bowl tem tantas atrações artísticas sensacionais que imagino a sensação de quem vive isso no estádio. Após o jogo, a festa do vestiário é transmitida ao vivo, tudo vira atração.

Amo o Brasil, acho esse país incrível, com um povo trabalhador. Mas esse mesmo povo é tão carente de lideranças sérias e competentes, em praticamente todas as áreas. Tivéssemos gestores sérios, com visão administrativa moderna, tenho certeza que nosso país seria muito mais destacado do que de fato é.

Precisamos deixar a xenofobia de lado, sermos humildes o suficiente para ver que deveríamos aprender com as ações de quem sabe fazer o melhor. Neste âmbito esportivo, se não agirmos rapidamente em busca de uma mudança drástica na forma como promovemos nossos eventos, estamos fadados a vermos uma geração que não terá nenhum interesse em consumir produtos de clubes de futebol ou da seleção brasileira. Já estamos vivendo uma transformação, pois por onde tenho passado, cada vez mais vejo jovens desfilando com camisas de Lakers, Golden State Warriors, Bulls, Falcons, Eagles, Patriots, e por aí vai!

Enquanto isso: chute fraco de fora da área, goleiro defende, cai no chão e lá se vão dois minutos da nossa preciosa vida com a imagem de um ser humano rolando no chão, sem (na maioria das vezes) estar sentindo absolutamente nada. E vida que segue...

* Publicitário e jornalista, assessor de comunicação do Conselho Nacional do Café.

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