Eustáquio Amaral | Primeira Coluna
Fascinante. No século da Independência e da monarquia brasileiras alguns escritores famosos conheceram o distrito, depois município, de Nossa Senhora do Patrocínio. Entre os quais, o naturalista francês Auguste Saint-Hilaire, e, o médico da Universidade de Praga, Johann Emanuel Pohl. Todavia, o mais importante foi o brasileiro, nascido em Ouro Preto, Bernardo Joaquim da Silva Guimarães. O escritor, romancista e poeta Bernardo Guimarães. Em duas obras, dois “best-sellers”, Patrocínio e os patrocinenses de então têm muito a ver. “Índio Afonso” (provavelmente, o mais célebre patrocinense), e, “O Garimpeiro”. Nesse último livro o destaque são as festas da “Vila de Patrocínio”. E os personagens dessa narrativa da vida sertaneja são “aquele moço de Uberaba (Elias)” e os prováveis patrocinenses Major e a sua filha Lúcia (essa amada por Elias).
O ÍNDIO AFONSO – Na verdade, Afonso não era índio. É um mestiço influenciado pelas culturas indígena e europeia. A “novela” (romance) é inspirada num personagem real (Índio Afonso), que Bernardo conheceu. Muito provavelmente, pelas suas passagens por Patrocínio (caminho entre Catalão/GO e a sua terra, Ouro Preto). Segundo Bernardo, Afonso não é criminoso. Vivia à beira do Rio Paranaíba, armado até aos dentes, como um “Rambo”. Um justiceiro.
BERNARDO À ÉPOCA DE AFONSO – Ele conheceu Afonso em 1861, quando era juiz em Catalão (1852-1854 e 1861-1864). E Afonso habitava as matas do Paranaíba, Guimarães escreveu que ele era um caboclo de estatura colossal, “sempre armado deste os pés até à cabeça (espingarda, duas pistolas, faca e foice). Ele só valia por vinte homens...” conclui Bernardo em sua obra.
RESUMO DE QUEM FOI ÍNDIO AFONSO – No primeiro levantamento populacional de Minas Gerais, em 1832-1835, a família Afonso foi identificada no “fogo” (casa) nº 206 do então Distrito de N. S. do Patrocínio (hoje, Patrocínio). Posteriormente, a família Afonso foi muito vinculada à família do Cel. Rabelo. Bernardo o conheceu, quando juiz de Catalão, (de 1852 a 1864) e o Índio Afonso morava à beira do Rio Paranaíba, talvez fugido da polícia. Em 1872, Bernardo Guimarães escreveu a obra “O Índio Afonso”. Uma versão romântica e heroica do personagem patrocinense. Depois de 1872, surge a nova versão do clã Afonso (Índio Afonso e seus filhos). Aí, o incrível bandoleiro Índio Afonso a serviço dos grandes fazendeiros (Cel. Rabelo é um deles) invadia, saqueava e matava fazendeiros adversários (isso não está na obra de BG). Em 1887, Índio Afonso, morreu em renhida batalha, em Bagagem (Estrela do Sul). A “Gazeta de Uberaba” escreveu: “... morreu o célebre e legendário assassino Índio Afonso, com 80 anos”. O jornal “Novidade” da capital Rio de Janeiro (1887) disse “... privando Minas Gerais e todo o Império do Brasil, de um dos seus melhores e mais ilustres bandidos”. Mas... a saga assassina dos Afonsos continuou com os filhos de Índio Afonso. Sobretudo, Pedro e João. A mando dos Rabelos, um deles, teria assassinado o juiz Eloy Ottoni, em Patrocínio (1889). Até 1909 os filhos, também denominados “Índio Afonso”, dominaram o Triângulo (Fontes: grande pesquisador de Paracatu, José Aluísio Botelho; Arquivo Público Mineiro; Livro de BG “O Índio Afonso”; Sebatião Elói e Eustáquio Amaral).
CÉLEBRE FRANCÊS SAINT-HILAIRE EM PATROCÍNIO – “Viagem às Nascentes do Rio São Francisco”, livro escrito, em 1819-1820, por Auguste de Saint-Hilaire, narra uma viagem de cinco meses, partindo do Rio de Janeiro, passando por Araxá, Patrocínio e Paracatu, chegando a Goiás. É o primeiro grande documento escrito sobre a região. Segundo Sebastião Elói, Saint-Hilaire hospedou em PTC, num casarão (já demolido), que situava, hoje, na Rua Afonso Pena com Rua Governador Valadares. No capítulo XIII desse livro, “Viagem de Araxá a Paracatu”, ele narra a passagem pelo distrito de Patrocínio. Destacou o Rio Quebra-Anzol, as águas minerais de Salitre, a Fazenda de Damaso (2,5 léguas de distância de Patrocínio), a Povoação de Patrocínio (arraial), os bichos de pé, as fontes minerais da Serra Negra e Serra do Dourado (légua igual 6,5 km). Já nessa época (1819), Saint-Hilaire escreveu que o arraial contava com dois mercadores, alguns artífices (trabalhos manuais, como costureira, seleiro e carapina), ociosos (sem trabalho) e mulheres públicas (prostitutas).
ALEMÃO ESCHWEGE – Engenheiro, mineralogista e arquiteto Willhelm Ludwig von Eschwege visitou Patrocínio (1816). Como curiosidade ele descreve em seu livro “que foi recebido em uma casa cujo marido estava ausente”. A esposa o atendeu sem se mostrar. Deu-lhe o engenho como abrigo e as refeições eram oferecidas por um buraco na parede (sem mostrar quem as oferecia).
MÉDICO JOHANN EMANUEL POHL – Esse cientista pertencia à Universidade de Praga, embora fosse austríaco. Era também botânico e geólogo. Visitou PTC em 1818. Escreveu “Viagem no Interior do Brasil”.