Conheça a história de José Pereira de Araújo, conhecido como Zé Araújo, e saiba o que ele fez, para ajudar na revolução rural que transformou o país


José Araujo morreu de de insuficiência cardíaca e diabetes, tinha 93 anos.
Foto: arquivo da família


Faleceu nesta quinta-feira, 14/12, em Patrocínio, MG, um dos homens mais importantes para o desenvolvimento agrícola do Brasil. José Pereira de Araújo, conhecido como o Sr. Zé Araújo, morreu de insuficiência cardíaca e diabetes.

Vamos contar sua história, para dar uma noção da grandeza de José Araújo e fazer justiça a esse visionário da produção nacional.

José Pereira de Araújo nasceu em 17 de março de 1930, no distrito de Alagoas, no vizinho município de Patos de Minas. Filho de casal de pobres e honrados agricultores, o Sr. Joaquim Pereira Cardoso e Maria Pereira de Araújo, o menino José preencheu sua infância, desde os 5 anos de idade, com o trabalho no sítio da família, o que determinou o início tardio de sua escolarização, aos 15 anos de idade.

Mas o jovem José Araújo não perdeu tempo. Quando foi improvisada uma escola numa fazenda próxima, não hesitou um dia sequer, passando a freqüentar as aulas. Era tamanha sua vontade de aprender que não reclamava da longa jornada de aulas, que começavam às 7 horas e terminavam às 17 horas, só interrompidas por um rápido intervalo de almoço. Decorou o ABC numa só aula, e em três meses aprendeu as operações matemáticas fundamentais. O rápido aprendizado acabou sendo interrompido depois de 90 dias de atividades por uma doença que acometeu o professor, e a escola foi fechada.

Algum tempo depois, outra escola foi aberta no distrito, e lá estava o menino José Araújo, com três dos seus irmãos, aproveitando tudo o que o ensino podia lhe dar. Estudou nesse novo estabelecimento por oito meses, em ritmo frenético, também das 7 às 17 horas. Já nessa época José Araújo revelava a tenacidade que marcaria para sempre seu caráter. Para chegar à primeira escola, percorria diariamente seis quilômetros. Para freqüentar a segunda, mais distante de casa, José Araújo e os irmãos para lá se mudaram, fizeram suas camas com capim, faziam sua própria comida e lavavam suas roupas.

Tanto esforço impressionou o professor João Leite Barbosa, engenheiro agronômo que acabou encaminhando os jovens mais aptos para a Escola Rural de Ribeirão Preto, São Paulo. Lá estava José Araújo entre os 15 alunos escolhidos para partir. E estava ele também entre os três rapazes que conseguiram concluir e diplomar-se no curso técnico agrícola. Era um curso notável, quer pelas pesquisas conduzidas por uma plêiade de mestres de alto nível acadêmico, quer pelo envolvimento que exigia dos alunos nas tarefas teóricas e práticas. A sorte sorriu para o jovem agricultor, e ele sorriu de volta, abraçando feito um tamanduá a oportunidade única de sair da roça e ir estudar numa boa escola profissionalizante.

A distância da família, se fez sofrer o jovem José Araújo e sua família, por outro lado, forjou nele uma admirável determinação, consolidando sua paixão pelas novas técnicas agrícolas, que começavam então a revolucionar a atividade rural no país. Teve José Araújo o privilégio de contar com eméritos professores, como o Dr. José do Carmo Guimarães Marques Ferreira, e Antonio Junqueira Reis, destacados mestres em Agricultura. O diretor da escola à época era o professor Dimer Cornelli Acorsi.

Foram três anos de muitos estudos e pouca diversão. Ao formar-se Técnico Agrícola, em 17 de julho de 1950, José Araújo retornou a terra onde nasceu, o distrito de Alagoas. Ali ele leciona por 8 meses, atendendo às necessidades educacionais da sua comunidade de origem, inclusive da sua própria família, tendo sido professor de seus irmãos mais novos.

Em seguida, com o apoio do então deputado federal Leopoldo Dias Maciel, da UDN, José Araújo é nomeado para uma vaga existente no Serviço Nacional de Pesquisas Agronômicas, incorporado depois pela Embrapa. Essa vaga era na Estação Experimental de Sertãozinho, no município de Patos de Minas. Para José Araújo, então com 21 anos de idade, o ingresso no serviço público federal foi um batismo de fogo, pois coube-lhe, de imediato, duas funções complicadas: a gerência-geral de pessoal, o que significava administrar o trabalho de 86 funcionários. A segunda função foi colocar em prática os conhecimentos adquiridos em melhoramento genético de feijão, trigo, arroz e aveia.

O jovem técnico agrícola desempenhou bem suas funções. Nos seis anos em que permaneceu na Estação Experimental, prestou significativas contribuições. A primeira a se destacar foi no desenvolvimento de uma variedade de feijão, o "superroxão". Durante três anos e meio, José Araújo desenvolveu esse experimento, fazendo da primeira à sétima multiplicação genética do novo tipo de feijão. Após a saída do Sr. Araújo, a pesquisa prosseguiu, sendo desenvolvido pelo Dr.Guazelli, agrônomo que continuou o trabalho por cinco anos até que formasse a variedade, posteriormente modificada para a criação de outras ainda mais desenvolvidas. Desta forma, o Sr. José Araújo prestou sua contribuição no desenvolvimento genético de variedades mais adaptadas, mais produtivas e resistente de feijão no Brasil.

O interesse pelos melhoramentos genéticos permitiu que o Sr. José se tornasse conhecido de responsáveis por alguns importantes centros de pesquisa em agricultura do país. Acabou sendo convidado a fazer um curso no Instituto Agronômico do Sul, em Pelotas e em Gravataí, no Rio Grande do Sul, ligados à Escola de Agronomia de Pelotas, coordenado pelo Professor Odi Rodrigues. O Sr. José Araújo concluiu então o curso de cruzamentos de trigo, feijão e arroz .

Outro legado deixado pelo Sr. José Araújo à Estação Experimental de Sertãozinho, em Patos de Minas, que cabe aqui destacar, foi a idealização e implementação de um curso que alfabetizou quase todos os funcionários de nível básico da Estação Experimental. Ele deu a sugestão, arregimentou quatro outros funcionários colegas para atuar como professores e organizou o curso, que durou mais de seis meses.

Depois de seis anos nessa Estação Experimental de Patos de Minas, José Araújo se viu diante de uma encruzilhada. A primeira decisão a tomar seria aceitar a bolsa de estudos que lhe foi oferecida para fazer o Curso de Agronomia no Rio de Janeiro. O Sr. José recusou esse que seria seu caminho natural, porque não queria ficar distante do pai, muito doente na época. Optou por ficar mais perto, sendo então transferido para Patrocínio, aonde chegou em 23 de setembro de 1956.

Quando chegou à nossa cidade, o Sr. José Araújo já casado havia dois anos com a Sra. Maria Marques Araújo, a quem conhecera em Patos de Minas. Aliás, é impossível falar da história do Sr. José Araújo sem mencionar sua esposa e fiel companheira há 46 anos, com quem teve sete filhos. Dona Maria, conhecida e respeitada pelas suas múltiplas virtudes, propiciou ao Sr. José Araújo o apoio de todas as horas, o suporte fundamental, sem os quais ele certamente não seria o que é, não poderia estar prestando a relevante contribuição que tem prestado à nossa comunidade.

Naqueles esperançosos e progressistas anos 50, Juscelino Kubitchek ampliava, tanto quanto possível, nossas fronteiras agrícolas, induzindo à ocupação dos vastos espaços vazios e pouco produtivos de boa parte de Minas Gerais e da região central do país. Era tempo de desbravar, de tomar iniciativas, de ter coragem para abrir novos caminhos.

Foi nesse contexto histórico nacional que o Sr. José Araújo foi designado a ocupar uma vaga no Serviço de Fomento Agrícola do Ministerio da Agricultura, indo trabalhar junto à 19ª Circunscrição Agropecuária, que funcionava junto ao Posto Agropecuário de Patrocínio, dirigido na época pelo Sr. Adão Borges. O Posto Agropecuário era conhecido como Chácara do Estado. É onde hoje funciona a Faculdade de Patrocínio. Lá foi morar o Sr. José Araújo e sua família, numa modesta residência funcional.

A função do Sr. José era dar assistência técnica aos produtores rurais da região. Entre outras atividades, a Circunscrição emprestava equipamentos agrícolas. Nessa ocasião, o Ministério da Agricultura cria em Minas Gerais 12 patrulhas motomecanizadas com máquinas agrícolas para a execução de serviços nas lavouras. Patrocínio ganha inicialmente uma subpatrulha. Mas o Sr. José Araújo, num trabalho paciente, vai reunindo equipamentos ociosos em circunscrições vizinhas, até formar desta maneira uma boa patrulha de máquinas agrícolas.

O então ministro da Agricultura Alisson Paulinelli, mineiro, teve conhecimento do potencial da Circunscrição de Patrocínio e, confiante no espírito pioneiro e na capacidade de iniciativa de José Araújo, o Ministério da Agricultura colocou sob sua responsabilidade a patrulha motomecanizada, reforçando-a com algumas máquinas agrícolas, inclusive um trator importado da Iuguslávia ainda pelo governo João Goulart, e que enferrujava no porto do Rio de Janeiro desde o movimento militar de 1964. Dispondo desse equipamento, mesmo sendo obsoleto, e contando com poucos recursos, José Araújo trabalhou duro.

Ele exercia a verdadeira e cada vez mais rara extensão rural, ou seja, estimulava e propiciava o acesso dos produtores rurais da região a novos métodos de cultivo, novas técnicas e novas culturas; planejava e supervisionava a execução de serviços de desmatamento e construção de represas – algumas grandes, verdadeiras obras de engenharia –, fazia demarcações de áreas; traçava curvas de nível; fazia análises de amostras de terra para determinar as necessidades de adubação e correção da acidez do solo; orientava o plantio, os cultivos e a colheita dentro das novas tecnologias; orientava os produtores sobre os procedimentos necessários à obtenção de financiamento.

Para realizar um trabalho nesse nível de versatilidade, José Araújo se preparou, em muitos casos por conta própria. Numa ocasião foi a
São Paulo, onde fez um curso de análise de terra e adquiriu um laboratório portátil para essa atividade. Realizou um total de 800 análises de terras, sendo que cada uma consumia cerca de 3 horas de atividade. Era um trabalho realizado durante à noite, aos domingos e feriados, que José Araújo oferecia gratuitamente aos produtores da região, muitas vezes gastando do próprio bolso para comprar os reagentes necessários. José Araújo também comprou um teodolito de boa qualidade, e com ele fazia as medidas de nível para demarcação, curvas de nível e represas.

Um dos trabalhos pioneiros de José Araújo em Patrocínio foi a introdução dos primeiros plantios de soja no município e, seguramente, entre os primeiros na região do cerrado. Ele não só encorajou e supervisionou as experiências. Para provar o quanto acreditava nas possibilidades da soja no cerrado, o dinâmico técnico agrícola associou-se com o Sr. Gentil Nascimento e o Sr. Pedro de Paula Nunes, respectivamente presidente e diretor da Cooperativa Agropecuária de Patrocínio e, em 1968, os três entusiastas da modernidade cultivaram nossa primeira lavoura de soja, numa área de 100 hectares na fazenda do Sr. Pedro de Paula Nunes.

A característica empreendedora, o espírito pioneiro e a forte determinação marcaram definitivamente a trajetória profissional de José Araújo, mesmo quando ele exerceu a função de servidor público. Ele nunca teve o perfil de uma pessoa acomodada. Nos anos 60, o salário do servidor público já era pequeno, enquanto a família do Sr. José crescia. Para equilibrar o orçamento ele então alugou um pequeno terreno situado onde hoje é a propriedade do Sr. José Martin, na saída da cidade, e ali produzia mudas de árvores frutíferas, ornamentais e florestais, que comercializava em Patrocínio e nas cidades vizinhas. Fazia isso sem prejuízo de suas obrigações com o Ministério da Agricultura.

O Sr. José Araújo fazia ele próprio os enxertos das mudas, muitas vezes criando exóticas combinações de espécies numa mesma árvores, como, por exemplo, pé de mixirica com laranja. Ele chegou a fazer enxertos para uma árvore com quatro variedades: duas de laranja, uma de mixirica e outra de limão.

Graças a muito trabalho e a uma vida austera, conseguiu afinal comprar uma pequena propriedade rural na região de Lagoa Seca, junto com seu sócio, Xisto Alves de Souza, então coletor fiscal do Estado. Com apenas 12 hectares, a "Granja União", como foi denominada, chegou a abrigar 60 cabeças de gado, além de 5 hectares de elucalipto consorciado com abacaxi. Após o falecimento do sócio, o Sr. José continuou sozinho a manter essa pequena unidade modelo de produção, não em conforto ou recursos dispendiosos, mas modelar no uso racional dos recursos naturais e na aplicação de conhecimentos técnico-científicos atuais. Lá o Sr. José plantou um pomar com 33 variedades de frutas cítricas, totalizando 400 pés. Este pomar encantava todos os que o conheciam e inspirou muitos fazendeiros a formar seus próprios pomares.

Mais tarde o Sr. José Araújo vendeu essa propriedade e adquiriu a que possui até hoje, próxima à sede campestre do Enxó Clube, na saída para Belo Horizonte.

Com o advento da cultura do café no cerrado em Patrocínio, em grande escala a partir de 1974 e 1975, José Araújo foi um dos primeiros cidadãos locais a acreditar nas possibilidades da cultura dentro dos novos parâmetros técnicos, tendo apoiado decididamente a introdução dos primeiros cafezais na nossa terra pelos agricultores paranaenses e paulistas que aqui chegaram e que hoje são parte integrante da sociedade de nosso município. Mais adiante, já na iniciativa privada, José Araújo forneceu serviços e produtos necessários ao plantio do café na região para esses cafeicultores.

Face a essas realizações, é correto afirmar que José Araújo foi o principal introdutor de modernas tecnologias na região de Patrocínio, contribuindo para a exploração racional das terras do cerrado. Isso ocorreu nos anos 60 e 70 – na época do chamado milagre econômico.

Cabe aqui reconhecer e lembrar que esse trabalho não foi feito sozinho. José Araújo contou com amigos patrocineneses que acreditaram em suas propostas, compartilharam suas esperanças, juntaram-se ao seu espírito pioneiro e foram responsáveis pelos primeiros plantios mecanizados com as mordernas técnicas de cultivo no cerrado. Além do saudoso Sr. Gentil Nascimento e do Sr. Pedro Paula Nunes, já referidos, o Sr. Albino Gonçalves Nunes, plantou 200 hecatares de arroz e feijão ainda no final dos anos 60, tendo sido um dos primeiros a cultivar cereais em grande escala. Juntamente com o Sr. Pedro Paula Nunes, o paranaense Antonio Molina iniciou uma plantação de batatas, pioneira dessa espécie na região do cerrado.

Nessa ocasião, o Sr. José e esses produtores pioneiros chegaram a ser classificados de irresponsáveis e loucos. Mas, com o sucesso dos plantios, sucederam-se outros, muitos outros. José Moisés e irmãos foram mais além, desbravando a fazenda da família em Macaúbas – onde estão algumas das terras consideradas mais fracas do município. Os Moisés plantaram ali com sucesso 200 hecatares de grãos. O Sr. Arlindo Guimarães, Rufino Caixeta Borges, entre outros, foram também inovaram, acreditando nas técnicas que possibilitaram a modernização da agricultura.

Depois de 24 anos no serviço público, em que acumulou vasta experiência, legou expressiva contribuição, mas obteve pouca compensação material, José Araújo pede demissão do cargo em 1972, convidado a formar uma sociedade com os jovens empresários Aloísio Machado Arantes, Wadhy Michel Neto, o "Zizinho" e Michel Wadhy, o "Xará". Juntos, criaram então, em 1972, a Agropastoril Santos Reis e a Calcário Ucal. A primeira empresa, que atuou até 1978, prestou serviços de mecanização agrícola, inclusive os mais complexos para a região na época, vendeu fertilizantes e outros produtos para a agricultura, tendo prestado uma contribuição significativa para a disseminação da agricultura mecanizada em toda a região que teve Patrocínio como principal pólo irradiador. O trabalhado de desbravamento realizado pela Santos Reis, sempre com sob a coordenação técnica do Sr. José Araújo, se estendeu pelos municípios vizinhos, indo até Paracatu e Unaí.

Nessa ocasião, a empresa adquiriu e formou de modo primoroso uma fazenda entre as cidades de Guarda-Mór e Paracatu. Até hoje essa fazenda, hoje pertencente a empresários paulistas mas mantendo o nome Santos Reis, é sinônimo de moderna agricultura na região do cerrado. Lá o Sr. José Araújo empregou muito de sua dedicação e conhecimento, criando a infraestrutura e plantando em mais de 1.000 hecatares arroz, soja, feijão e milho.

A Agropastoril Santos Reis acabou tendo de enceerrar suas atividades em 1978, prejudicada na esteira de irregularidades ocorridas com recursos do Polocentro – Polo de Desenvolvimento da Região Centroeste, criado pelo governo federal. Assim como outras empresas do setor agrícola, a Santos Reis foi investigada, sendo comprovado que não tinha responsabilidade sobre delitos, mas acabou assumindo sozinha pesadas multas por sonegação em face das facilidades que propiciou aos produtores da região. A Ucal, por sua vez, funcionou até 1975, tendo produzido milhões de toneladas do produto, contribuindo também para a correção da acidez de milhares de hectares de solo na região.

Todo esse trabalho contribuiu significativamente para o desenvolvimento da nossa região, aumentando a produtividade da agricultura, gerando novos empregos e aumentando a renda da nossa região, além da intensa modernização tecnológica e a ampliação da influência de Patrocínio no contexto regional e estadual. Entretanto, a crise que adveio no país após o milagre econômico, fez o sonho de desenvolvimento contínuo esmorecer. Desde o começo dos anos 80, a produção agrícola tem sido mais difícil, diante da elevação dos custos de insumos e de fnanciamento, o aumento da concorrência internacional e a redução dos preços dos produtos agrícolas. Os incentivos ao setor primário foram praticamente abolidos e as políticas públicas relegaram o setor rural a um lugar secundário na nossa economia.

Mas, assim como Patrocínio não desistiu, José Araújo também não desistiu da atividade agrícola. Só que foi compelido a reduzir sua área de produção a 150 mil pés de café aos 70 mil pés de que mantém hoje, além de produzir um pouco de leite na sua modesta mas organizada propriedade de 55has. cidade. Desta forma, o Sr. José Araújo, que começou a trabalhar na agricultura aos cinco anos de idade, continua, como os demais produtores rurais de nosso município, resistindo altaneiro às muitas dificuldades e à pouca rentabilidade do café, nosso principal produto.

Embora discreto, o Sr. José Araújo sempre foi um homem comunicativo e dinâmico. É o que explica ele ter se adaptado tão facilmente ao ramo de fabricante de guaraná. Logo depois de encerrar suas atividades na Santos Reis, o Sr. José passou a comandar o Guaraná Supimpa, uma bebida que fez a alegria da garotada de Patrocínio nos anos 80 e era um dos preferidos na região. Mas a chegada da globalização, com suas empresas gigantes e vorazes no mercado de refrigerantes, dotadas de formidável estrutura de distribuição, inviabilizou as pequenas e românticas fábricas de refrigerantes, como o nosso Supimpa. Diante do inevitável, o Sr. José não desanimou nem deu murro em ponta de faca: vendeu o maquinário da fábrica, mas manteve o pitoresco nome, agora batizando uma pequena distribuidora de bebidas e de outros produtos para os bares e mercearias da cidade. Assim o Sr. José preservou uma fatia nesse mercado, conquistada e mantida com a credibilidade e a honestidade que sempre o caraterizaram.

Certamente o Sr. José Araújo não teria podido realizar tudo o que tem realizado na sua vida profícua não fosse o apoio inestimável da Dona Maria Marques Araújo, sua fiel esposa desde setembro de 1954. Em todos os momentos difíceis, lá estava Dona Maria cooperando, tanto como a exímia dona de casa que é, quanto como notável costureira e quituteira, que ainda hoje faz para vender uma das mais deliciosas de broas de queijo. Dona Maria é guardiã de muitas das melhores tradições da culinária mineira, capaz de executar algumas das melhores receitas da nossa cozinha. Dona Maria também tem emprestado sua imensa capacidade de trabalho e sua generosidade a obras da Igreja Católica em favor dos pobres de nossa cidade. Com Dona Maria o Sr. José Araújo teve 7 filhos: Marina, Márcio, Marília, Marilda, Murilo, Maurício e Marcelino, aos quais proporcionou mais que acesso aos estudos formais, os fundamentos de uma boa formação ética e moral.

Cumpre lembrar também da participação ativa do Sr. José Araújo nas atividades sociais em Patrocínio. Na área da filantropia, ele teve participação destacada na Sociedade São Vicente de Paula, na qual atuou de 1956 a 1990, iniciando-a em Patos de Minas e prosseguindo em Patrocínio, tendo sido dinâmico presidente, secretário e tesoureiro de conferências dessa sociedade. Também contribuiu para o Asilo São Vicente de Paula, tendo sido seu tesoureiro. Emprestou seus conhecimentos técnicos ao Colégio Nossa Senhora de Patrocínio, ao Patronato Coronel João Cândido, à Santa Casa de Misericórdia e ao Lar da Criança.

José Araújo foi um dos sócios fundadores da Cooperativa Agropecuária de Patrocínio, e nela atuou como ativo conselheiro e assistente técnico, sempre como voluntário, sem receber nenhuma retribuição material. O mesmo aconteceu no Sindicato Rural, do qual foi um membro atuante por muitos anos.

Participou da fundação da Associação de Cafeicultores de Patrocinio, a ACARPA, responsável pela articulação dos interesses da produção do café no município, impulsionando o desenvolvimento da região e influenciando positivamente a cafeitultura do país. José Araújo ainda hoje é membro do Conselho Administrativo da ACARPA.

No Colégio Nossa Senhora do Patrocínio também contribuiu exercendo a função de vice-presidente da Associação de Pais e Mestres. Participou de fundação do Clube Catiguá, sendo membro do seu conselho algumas vezes. Mais recentemente, tem colaborado no sentido da instalação em Patrocínio da União do Vegetal, entidade com valiosos serviços prestados à recuperação e ressocialização de dependentes químicos.

José Araújo sempre participou ativamente não só formalmente nas instituições associativas, filantrópicas, sociais e educativas em que ocupou funções como voluntário. Ele sempre atuou também estimulando a iniciativa de outros, oferecendo a opinião ponderada e bem-informada, sempre perseguindo a isenção, o bom-senso, o bem comum e o desenvolvimento de Patrocínio em todos os campos. Quem tem tido o privilégio de privar de sua amizade sabe que suas ações não são motivadas por interesses mesquinhos. Sabe que ele não persegue o reconhecimento fácil ou a obtenção de vantagens pessoais. Pelo contrário, o Sr. José Araújo tem cultivado a ética, os valores cristãos e democráticos nas suas relações pessoais e sociais. Não cultiva a vaidade nem vícios, não prejudica as pessoas com quem se relaciona, nem desrespeita empregados ou pessoas desfavorecidas socialmente.


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