Na história da Humanidade, sabe-se que as línguas se formam pela influência da língua de um povo sobre outro e da influência do povo dominado sobre a língua do dominador. Assim se deu a formação das línguas na península Ibérica, hoje região de Portugal e Espanha. A invasão pelo império romano se deu no século III a.C. O latim, língua do império romano se amalgamou com as línguas ali existentes e resultaram as línguas hoje conhecidas: Português, Espanhol, Catalão e o dialeto Galego-Português. No Brasil, no século XVIII, o governo português proibiu a Língua Geral, uma mistura do Português com as línguas indígenas, usada em toda a costa brasileira. Proibiu porque tinha consciência de que a Língua é fator de união de um povo. Caso a Língua Geral se propagasse inevitavelmente haveria uma divisão do território brasileiro.

Todas as línguas sofrem influências de outas línguas e de outras culturas com as quais convivem. No Brasil, houve a influência das línguas indígenas e africanas que se deu basicamente no âmbito do vocabulário. Por fatores culturais, houve também a influência, da línguas europeias, do Italiano e principalmente do Francês. Falava-se o francês, na corte, na época da monarquia. Esta influência francesa perdurou até a década de sessenta do século passado. Do Francês, originaram muitas palavras em Português. O Francês era a língua estrangeira ensinada nas escolas brasileiras. A partir dos anos sessenta, foi substituído pelo Inglês nas escolas.

Na década de cinquenta, com o slogan “A América para os Americanos (do Norte)”, houve vários programas dos Estados Unidos, por interesse político e econômico, para atrair e colocar sob sua influência os países sul-americanos, neutralizando, por exemplo, a influência da Inglaterra sobre a Argentina, da França sobre o Brasil. Com a revolução de sessenta e quatro, o Brasil se alinhou em definitivo aos Estados |Unidos.

Hoje vivemos o que chamamos de aculturação. Respiramos a cultura norte-americana no comércio, na política, no cinema, na música, no jornalismo. Desta forma, a influência da língua inglesa é total. Não se tem mais hotéis com nomes em Português. No marketing, nem se fala. Nomes de lojas, salão de beleza, marca de roupa, linguagem dos Bancos, tudo vai se transformando em Inglês. Nos aeroportos, nem se dão ao trabalho de colocar em Português as informações escritas. Nem são traduzidas para o Português. Quantas pessoas que chegam a um aeroporto e sabem o que significa arrival, departture, check inn? Na linguagem dos Bancos, quantas pessoas sabem o que significa “open banking? Como poucas pessoas falam inglês, poucos entendem o que está escrito. A mensagem ou informação passa despercebida.

As palavras exprimem sentimentos, sensações, desejos. Quando não se sabe o significado, perde-se o efeito, ou não dizem nada para quem as lê. Nos restaurantes, criaram-se para as crianças, o espaço KID. Quase não se vêem crianças neste espaço, porque a palavra não diz nada para os pais, quando em bom Português seria ESPAÇO INFANTIL Imagine encontrar um amigo que não se via há trinta anos e dizer: meus kids cresceram. Não diz nada. Se disser meus filhos, meus meninos cresceram, perduram as emoções, passam pela cabeça do ouvinte todas as fases de crescimento dos “meninos”.

Em Patrocínio, tornou-se comum a palavra “Coffee” em vez de café. A palavra CAFÉ é uma palavra de duas sílabas fortes, de pronuncia clara, bonita e nos remete ao hábito mais comum dos brasileiros. Convidar uma pessoa para tomar um café, um cafezinho é sinal de um momento de descontração, de companheirismo. Agora você convida um amigo para tomar um coffee, ou um “coffinho”. Possivelmente ele vai dispensar o seu cafezinho por que a palavra coffee não vai lembra-lo de que vai ter um bom momento com você.

Não há dúvida de que o Inglês é hoje uma língua universal. Em muitos países da Europa é comum todos falarem inglês além da língua pátria. Garçons, bilheteiros de trens, falam correntemente o Inglês. Mas não se vêem por todo lado, escritos em Inglês. Valorizam sua cultura local.

Não há dúvida de que no mundo cibernético de hoje, o intercâmbio linguístico se acentuará muito mais. No entanto, é preciso lembrar que a Língua é fator de união de um povo. Portugal percebeu isto quanto proibiu a Língua Geral. Desprezar a própria língua é o primeiro passo e o fator essencial para desagregação de um povo, de uma nação. Os galegos, os catalães, os bascos sobrevivem como povos dentro da Espanha porque ainda conservam sua língua, claro já muito influenciadas pelo língua espanhola.

Vale a pena nos voltarmos mais para o nosso Português, uma língua riquíssima em seu vocabulário, em sua gramática, em sua literatura e falada por diversos povos.