De 31 de março de 1964 a 1985 a ditadura militar suprimiu as liberdades civis, impôs censura aos meios de comunicação, fechou partidos políticos e a oposição foi perseguida e reprimida violentamente.



Manifestações durante a Ditadura Militar e cavalaria nas ruas
| Foto: reprodução Brasil Nunca Mais

Da Redação da Rede Hoje

A ditadura militar no Brasil, que teve início em 1964, foi um período sombrio e conturbado na história do país. O golpe militar de 31 de março de 1964 derrubou o governo democraticamente eleito do presidente João Goulart, alegando a necessidade de proteger o país do que foi chamado de ameaça comunista.

As fake news não são um fenômeno novo, tendo desempenhado um papel significativo ao longo da história, como evidenciado por um dos capítulos mais obscuros do Brasil. Em 30 de setembro de 1937, o general Goés Monteiro, então chefe do Estado-Maior do exército brasileiro, propagou através do programa de rádio Hora do Brasil o fictício Plano Cohen, um suposto esquema comunista que visava remover Getúlio Vargas do poder. Essa fabricação causou temor na população, levando à instauração da ditadura do Estado Novo em 10 de novembro de 1937, consolidando o regime de Vargas e iniciando a Era Vargas, que perdurou até 1945.

Os eventos subsequentes revelaram uma teia de enganos e manipulação. Em 1945, o próprio general Goés Monteiro admitiu ter criado o Plano Cohen para justificar o golpe de Getúlio Vargas, enquanto o capitão Olímpio Mourão Filho, chefe do Serviço Secreto da Ação Integralista Brasileira (AIB), reconheceu ter elaborado o documento a pedido de Plínio Salgado, líder da AIB, para simulações internas que escaparam ao controle. Essa revelação lançou luz sobre a violência e a manipulação política durante a subsequente Ditadura Militar, documentada pelos relatórios que descrevem a tortura de prisioneiros políticos e o desaparecimento de militantes durante os governos dos generais-presidentes Emílio Médici e Ernesto Geisel, com o governo Médici sendo particularmente notório por sua brutalidade.

Ao longo dos 21 anos que se seguiram, o Brasil foi governado por uma sucessão de generais, com o país sob controle militar direto. Durante esse período, as liberdades civis foram suprimidas, a censura foi imposta aos meios de comunicação, partidos políticos foram fechados e a oposição foi perseguida e reprimida violentamente.


A tortura, os desaparecimentos forçados e os assassinatos políticos se tornaram práticas comuns. Muitos opositores do regime foram presos arbitrariamente, torturados e mortos pelos órgãos de segurança do Estado. Além disso, houve uma intensa repressão cultural e intelectual, com artistas, escritores, jornalistas e professores sendo perseguidos e exilados.

Durante esse período, o regime militar implementou políticas econômicas que beneficiaram os interesses das elites empresariais, enquanto a maioria da população enfrentava condições precárias de vida, desigualdade social e repressão política.

A ditadura militar só chegou ao fim em 1985, com a eleição indireta de Tancredo Neves para a presidência, seguida pela posse de José Sarney após a morte de Neves. O processo de redemocratização foi gradual e enfrentou resistência de setores conservadores das Forças Armadas. No entanto, marcou o retorno do Brasil à democracia e o início de um período de reconstrução institucional e reparação das violações dos direitos humanos cometidas durante os anos de regime autoritário.

O livro "Brasil: Nunca Mais": é um marco na história brasileira; a mais abrangente pesquisa conduzida pela sociedade civil sobre a tortura política durante o regime militar.

Iniciado pelo Conselho Mundial de Igrejas e pela Arquidiocese de São Paulo, o projeto operou clandestinamente por cinco anos, examinando meticulosamente cerca de 850 mil páginas de processos do Superior Tribunal Militar.



O Brasil Nunca Mais (BNM) representa um marco na história brasileira, sendo a mais abrangente pesquisa conduzida pela sociedade civil sobre a tortura política durante o regime militar. Iniciado pelo Conselho Mundial de Igrejas e pela Arquidiocese de São Paulo, o projeto operou clandestinamente por cinco anos, examinando meticulosamente cerca de 850 mil páginas de processos do Superior Tribunal Militar. O resultado desse esforço foi a publicação de um relatório e de um livro em 1985, revelando a extensão das violações dos direitos humanos perpetradas pela repressão política da ditadura militar.

O livro "Brasil: Nunca Mais" tornou-se um fenômeno editorial sem precedentes. Lançado pela Editora Vozes, permaneceu entre os dez mais vendidos por 91 semanas consecutivas, alcançando o status de livro de não-ficção brasileiro mais vendido de todos os tempos até então. Esta obra monumental, concebida sob a liderança de Dom Paulo Evaristo Arns e do Reverendo Jaime Wright, trouxe pela primeira vez o tema dos direitos humanos para o centro das atenções da população brasileira.

O advento do BNM Digit@l representou uma transição histórica, permitindo o acesso virtual ao acervo do Brasil: Nunca Mais, que anteriormente estava confinado a arquivos físicos e microfilmes acessíveis apenas a pesquisadores que podiam visitar a Universidade de Campinas, Brasília ou instituições no exterior. Este recurso, possibilitado por uma colaboração entre instituições públicas e organizações não governamentais comprometidas com os direitos humanos, oferece a capacidade de pesquisa indexada, facilitando a busca por informações específicas.

A plataforma BNM Digit@l oferece duas modalidades de pesquisa: o acesso direto ao acervo, que inclui os processos do STM, o relatório e os arquivos do Conselho Mundial de Igrejas e da Comissão Justiça e Paz, todos inteiramente indexados, ou a utilização dos sumários elaborados pelo Ministério Público Federal. Estes sumários compilam e categorizam as informações relevantes de cada um dos 710 processos, fornecendo links para as páginas mais pertinentes, tornando a busca por informações mais eficiente e acessível.

Assim, o Brasil Nunca Mais continua a ser uma fonte crucial de conhecimento sobre um período sombrio da história brasileira, além de representar um testemunho do compromisso contínuo com a promoção dos direitos humanos e a preservação da memória histórica.


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