O encontro foi classificado como histórico já que contou com a participação dos diversos atores do setor cafeeiro



O evento aconteceu nesta terça-feira (05/07) no auditório Senador Jonas Pinheiro no Mapa. Fotos: Antônio Araújo (Ascom Mapa) e Alexandre Costa (Ascom CNC)

                                       

Reportagem Alexandre Luiz Costa | Brasília | DF


Histórico. Assim pode ser classificado o 1º Ciclo de Diálogo da Produção Sustentável – restrição de pesticidas, promovido pelo Conselho Nacional do Café (CNC) em parceria com o Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) com o apoio do Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Marcos Montes. O evento aconteceu nesta terça-feira (05/07) no auditório Senador Jonas Pinheiro no Mapa.

A realização do seminário teve por finalidade discutir a restrição de moléculas utilizadas em pesticidas por parte da Rainforest Alliance e da Plataforma Global do Café, proibições impostas para o ano de 2023 e 2030, respectivamente. O encontro foi classificado como histórico já que contou com a participação dos diversos atores do setor cafeeiro, entre eles: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA), Conselho dos Exportadores de Cafés do Brasil (CECAFÉ), Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), indústrias de café torrado, moído e solúvel, cooperativas de produção, Plataforma Global do Café, além das empresas Syngenta e Bayer.

Na cerimônia de abertura estiveram na mesa nobre Guilherme Sória Bastos Filho, Secretário de Política Agrícola (SPA/MAPA) – representando o Ministro Marcos Montes que justificou a ausência em função de reunião interministerial com o Presidente da República, Jair Bolsonaro – Glauco Bertoldo, Diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (DIPOV/SDA/MAPA), Márcio Lopes de Freitas, Presidente da OCB, Sílvio Farnese, Diretor do Departamento de Comercialização e Abastecimento da Secretaria de Política Agrícola (DCA/SPA/MAPA) e Silas Brasileiro, Presidente Executivo do CNC. O evento contou também com as presenças de Carlos Goulart, Diretor do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas (DSV/SDA/MAPA), Rogério Boueri, chefe da Assessoria Especial de Estudos Econômicos do Ministério da Economia – membro do Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC) – e de Hugo Caruso, Coordenador Geral da Qualidade Vegetal do Mapa.

O Presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas, destacou no seu discurso de abertura – extremamente voltado para o evento – a oportunidade que o ciclo criou para se construir o debate. “Acontecer e criar um ambiente de diálogo é fundamental. A gente constrói as coisas pelo diálogo. Nós vamos ter que trabalhar muito nisso, sem dúvidas, teremos que tratar com muita transparência e lealdade entre todos os parceiros. Jogando um jogo sem paixão, mas um jogo de visão estratégica. Temos que dar muita força para nossos órgãos de pesquisa, a bio agronomia – como diz o nosso grande Alisson Paulinelli – não é modismo, é tendência. O desenvolvimento de novas moléculas, menos nocivas, tem que passar por um processo de equilíbrio”, analisou o presidente da OCB.

O Secretário de Política Agrícola do Mapa, Guilherme Bastos, pontuou que o setor não se furta de suas responsabilidades e que o diálogo é fundamental no processo de substituição de moléculas. “A gente vê um tema tão delicado e que só pode ser construído através do diálogo. É um setor que está à disposição para encontrar soluções que sejam viáveis economicamente e sustentáveis. É uma questão de viabilidade não só para o consumidor, mas para o produtor também. Nesse diálogo, se trazem questões importantes sobre produtos que estão para serem banidos e que precisam ter alternativas. O Ministério (da Agricultura) externa toda a preocupação em cima do encaminhamento da solução desta questão em relação aos pesticidas. Deixo aqui nosso profundo reconhecimento pelo esforço que o presidente Silas (CNC) trouxe à mesa nesse diálogo para que se encontrem soluções efetivas para essa questão tão importante”, ressaltou. 

Palestras técnicas

O Diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Mapa, Glauco Bertoldo, iniciou o ciclo de palestras técnicas. A seguir um breve resumo do que cada palestrante abordou durante o evento.  

Glauco Bertoldo, Diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (DIPOV/SDA/MAPA)

Palestra: Monitoramento e avaliações de produtos registrados

“Esse tipo de diálogo é muito importante para gente trazer essa clareza e colocar as cartas na mesa, possa prever os problemas e atuar preventivamente. Serve para que possamos não só ter nenhum risco para nossa cafeicultura, mas também para crescer ainda mais, com a parcela que a SDA pode contribuir, para esse setor que já é muito pujante. É evidente que buscamos uma produção orgânica, é evidente que buscamos a ausência de qualquer tipo de pesticida, mas numa agricultura de escala, tropical como a que nós temos, fazemos ainda uso desses produtos, mas com toda a segurança e seriedade”.  

Glauco Bertoldo apresentou a importância do Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes em produtos de origem vegetal – PNCRC/Vegetal. “É executado pelo Mapa desde 2008. O PNCRC/Vegetal é constituído pelo conjunto das ações (Fiscalizatória, Exploratória, de Investigação e de Avaliação) relacionadas ao controle oficial de resíduos e contaminantes em produtos de origem vegetal importados, exportados e destinados ao mercado nacional.  O DIPOV coordenou um monitoramento em amostras de café para exportação, a fim de verificar a ocorrência de detecção da presença de glifosato. Foram analisadas 55 amostras em 2020 e apenas 2 apresentaram resultados com valores quantificados acima do LMR permitido na UE. Assim, diante dos cenários aqui apresentados, percebe-se uma necessidade de o setor buscar alternativas para o uso do Glifosato em café para exportação, a fim de não comprometer o café brasileiro no mercado internacional, principalmente para o mercado da União Europeia”.

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Peter Rembischevski, Especialista em Regulação e Vigilância Sanitária da Anvisa

Palestra: Análise de resíduos e risco dietético durante o processo de registro de pesticidas

O representante da Agência Nacional de Vigilância Sanitária apresentou as especificidades do trabalho da Anvisa com relação aos produtos utilizados no café. Fez uma abordagem importante sobre a diferença do perigo versus risco.

“O perigo está relacionado ao potencial de causar algum dano à saúde. Já o risco está ligado à probabilidade de um perigo causar um dano à saúde. Não há como falar em risco sem se falar de exposição: o quanto estou exposto a esse perigo. O risco depende não só do perigo, mas da exposição. Ele é identificado em quatro etapas:

  1. Identificação do perigo;

  2. Avaliação da dose-resposta (IDA, DRfA, AOEL);

  3. Avaliação da exposição;

  4. Característica do risco: a exposição é segura?

Existe assim um confronto entre a exposição com os parâmetros de referência toxicológicos para se dizer é aceitável ou não, do ponto de vista técnico. Quantidade máxima de resíduo de agrotóxico ou afim oficialmente aceita no alimento, em decorrência da aplicação adequada numa fase específica, desde sua produção até o consumo”.

Explicou ainda os princípios da detecção e das análises do Limite Máximo de Resíduo (LMR).

“Extrapolar a LMR por si só, a priori, não indica nada em relação à saúde. É preciso deixar isso bem claro. Os valores de LMR estimados a partir dos estudos supervisionados de campo são seguros ao consumidor? O LMR reflete o nível mais baixo necessário de agrotóxico utilizado, garantindo o uso eficiente e levando ao menor nível de exposição, protegendo os consumidores; é a concentração mais alta esperada de um agrotóxico resultante da aplicação do produto de acordo com a BPA autorizada; representa a concentração do resíduo de agrotóxico sem efeito deletério à saúde; não é a fronteira entre a concentração de resíduos toxicologicamente aceitável e a toxicologicamente não aceitável”.

Peter disse também que há muita desinformação ao público sobre o tema em razão da exploração da mídia. “Um dos exemplos muito midiático: o Brasil foi citado no caso Glifosato, na questão do café, o que acontece na soja e em outros alimentos. A União Europeia está querendo baixar limites para a realidade deles, não para a nossa realidade. A Europa quer que o mundo seja igual a Europa. O limite máximo permitido de Glifosato no Brasil é de 10,00 mg/kg, enquanto na União Europeia é de 0,05 mg/kg. O limite no Brasil é duzentas vezes maior do que a Europa, na soja. Como se a soja fosse muito importante na UE. É mais do que natural que o limite de resíduo no Brasil para soja seja maior do que na UE. Esse limite foi testado e não tem nenhum impacto na saúde humana. Está pegando o exemplo da soja? Vamos pegar o trigo que é muito usado na Europa. Inverteu, sendo os limites inversamente proporcionais ao da soja no Brasil (10,00 mg/kg na Europa, enquanto no Brasil o limite é de 0,05 mg/kg). A mesma pessoa que fala na mídia da soja brasileira, não fala do trigo na União Europeia. Isso não é ciência. A pessoa dizer que está fazendo pela ciência não é verdade. É tudo, menos científico. Científico é mostrar tudo, mostre os exemplos em que acontece ao contrário também. Isso quer dizer que o trigo não é seguro na Europa? Não tem nada a ver. É DPA, é uma questão agronômica, não diz respeito à saúde humana. É só um exemplo de como esse debate é reverberado e atinge as pessoas, o público leigo.  O aumento no número de registro de agrotóxicos não implica no aumento do uso. Pelo contrário, significa que houve uma evolução dos produtos, modernização dos mesmos”.

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Marília de Paula Porto, Coordenadora-Geral de Avaliação e Controle de Substâncias Químicas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Palestra: Procedimentos de avaliação e reavaliação ambiental

A representante do Ibama ressaltou que a reavaliação feita nos produtos não tem como objetivo final analisar os impactos do declínio de polinizadores. Seu objetivo é “rever” as autorizações de uso dos agrotóxicos já registrados no Brasil.

Citou o caso do Imidacloprido. “No café foi proibido. Criou-se um grupo de trabalho, com membros da academia e representantes da indústria. A avaliação e reavaliação não são feitos do dia para a noite. O Tiametoxan está em fase final de avaliação. São 67 estudos. A equipe está se debruçando sobre isso, pois não é uma tomada de decisão do dia para a noite, é um processo longo, com vários aportes da parte científica de estudos das condições brasileiras para se chegar à conclusão da reavaliação”.

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Antônio Fernando Guerra, Chefe-Geral da Embrapa Café

Palestra: Como os pesticidas poderão contribuir para o aumento da produção da cafeicultura brasileira

O chefe da Embrapa Café elogiou a realização do encontro e destacou o papel da pesquisa para o avanço da cafeicultura brasileira.

“Os órgãos que representam a cadeia café, em todas as suas áreas, estão presentes nessa sala. Consequentemente, em conversa se resolve tudo. O que não pode é vir de cima para baixo, tirando a gente da possibilidade de evoluir na nossa cafeicultura que só é forte porque temos o protagonismo dos produtores, alto investimento em pesquisa, subsidiando o setor com conhecimento e tecnologia, além do setor de máquinas, implementos, fertilizantes e controle fitossanitário das plantas. Em um país tropical eu não sei se teríamos o sucesso que temos hoje não fossem os investimentos nessas questões”.

Segundo Guerra, o monitoramento de pragas e doenças permite o planejamento de aplicações de pesticidas para controle das mesmas. “O monitoramento adequado às pragas e doenças permite planejar a aplicação dos pesticidas com a máxima eficiência possível. Não precisa aplicar na lavoura inteira, você vai no foco onde aparece o problema, controla o foco e, consequentemente, muitas vezes não precisa aplicar na área inteira. Então, o monitoramento é a chave de tudo isso”.

Ele citou vários projetos em andamento para o controle de pragas e doenças no cafeeiro. Sobre o banimento de produtos lembrou da retirada do mercado do Endosulfan, sem sucedâneo com mesma eficiência, o que causou aumento de infestação prejudicando produtividade e qualidade, mesmo com cuidados culturais como colheita e varrição.

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Andre Savino, Diretor Geral da Syngenta

Palestra: Plataforma Comercial – Pesquisa, desenvolvimento e registro de novos produtos

Savino destacou que o futuro das soluções de manejo fitossanitário é promissor, mas que definir um período de transição maior é crítico para a sustentabilidade da cafeicultura. Mostrou os cenários atual e o futuro para a cafeicultura. “Cenário atual – O cafeicultor tem acesso a um portfolio que atende todas suas demandas; tem bom manejo de pragas e doenças. Cenário futuro – Chegada de novos grupos químicos (2025+); novos modos de aplicação (Drone); e a promoção de tecnologias que atendam as novas exigências globais”.  

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Natalie Alves, Diretora de Regulamentação da Bayer no Brasil

Palestra: Processo para desenvolvimento de produtos, bem como avaliações realizadas para pedido de registro junto ao governo

Natalie apresentou um alto investimento da indústria para que novas moléculas sejam disponibilizadas ao produtor. “São entre 10 e 14 anos, em média, e investimento de aproximadamente 250 m€, um composto dentre ~500,000 que chega ao agricultor”.

Na sua apresentação destacou:

  • Padrões Secundários & Certificadoras: O uso dos critérios na EU correlacionados com a manutenção e novas solicitações de TI dificultam o comércio de produto agrícolas com outros países;

  • Padrões Secundários/Certificadoras: critérios nem sempre baseados em ciência e transparência – exclusões e uso excepcional;

Natalie criticou o impacto direto ao agricultor brasileiro pela falta de ferramentas e alternativas para controle. Disse acreditar que esse é um debate muitas vezes ideológico e listou as principais saídas para o problema:

  • Ciência e Inovação é essencial para atender as necessidades da Agricultura Brasileira; Capacitação, uso correto e seguro de defensivos é foco para indústria e para o setor; Globalização de issues – Situação Europa não comparável com a demanda de uma agricultura tropical; Barreiras comerciais e padrões secundários devem ser embasados em ciência, transparência para atender as necessidades dos agricultores brasileiros.

Finalizou dizendo: “É um trabalho contínuo que requer esforços da indústria com inovação, autoridades e sociedade”.

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Régis Damásio Salles, Superintendente da Monteccer

Palestra: A experiência prática, como produtor certificado da Rainforest Alliance, principais desafios

Régis Salles apresentou os projetos sustentáveis aplicados na Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado de Monte Carmelo. “O mercado está cada vez mais demandando produtos saudáveis. Não que químico não seja saudável, não estou dizendo isso”, ressaltou dizendo que o Brasil precisa evoluir nos projetos bioorgânicos. “É necessária formação técnico-profissionalizante, uma comunicação simplificada e objetiva das decisões”. Segundo Régis não existe solução fácil, mas alternativas têm de ser buscadas. E deixou uma reflexão: “haverá incentivo pelas práticas diferenciadas?”

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Carlos Brando, Presidente do Conselho Global e Eduardo Sampaio, GCP Brasil e Pesticide Action Group Plataforma Global do Café (GCP)

Palestra: A visão da GCP sobre as restrições

O Presidente Carlos Brando justificou sua ausência dizendo que o dia 05 de julho marca a data da reunião do Conselho da GCP, momento em que a entidade está finalizando seu novo planejamento estratégico, mas enviou um vídeo com a seguinte mensagem: “Um dos principais pontos da nova estratégia é o Código de Referência da Sustentabilidade do Café. Este Código serve de base para os relatórios anuais da GCP sobre compras de cafés sustentáveis, tanto pela indústria quanto pelo varejo. Esses relatórios publicados anualmente são uma forma de incentivar as compras, a demanda por café sustentável, dentro do conceito da GCP de responsabilidade compartilhada da xícara à semente. Eu gosto de falar da xícara à semente e, não o contrário, pois o ideal é que os custos do produtor ser mais sustentável devem ser assumidos por todos ao longo da cadeia produtiva, de maneira proporcional aos valores que são adicionados por cada participante. Os principais sistemas de sustentabilidade no mundo hoje já são equivalentes à versão anterior do Código da GCP. A nova equivalência (2.0) será iniciada ainda este ano. Neste meio tempo segue válida a equivalência 1.0. Hoje são equivalentes ao Código Base da GCP a Rainforest Alliance, o 4C, a Nespresso Triple A, a Starbucks CAFÉ Pratics, e os principais sistemas de sustentabilidade dos traders internacionais e de alguns nacionais também. É oportuno notar que a GCP não é uma certificadora, apesar de ter um código de referência de sustentabilidade do café, não é uma certificadora. Define apenas um padrão de sustentabilidade básico e único para que os diversos sistemas sejam elegíveis para possibilitar que sejam reportadas as compras sustentáveis pela indústria e varejo. Esse código básico de referência facilita também a comunicação da sustentabilidade com o consumidor. O código da GCP tem uma série de itens mínimos a serem observados, que incluem agroquímicos e pesticidas. Como esse é um item polêmico, a GCP Global decidiu criar um grupo de trabalho internacional de pesticidas para avaliar a evolução do assunto de forma constante e permanente”. Brando apresentou Eduardo Sampaio como representante da GCP no evento.

Eduardo Sampaio fez questão de mostrar o trabalho que é desenvolvido pela GCP e do que se trata a plataforma.

“É uma associação multissetorial internacional com mais de 140 membros de todos os segmentos da cadeia produtiva do café. Tem atuação em 9 países: Brasil, Colômbia, Vietnã, Indonésia, Tanzânia, Uganda, Quênia, Honduras & Peru”.

Na sua apresentação mostrou caminhos que, para a GCP, são fundamentais para a resolução do problema.

“Ter um setor cafeeiro sustentável, que ofereça boas condições de vida para agricultores e trabalhadores e assegure sua permanência na atividade enquanto protege os recursos naturais. Abordagem coordenada com foco no produtor. Interação com o setor café global para trabalho conjunto rumo a alternativas, minimização de riscos para 2030. Envolver todos os elos da cadeia produtiva de cada país e inclusive os fabricantes de defensivos. Colocar foco também na tecnologia de aplicação e não somente em banimentos. Promover respostas científicas e claras para soluções na área de proteção de cultivos em café, representatividade de cada setor como um todo (3 brasileiros no grupo de 12 pessoas: 1 produção, 1 da indústria e 1 de certificação). Promover uma lista de banimento e proibições justa, correta e flexível e em tempo para mudanças benéficas com prisma de reduções de custo, menor risco e melhoria do Sistema solo/planta/ ambiente no Sistema de produção”.

Sobre a lista em processo de eliminação da GCP apresentou:

“O uso de pesticidas na Lista de Eliminação Faseada ou reduzido através do uso do Manejo Integrado de Pragas e descontinuado até 2030, se possível. Isso inclui pesticidas que são classificados por agências reguladoras nacionais e internacionais nas categorias de: Perigo crônico, incluindo, provável cancerígenos, desreguladores endócrinos conhecidos, toxinas reprodutivas ou mutagênicos conhecidos, Perigos ambientais (altamente tóxicos para abelhas, OU dois ou mais de: bioacumulação, persistência, alta toxicidade para organismos aquáticos)”.

Sampaio elogiou o encontro promovido pelo CNC. “Na história dessas discussões nunca houve esse momento (diálogo), é a primeira vez, isso aqui (ciclo) é histórico. É muito importante a gente dialogar e ter uma posição única, séria, científica, justa e merecida por nosso país. A gente precisa melhorar aqui. Eu rogo para que a gente olhe para o pequeno produtor que não tem culpa de não usar EPI, ele acha que não faz mal. Talvez o filho ou a esposa possam convencê-lo. Essa mudança comportamental é cara e demorada”, analisou. Para ele, “todos queremos mudar, mas a mudança é longa”. Sampaio sugeriu a criação de um Grupo de Trabalho Permanente para dialogar sobre a restrição dos pesticidas.

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Eduardo Heron Santos, Diretor Técnico do Cecafé representando também ABIC/ABICS

Palestra: Impacto que pode comprometer o setor da indústria de torrado e moído, solúvel e exportação

Eduardo Heron fez um panorama do impacto da LMR nas exportações de café e como o limite atua.

“Para serem importados ou comercializados em um mercado, os produtos agrícolas devem cumprir com LMRs estabelecidos/aceitos pelos órgãos competentes locais; Uma vez que cada limite é específico para uma combinação de pesticida/cultura, existem dezenas de milhares de LMRs no mundo todo, que mudam periodicamente, devido às constantes revisões pelos governos; Se não houver LMR definido para um par de pesticida/cultura específico, qualquer produto agrícola que apresente resíduos desse pesticida não pode ser importado ou comercializado no mercado. O mesmo ocorre, se o resíduo estiver acima do LMR; Impactos da não conformidade: destruição ou redirecionamento da carga; aumento de custos e perda de receita de exportações”.

Heron disse ainda que 72% dos cafés brasileiros se destinam à países com controle de LMR e apontou a parceria como sendo o caminho da solução dos possíveis embargos. “Sem parcerias não vamos conseguir dar continuidade ao case de sucesso que é o café brasileiro”.

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Maciel Silva, Coordenador de Produção Agrícola da CNA

Palestra: A restrição de pesticidas na cultura do café

Maciel fez uma análise completa do impacto para os defensivos com registro para a cultura do café. O gráfico a seguir demonstra:

Apresentou ainda números que demonstram a dependência do país com relação a produtos sem substitutos à altura, e o impacto percentual que os banimentos podem gerar na cafeicultura.

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Carlos Goulart, Diretor do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas (DSV/SDA/MAPA).

O Diretor Carlos Goulart fez uma explanação do que tem encontrado no Brasil e no mundo com relação aos banimentos propostos ao agro nacional. “A agricultura brasileira entrou tarde no palco da discussão da imagem do agro. Entramos tarde no processo. A gente tem uma imagem não a construir, mas a recuperar. O Brasil é um país em desenvolvimento que disputa a liderança global de alimentos com as duas maiores economias do mundo: Estado Unidos e China. Isso não ocorre porque a gente tem sorte. Isso ocorre porque a gente tem a Embrapa, pois é absoluta adoção de ciência, o tempo inteiro. O brasileiro é ávido por inovação e o agricultor brasileiro não é diferente. A gente pecou ao longo de décadas de cuidar da imagem do agro. A gente precisa, isso é inequívoco, faz parte dessa discussão que a gente está tendo aqui. A imagem da agricultura no exterior é ‘vilanizada’. A gente perdeu a guerra dentro do Brasil. Uma coisa é o concorrente criticar você, outra coisa é quando jornalistas brasileiros, para veículos brasileiros, compram discurso do europeu. Isso significa que você já perdeu a guerra dentro da trincheira do Brasil. A gente precisa voltar a convencer o brasileiro que o que a gente faz é sério, e depois vender para os outros. Não é fácil, vamos levar muitos anos para recuperar essa imagem. O uso muito sagaz das entidades certificadoras privadas para controlar mercado. Isso ficou muito evidente e causou um desconforto muito sério na convenção (Roterdã, adotada em 1998, em vigor desde 2004 e atualizada em 2015) porque vários países falaram: mas a convenção de Roterdã não é de banimento de molécula. Mas é a convenção que mais bane molécula. As certificadoras, quase todas europeias querem pagar prêmios por uma produção mais sustentável, usam o anexo III da convenção de Roterdã, até a FAO usa isso. O Brasil precisa discutir que a União Europeia não vai mudar de posição. Para eles, a segurança alimentar não é um problema. Uma das linhas de ataque que precisamos insistir é encapsular essas decisões na União Europeia, que é um problema do café porque muita parte do café vai pra lá”, analisou.

Goulart disse ainda que um sistema de registro (Mapa, Anvisa, Ibama) mais célere deve ser o foco para trazer inovação e para que moléculas mais antigas sejam abandonadas. Lembrou também do banimento do Endolsuflan sem um substituto e ressaltou que não se pode se opor às reavaliações “porque são inescapáveis”. E finalizou “Devemos humanizar a nossa comunicação. Perde quem cansar”.

Sílvio Farnese, Diretor do Departamento de Comercialização e Abastecimento da Secretaria de Política Agrícola (DCA/SPA/MAPA).

Sílvio Farnese elogiou o trabalho realizado pelas entidades cafeeiras e analisou o momento. “Tudo isso é um cenário que cada vez mais vamos ter que enfrentar. Consumidores cada vez mais exigentes. É demorado, não é um trabalho do dia para a noite. Mas temos que ser rápidos para que, daqui a pouco, o padrão mundial não seja o padrão europeu. Aí todos os outros compradores passam a fazer uma exigência similar que é um cenário que nós não temos muita facilidade de atender a curto prazo. Esse é o esforço que estamos fazendo”.

Silas Brasileiro, Presidente do Conselho Nacional do Café.

Finalizando, Silas Brasileiro elogiou a participação de todos e classificou como histórico o 1º Ciclo de Diálogo da Produção Sustentável. “Foi extraordinário o ciclo de debates. A presença dos secretários e diretores do Mapa, do presidente da OCB, dos representantes da Anvisa e Ibama, dos membros do Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), dos presidentes das cooperativas, da indústria, além de praticamente todos os setores da cadeia cafeeira deixou clara a importância da criação de um grupo de trabalho. Vamos levar a ideia ao nosso Conselho Diretor e, se aprovado, faremos os encaminhamentos necessários para a resolução dessas restrições. Desse encontro realizado está sendo elaborado um documento que vai nortear os trabalhos daqui para frente. Estamos certos de que colheremos excelentes frutos desse ciclo. Além do princípio da sustentabilidade, todos os segmentos do café brasileiro estão engajados em atender às normas sanitárias e aos limites máximos de resíduos, estabelecidos pelos governos nacional e internacional, amparados por estudos técnicos desenvolvidos pela comunidade científica. Tal engajamento vem permitindo ao Brasil atender aos mais diversos e exigentes mercados, levando, anualmente, o nosso café para mais de 122 destinos, além de manter abastecido o segundo maior consumidor mundial de café. Tudo isso dentro da oportunidade e do princípio da busca através da interlocução com os atores envolvidos no encaminhamento positivo para a nossa cafeicultura, encontrando soluções, não no propósito de contestação, mas sim, da solução”.

Fonte: Assessoria de Comunicação CNC |Alexandre Costa – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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