Maravilhosa. É a história de Patrocínio. Com registros reais, chega-se, com excelente identificação ao Distrito de Patrocínio, quando pertencia ao município de Araxá. Dez anos antes de Patrocínio se emancipar em 1842. Portanto, há 190 anos. É um levantamento populacional, por casa, realizado pela Província, no período 1832-1835. As casas foram numeradas, de 1 a 240. Os moradores, escravos ou não, nominados, casa por casa. Nesse incrível censo (o termo censo era desconhecido), observa-se a residência da mais famosa família patrocinense, a Afonso. Onde a saga do Índio Afonso e de seus filhos começou. Uma saga de quase oitenta anos. Também é registrado, dentre os quase 2.000 moradores, a liderança que “proclamou” a independência de Patrocínio em 1842. É fantástico. As fontes são o Arquivo Público Mineiro e a UFMG. Daí, 100% dados verdadeiros.

COMO ERA PATROCÍNIO EM 1832 – Integrante da Freguesia de São Domingos do Araxá, que estava se emancipando de Paracatu (até então, Araxá e Patrocínio pertenciam a Paracatu). A sede da comarca em Paracatu, denominada Comarca do Rio Paracatu. Patrocínio era um dos 14 distritos de Araxá (Coromandel, Ibiá, Carmo, Santana e Rio Paranaíba, todos com nomes primitivos, também eram distritos de Araxá). Casa era chamada de “Fogo” (por causa da chaminé, do fogão a lenha). Os 240 fogos, em volta da Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio, desde o “Corgo Rangel” (é heresia dizer que Patrocínio começou onde é a Praça Honorato Borges).

FOGO” DO PRIMEIRO PREFEITO – A casa 195 pertencia a Francisco Martins Mundim. Segundo o Levantamento Populacional, Mundim era de cor branca, 31 anos, casado com Maria Custodia, branca, 16 anos (dois anos de casamento, pois ela casou-se com 14 anos) e o (primeiro) filho José. Todos livres. Havia mais três escravos africanos pretos (termo do Levantamento), um crioulo (Domingos, 18 anos), um pardo (Venâncio, 40 anos) e outros três jovens sem informações. Total de onze pessoas no “Fogo” (três da família Mundim e oito serviçais). Mundim dedicava-se à lavoura. Quando da emancipação de Patrocínio ganhou do Império o título de capitão.

CASA DO INTELECTUAL – O “fogo” 203 pertencia à Damazo José da Silva, branco, 45 anos, casado, livre, e também, fazendeiro. Damazo foi um dos oito primeiros vereadores na história de Patrocínio. Na Câmara Municipal era sete vereadores e um vereador assumia o cargo de agente executivo (prefeito). No caso, Francisco Martins Mundim. À época, Damazo José era o destaque. Pois, além da liderança política, exerceu o papel de juiz, delegado, vereador e intelectual. Tornou-se a maior força da emancipação de Patrocínio.

E NO “FOGO” DE DAMAZO? – Havia 24 pessoas na casa 203. Além de Damazo, Anna (esposa), Matheus (filho, 22 anos), Manoel (filho, 21 anos), Thereza (filha, 18 anos), e mais quatro filhos menores. E 14 serviçais escravos.

FOGO” Nº 1 ERA DO PADRE – O primeiro vigário da primeira paróquia N. S do Patrocínio (1839), José Ferreira Estrella, branco, 47 anos, residia com dois escravos africanos (João e Benedicto) na casa 1, no quarteirão 1. Nesse tempo (1832), a igreja patrocinense pertencia a Araxá.

FOGO” SÓ DE MORENOS – Havia casas sem a presença de moradores de cor branca. Por exemplo, a de nº 182 moravam a viúva Francisca Rosa de Oliveira, parda, 50 anos, e dois filhos pardos (Francisco e Claudina). E três jovens escravos africanos (Domingos, Antônio e Maria). O “fogo” 149 tinha onze moradores pardos. A cor parda é originada na mistura de raças, ou seja, mestiço.

CASA DE HERÓIS OU BANDIDOS – O “fogo” 207, quarteirão 0 (zero), moravam 17 pessoas. O primeiro com 26 anos, pardo, casado, dedicado à lavoura, era o Vicente Affonso. O segundo, com 28 anos, pardo, casado, dedicado também à lavoura, era Clemente Affonso. Mais José Affonso (6 anos), Vicente Affonso (12 anos), Francisco Affonso (15 anos), e Gabriel José (6 anos). Dependendo da interpretação histórica, um desses é o fenômeno Índio Afonso. Os demais moradores: Manoel Gregório (29 anos), Josefa (44 anos), Claudina (6 anos), Anna (14 anos), e, mais cinco mulheres jovens e uma idosa. Todos pardos. Trinta anos depois (por volta de 1862), Bernardo Guimarães descreveu o valente Índio Afonso, época em que o conheceu.

PROFISSÕES CURIOSAS – O Levantamento registrou fiadeira, cosedeira, rendeira, alfaiate e costureira. Era comum o ferreiro, ourives, vendeiro, pedreiro, carpinteiro, carreiro, doceira, seleiro, carapina, latoeiro e jornaleiro (não confundir com jornalista).

QUEM EMPREGAVA MAIS – A lavoura (fazendas) gerava maior ocupação (propriedade e trabalho) junto, às vezes, com criação (de animais). Negociante (negócios em geral) também propiciava bastante ocupação para os moradores.

TINHA MÉDICO EM 1832? – Não, não havia médicos nessa região. Porém, no “fogo” nº 70 morava o cirurgião José Vieira de Paiva, pardo, 64 anos. Dúvida: que tipo de cirurgião seria esse? Autodidata? Já no “fogo” nº 27 tinha escola, com Gabriel Caldas. Portanto, a escola era na residência (“fogo”). Não havia, conceitualmente, nem escola, nem médico, nem farmacêutico, nessa ocasião.


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